Conheci essa expressão, ao ler o texto “Os vampiros da realidade só matam pobres – Para Nilce Mendoza Claure”, escrito por Eliane Brum, no livro “Dignidade!”, pela editora Leya, no qual nove escritores falam das vivências dos Médicos sem Fronteiras…
As cenas descritas a cada parágrafo me vinham à mente e reproduziam em coro, uma súplica de tantas famílias anônimas que sofrem com esse ciclo de contágio e desesperança de vida – um alerta epidemiológico – na categoria de doenças negligenciadas – que precisa ganhar mais visibilidade. A situação é tão grave, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) deu início em 2007, a uma iniciativa global de combate à doença (Global Network for Chagas Elimination – GNChE), tendo em vista que mundialmente, mais de 8 milhões de pessoas estão infectadas hoje.
Por mais que haja investimentos em pesquisas, também na abrangência da Organização Panamericana de Saúde (OPAS) , nos países andinos, amazônicos e na América Central, o que se observa é uma ineficiência de gestão, que está ligada à infraestrutura. No Brasil, o maior número de casos é registrado nos estados do Amapá e Pará e está associado ao processo do açaí, segundo o Ministério da Saúde (MS).
O potencial endêmico é ainda maior porque pode haver contágio por meio de transfusão de sangue de uma pessoa infectada. Até 30% dos pacientes que são tratados podem desenvolver doenças cardíacas e intestinais e desse total, cerca de 20% morrem. De acordo com o 2º Relatório sobre Doenças Tropicais Negligenciadas publicado pela OMS, neste ano, a meta é que até 2020 haja a expansão necessária do acesso a medicamentos para o tratamento da doença, entre outras.
O principal caminho para diminuir a incidência de casos é, portanto, a prevenção, que começa pela manutenção de higiene na manipulação de alimentos principalmente in natura e pela utilização de mosquiteiros, telas metálicas e repelentes, entre outras medidas. Segundo recomendação do MS, ao encontrar um barbeiro, o procedimento deve ser o seguinte:
– Capturá-lo, sem tocar as mãos no mesmo, e colocá-lo em um vidro. No recipiente, deve constar o nome da pessoa que o encontrou, telefone e endereço. O material deve ser entregue à Vigilância Ambiental do município.
Estar no século XXI e se deparar com tanto sofrimento causado pelo ciclo de uma doença que é “alimentada”, há várias gerações, principalmente pela falta de cuidado humano, nos leva ao questionamento sobre o que é mais importante quando se almeja o desenvolvimento. (SSR)
*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk