E de onde vêm as respostas mais concretas no campo das negociações? Do grupo dos 48 países mais pobres do planeta (a maior parte africanos e países insulares), por meio das iniciativas dos Programas Nacionais de Ação para Adaptação. Mas para que as propostas se tornem efetivas, precisam de recursos oriundos de apoio dos países mais desenvolvidos, que já haviam acordado em COPs anteriores à liberação de um Fundo com esse propósito, por volta de US$ 100 bi anuais. No entanto, até agora, praticamente US$ 8 bi foram aplicados com essa finalidade em 2013, conforme levantamento da ONG Oxfam. Com isso, as retóricas se perdem em papéis e burocracias. E mais um contexto de retrocesso ao encaminhamento a uma economia de baixo carbono é que para cada US$ 1 em apoio às energias renováveis, US$ 6 se destinam a combustíveis fósseis mundialmente.
Efeitos da tragédia
Os números ainda são imprecisos devido ao caos que os filipinos vivem. Estima-se, por enquanto, cerca de 4 mil mortos e oficialmente mais de 10 milhões de cidadãos afetados no país pelo tufão Haiyan, que implacável, com ventos de até 315 km/h, devastou várias regiões. Classificado na categoria 5 (mais grave), foi pela primeira vez registrado. Conforme anúncio da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de um milhão de pescadores e camponeses perderam seus meios de sobrevivência.
Segundo cientistas, o que se pode observar na série histórica é que esses eventos extremos estão aumentando a capacidade de destruição nos últimos 30 anos. A localização geográfica do país, no chamado Anel de Fogo do Pacífico, também o insere no hall das nações que sofrem com os efeitos dos terremotos, erupções vulcânicas, ciclones e tufões. Recentemente, em outubro deste ano, um terremoto de 7,2 graus atingiu a província filipina de Bohol e resultou na morte de 222 pessoas, em 976 feridos e em mais de 73 mil casas comprometidas, de acordo com o Governo.
A infraestrutura precária dificulta as ações humanitárias. Centenas de corpos estão sendo enterrados em valas comuns, milhares de pessoas ainda estão desaparecidas, outras necessitando de amparo médico. Hospitais foram comprometidos e a Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras, entre outras organizações, estão montando suas estruturas para o atendimento. Forças internacionais levam alimentos e medicamentos, que têm de ser jogados por aviões, porque o acesso terrestre está comprometido. O perigo de contaminação das águas é o que mais preocupa. O risco de doenças infectocontagiosas é iminente.
E como não lembrar do Tsunami em 2004, no Índico, e do terremoto no Haiti? Da tragédia na serra fluminense e no Morro do Bumba, no estado do Rio de Janeiro, das enchentes no Vale do Itajaí? Todos ainda tão presentes na vida das pessoas que sobreviveram às tragédias; muitas sequeladas física e mentalmente. E o que marca todas essas localidades, é a pobreza associada aos efeitos mais destruidores desses desastres naturais. As políticas públicas, por muitas vezes, não se dialogam. A fragilidade de sistemas de alerta ainda é grande em muitos locais, apesar de avanços em algumas regiões.
Diante de tanta vulnerabilidade e ineficácia, de maneira geral, da política global, o que chama a atenção sempre é a resiliência e a postura de milhares de cidadãos comuns, de representantes de organizações não-governamentais (ONGs) e das forças-tarefas internacionais envolvidas para reduzir ao máximo o sofrimento de quem sobreviveu. Grande parte é de voluntários, o que é importante salientar.
No contexto da era tecnológica, além do trabalho de campo árduo, há também ações de apoio digitais, que se somam no século XXI. Um fato interessante é a experiência de cerca de 700 voluntários que fazem o remapeamento das áreas afetadas pelo tufão para facilitar o resgate das vítimas e de corpos nas Filipinas. Para isso estão utilizando a plataforma OpenStreetMap.
Agora, no campo da política, ainda muito a alcançar e para se efetivar fora das salas climatizadas das conferências de negociações.
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*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk