A declaração foi dada durante a primeira atividade do encontro “Diálogos Rumo ao Fórum Social Mundial da Tunísia”, promovido pelo Grupo de Apoio e Reflexão ao Processo do Fórum Social Mundial (Grap), na noite de terça-feira (29). O evento foi uma mostra das discussões que ocorrerão durante o FSM 2013, que será em Tunes, na Tunísia, entre 26 e 30 de março.
“Quer dizer que antes disso, estávamos todos inertes, dormindo, sem nos mobilizarmos?”, finalizou Hamouda que, antes disso, já havia iniciado sua fala abordando justamente o início das mobilizações, nas décadas de 1980 e 1990.
Ao contrário do que diz a mídia hegemônica, a revolução não começou de um dia para o outro, na internet, nas redes sociais. Mas sim a partir da união de diversas frentes de luta na Tunísia, como de direitos humanos, civis e econômicos, impulsionados pelo movimento sindical regional, mais acostumado a realizar atos públicos.
De acordo com o militante do Marrocos, que integra o Comitê Local do FSM 2013, não é estranho todo o movimento ter começado justamente na Tunísia: “A Tunísia tem tradição de ser moderna, foi o primeiro país árabe a proibir a poligamia, dando poderes às mulheres”.
Halima Juini, de uma organização de mulheres da Tunísia, atestou a luta pela igualdade de gênero durante seu depoimento, ao falar sobre um grupo de trabalhadoras de uma fábrica de tecidos que confrontaram seus patrões ao verem seus postos de trabalho ameaçados com o fechamento eminente do local. Para ela, a participação das mulheres deu força a luta no mundo do trabalho e que a mobilização maior se deu pela adesão da juventude.
“No início da revolução a união do movimento feminista com o movimento estudantil foi fundamental. A luta deu coragem a essas mulheres em denunciar as violências sofridas por elas. Muitas vezes tratadas como prostitutas, julgadas moralmente por um conservadorismo que humilha as mulheres”, explicou Halima, lembrando as dificuldades da cultura e religião local: “O movimento de mulheres da Tunísia tem grandes desafios, considerando que no país mulheres perseguem mulheres”.
Halima Juini concluiu sua intervenção afirmando que a mobilização feminista fez com que todas refletissem sobre sua condição de mulher, às questões de saúde, integrando-a à sociedade, à democracia social, e passaram a lutar não somente por sua causa própria, mas também pela liberdade de todos.
O tunisiano Bem Amor Romdhane, também integrante do Comitê Local do FSM 2013, fez questão de começar seu testemunho afirmando que não acredita que a revolução tenha ocorrido nas redes sociais, embora tenha frisado que a internet facilitou o acesso à comunicação.
“A revolução foi fruto da coalizão dos movimentos de mulheres, estudantil, sindical e outros misturados aos blogueiros que quebravam códigos sociais criticando o governo na internet, nos blogues. E alguns pagaram um preço alto”, destacou Bem Amor, referindo-se ao policiamento na internet com o objetivo de filtrar e censurar as informações.
Segundo o ativista da Tunísia, diversos sites e blogues foram bloqueados, cortando a informação de fora pra dentro e de dentro para fora do país: “Nos primeiros dias da revolução tivemos os blogueiros unidos, criando seus canais de comunicação, usando simplesmente seus aparelhos celulares para enviar fotos do que estava acontecendo a sua frente. Com isso, conquistaram o direito à informação, mostraram que ela não pode ser propriedade de poucos”.
Como Hamouda Soubhi, os demais ativistas presentes também reforçaram a luta antiga do povo árabe e as mobilizações que não param de crescer em todos os países daquela região e afirmaram que lutas históricas só serão vencidas com a mobilização de todos.
“A independência da Palestina só virá quando outros países árabes a conquistarem. Há mais de 65 anos os palestinos lutam pela autodeterminação do seu povo e pelo direito de retorno de seus milhares de refugiados”, declarou o palestino Yousef K. Y. Habache, um dos milhares de exilados da Palestina que ainda não teve a chance de conhecer seu filho nascido há 4 meses.
O FSM da Tunísia será uma oportunidade para não somente conhecer melhor as bandeiras de luta do mundo árabe, mas também contribuir com o crescimento e fortalecimento das organizações civis locais, integrando-os às lutas globais para que não mais pareça somente mais uma primavera.