A rede de televisão Telesur confirmou ontem que o avião que transportava o presidente Evo Morales para a Bolívia, de volta da viagem que fez à Russia, precisou mudar sua rota e pousar em Viena depois que França e Portugal emitiram uma proibição de que a aeronave cuzasse seu espaço aéreo. “Evo Morales está sequestrado na Europa”, disse o apresentador.
Enquanto esteve na Russia, Evo declarou em entrevista que poderia dar asilo ao agente norte-americano Edward Snowden, o que teria levantado suspeitas de que o avião presidencial estivesse conduzindo também a homem caçado pelos Estados Unidos. Evo foi indagado sobre o assunto pela imprensa devido a uma lista publicada pelo Wikileaks de 21 países que teriam sido solicitados a dar asilo a Snowden, a Bolívia entre eles.
O avião de Evo seguia com plano de vôo autorizado, quando em plena viagem foi proibido de cruzar o espaço aéreo dos dois países, seguindo então para um pouso de emergência em Viena, onde o presidente boliviano passou a noite.
Snowden foi preso em Moscou, em 23 de junho, acusado do vazamento de documentos secretos sobre os programas de vigilância norte-americanos. O ex-agente norte-americano Edward Snowden, da Agência de Segurança Nacional (NSA) divulgou que órgãos do governo monitoravam correios eletrônicos e chamadas telefônicas, dentro e fora dos Estados Unidos.
O jornal britânico The Guardian apontou ainda ontem o crescimento da popularidade do jovem agente e as possibilidade de que algum dos países consultados responda positivamente ao pedido, possivelmente na América Latina, com apoio da sociedade civil. Ou até que pessoas com dinheiro se cotizem para um vôo seguro de Snowden ao país que decida acolhê-lo.
O The Guardian menciona a petição no site da Casa Branca que reúne mais de 123 mil assinaturas pelo perdão a Snowden, considerado um herói e outras petições já somarim cerca de 1,3 milhões de adesões. O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, fez um chamamento à consciência mundial para que proteja esse jovem de 29 anos que é acusado de dizer a verdade.
O episódio envolvendo o vôo de Evo Morales pode significar um precedente sério de transgressão à diplomacia internacional, especialmente nas relações entre Europa e América Latina. O ministro das Relações Exteriores da Bolívia, David Choquehuanca, declarou que França e Portugal puseram em risco a vida do presidente. Ali Rodriguez Araque, presidente da Unasur, considerou o caso uma agressão à soberania boliviana.
Não sou criminoso, diz Evo
Foi “um erro histórico”, disse Evo nesta quarta-feira, após o plano de vôo ser modificado, incluindo pouso nas Ilhas Canárias e em Fortaleza, Brasil. “Não posso entender que digam que estou retido porque estava levando o senhor Edward Snowden” acrescentou, estranhando a suspeita já que “os Estados Unidos e quase todos os países da Europa têm serviços de inteligência e este senhor não é uma maleta ou uma mosca que eu posso colocar no avião e levar para a Bolívia”.
O impedimento ao seu vôo, que o segurou na Europa por mais quase 13 horas, é segundo ele “um pretexto para amedrontar, para intimidar, um pretexto para tentar calar a nossa luta contra as políticas econômicas de saque (…), de dominação e de intervenção”, disse, acrescentando que “nem a Bolívia nem o presidente Evo comentem crimes. Somos muito respeitosos com as leis internacionais”.