O despertar para as causas humanitárias começa em sua infância, desde seus primeiros anos no pequeno vilarejo de Qunu e ao crescer quando começou a assimilar as mensagens dos mais velhos sobre as guerras de resistência de seus antepassados. Aquelas histórias ganhavam sentido para aquela criança, que forjava o modelo de concepção de qualidade de vida aos poucos. Mandela também começou desde cedo a lidar com os processos de perda, que o tornaram mais forte frente às adversidades. Seu pai faleceu, quando tinha nove anos, e aí foi adotado pelo líder do povo thembu, Jongintaba Dalindyebo, após ser entregue por sua mãe ao monarca, pois ela não tinha condições de criá-lo.
A criança virou adolescente e adulto, estudou Direito, na década de 50, e estruturou seu conhecimento acadêmico junto ao de cidadão. No início, sua revolta era grande pelo quadro de injustiça instalado em seu país, e acreditava na luta armada, principalmente quando 69 pessoas desarmadas foram mortas, quando se manifestavam em Sharpeville contra as leis de passe, em março de 1960, que obrigava a população negra a portar um cartão que continha os locais onde era permitido circular.
Mandela vivia na clandestinidade e se transformou em cozinheiro, jardineiro e motorista. Como ativista político do Congresso Nacional Africano (CNA) foi condenado em 1964 à prisão perpétua pelo regime do apartheid, acusado de subversivo e de sabotagem ao governo em vigor, ao lado de mais sete acusados. Durante esse período de detenção, foi privado de tantos outros direitos, como o de ir aos funerais respectivamente de sua mãe e de um de seus filhos, nos anos de 68 e 69. Ao mesmo tempo ficaria afastado por quase três décadas de sua família, durante o período que ficou confinado em três prisões.
Mas os 27 anos de reclusão não o tornaram mais duro, com ódio ou sentimento de vingança. De certa forma esses momentos de privação forjaram nele o perfil que o tornou um grande exemplo à humanidade. Apesar de ter pelo menos três vezes a chance de ser libertado antes do cumprimento desse período, ele não aceitou, enquanto não fosse instituído o fim do regime e de proibição dos direitos do CNA, como também não fossem libertados os outros presos políticos.
No ano de 1990, quando é finalmente libertado, sai com um sorriso no rosto e as mãos levantadas, como um guerreiro que ainda teria muito a fazer. É recepcionado por uma multidão ávida por lutar por novos tempos na África do Sul. Já era um líder nato, que começou a viajar pelo mundo levando sua mensagem, inclusive, no âmbito da ONU, quando se torna o primeiro presidente eleito negro de seu país, em 1994 onde governa até 1999.
“Lutei contra a dominação branca, lutei contra a dominação negra. Eu estimo o ideal de uma sociedade democrática e livre na qual todas as pessoas convivam em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal que espero viver e alcançar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer”. Essa é mais uma mensagem de Mandela que cala fundo em sua trajetória.
Um homem carismático que conseguiu conquistar o respeito em todo o planeta foi chamado de “tatá” (pai), de “klulu” (grandioso) e principalmente de Madiba, nome do clã a que pertenceu. Cidadãos e cidadãs de todas as gerações hoje o homenageiam com esse sentido de gratidão. Talvez uma região que mais represente o esforço com o qual defendeu seu ideal seja Soweto, onde 99% de sua população é negra e sofreu durante décadas a pressão da segregação racial. Até hoje o ano de 1976 é marcado na história, devido aos resultados violentos, quando estudantes foram atacados por policiais durante manifestação que faziam contra a inferioridade das escolas onde estudavam negros na África do Sul.
Os anos se passaram e depois de ter saído da posição de estadista em 99, Mandela continuou a ser ativista pela igualdade racial no mundo e assumiu mais uma bandeira: de promover a defesa da dignidade e de tratamento a pessoas com AIDS.
“O que conta na vida não é o fato de termos vivido. É o que temos feito de diferença para a vida dos outros que irá determinar o significado da vida que levamos”. Essa filosofia o líder sul-africano levou até o seu último dia de existência aqui na Terra. Já debilitado resistiu nos últimos meses o mais que pôde, após contrair pneumonia e posteriormente uma infecção pulmonar. E o que o tornou um símbolo de cidadão do mundo é que em nenhum momento a sua notoriedade fez perder sua humildade. Ele nunca clamou por ser ‘santo’ mas um homem que tinha um ideal, o qual defendeu até o fim.
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08/07/2010 – Mandela: 92 anos de universalidade
*Blog Cidadãos do Mundo – Sucena Shkrada Resk