“Ô abre alas que as mulheres vão passar,
com essa marcha muita coisa vai mudar,
Nosso lugar não é no forno ou no fogão,
a nossa chama é o fogo da revolução”
Ao som da Fuzarca Feminista, batucada da Marcha Mundial de Mulheres que abria a XI Caminhada de Lésbicas, Bissexuais e Feministas, em torno de 2 mil pessoas caminharam do MASP até a Praça Roosevelt na tarde do sábado, dia 1º de junho, na tradicional manifestação de mulheres que precede a Parada LGBT. O segmento quer mais visibilidade e direitos, menos machismo, violência e preconceito. Diferentemente da Parada LGBT, a Caminhada não é animada por trios elétricos e adota um discurso mais combativo, a favor da autonomia da mulher e da laicidade do Estado, contra a opressão heteronormativa.
“Se o corpo… se o corpo… se o corpo é da mulher
Ela dá prá quem quiser, inclusive outra mulher!”
Com o tema “O Estado é laico! Construindo Direitos, desconstruindo preconceitos: Basta de Lesbofobia!”, a LBL – Liga Brasileira de Lésbicas coordenou a organização da Caminhada. “Somente com a real laicidade do Estado, vamos assegurar políticas públicas, sem a interferência de felicianos, bolsonaros, malafaias e tantos outros preconceituosos que não respeitam a diversidade sexual”, falou Yasmim Nóbrega, uma das coordenadoras. “Queremos ajudar a acabar com a violência a que somos submetidas diariamente pela lesbofobia, em todos os espaços públicos e privados, invisibilizando nossas existências, menosprezando nossas dores, violentando nossas integridades!”.
“A violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer”
Se é verdade que o segmento LGBT tem tido algumas conquistas legais, também é fato que a violência tem aumentado e outras manifestações de homo e lesbofobia também. Para as lideranças desse movimento, “o cenário político e social brasileiro nos mostra um quadro de ameaças ao Estado Laico e à existência plena de lésbicas e bissexuais, ameaçadas por várias formas de violências lesbofóbicas, como o “estupro-corretivo”, o avanço de bancadas fundamentalistas no Congresso Nacional e mais intolerância à diversidade como um todo, em nossa sociedade”.
“se o Papa fosse mulher, o aborto seria legal…
Seria legal e seguro, seria legal e seguro”
Precedendo a Caminhada, a LBL também organizou com várias parceiras uma série de rodas de conversa e oficinas na União de Mulheres, entre a quarta e a sexta-feira. Do ponto de vista feminista, vários temas de interesse de lésbicas e bissexuais e da luta pela diversidade sexual foram debatidos por representantes de várias regiões do país, na perspectiva de empoderamento e autonomia das mulheres.
“Sou feminista, não abro mão… da liberdade do meu tesão”
Com muita alegria e irreverência a Caminhada parou transeuntes, lotou sacadas, principalmente na Rua Augusta. Parou para protestos em frente a lugares emblemáticos para a lesbofobia, como o teatro Comedians, onde atuam apresentadores desse tipo de comédia conhecida como “stand up”, dos quais alguns foram acusados de machistas e homofóbicos. Na Praça Roosevelt, destino final da Caminhada, o encerramento da manifestação tornou o local uma grande festa onde as DJs Barbara Deister e DjLix tocaram intercalando com as bandas Anti Corpos, Joana Flor, Luana Hansen, Santa Claus e Dona Selma vai à Feira, botando todo mundo prá dançar e celebrar.
Sobre a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL)
A Liga Brasileira de Lésbicas/LBL é uma articulação política de mulheres lésbicas e bissexuais pela garantia efetiva da livre orientação e expressão afetivosexual. Tem como princípios o pluralismo, a autonomia, autodeterminação e liberdade, a democracia, a solidariedade; a transparência; a horizontalidade; a liberdade de orientação e expressão afetivo-sexual; a defesa do Estado laico; a defesa dos princípios feministas e suas bandeiras; a visibilidade lésbica; uma posição antiracista e anticapitalista; e combate a lesbo-homofobia. Como expressão do movimento social, a LBL se constitui como espaço autônomo e não institucional de articulação política. Criada em janeiro de 2003 durante o Fórum Social Mundial, a LBL tem atuado para alcançar a sociedade desejada por todas. Uma sociedade livre de discriminações, onde nenhuma forma de amor seja passível de preconceito ou discriminação. Em São Paulo, a LBL luta hoje para garantir efetividade nas políticas públicas, reconhecendo as especificidades lésbicas e bissexuais e sua cidadania plena.
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