Loiras, brancas, magras com cabelos lisos e, na cabeça, o vínculo da beleza à felicidade. Qual é a imagem da mulher brasileira veiculada e produzida pelos meios de comunicação diariamente? Em entrevista ao Fórum Nacional pela Democratização (FNDC), a psicóloga e feminista Rachel Moreno, que em fevereiro lançou o livro “A imagem da mulher na mídia”, destaca que o monopólio dos meios de comunicação no país compromete a divulgação de outros pontos de vista que não seja os dos setores majoritários, normalmente conservadores e repetidores de estereótipos que hegemonizam uma visão social de mundo e diminuem as lutas dos movimentos sociais organizados, inclusive o das mulheres.
“A comunicação é uma luta das mulheres. Nos damos conta que, na verdade, os avanços feministas estão sendo retardados e há uma reprodução de preconceitos que só atrapalham as conquistas das mulheres no mundo e no Brasil. Para gente avançar, temos que ser retratadas devidamente em nossa diversidade e pluralidade e com as nossas demandas específicas”, explica Moreno, que atua no que também atua no Observatório da Mulher. O movimento feminista defende que, a produção e veiculação de conteúdos pela mídia dominante legitimam e naturalizam a discriminação, o machismo e a violência contra a mulher no Brasil.
A psicóloga explica que há um agravante na forma como a mídia retrata as mulheres, pois existe o interesse comercial no segmento. “No caso das mulheres, elas correspondem a 85% das decisões de consumo no país, então eles precisam dialogar conosco, não podem nos ignorar. Compramos desde fralda, a cuecas e cremes. Para você ter uma ideia, o Brasil é o terceiro consumidor mundial de cosméticos, e as mulheres brasileiras são aquelas com a maior diferença salarial em relação ao homem. Então eles nos bombardeiam com um ideal de beleza associado à felicidade. O ideal de ser jovem, branca, magra e de cabelo liso”.
Sobre a possibilidade da construção de uma mídia não machista, Moreno destaca que sim é possível, mas que a luta é difícil. As entidades representantes do movimento feminista atuam em conjunto com o movimento social e outras entidades da sociedade civil organizada em busca da democratização da comunicação no país. Participaram da construção e da elaboração das resoluções da I Conferência Nacional de Comunicação, realizada em 2009, que reuniu representantes do governo, da sociedade e do empresariado para debater a regulamentação do setor da comunicação no Brasil.
“Em um primeiro momento reagimos à publicidade, às músicas ofensivas, e, em um segundo momento, fizemos um trabalho conjunto em relação à imagem da mulher no rádio e na TV. Ajudamos a organizar a Confecom para criar um novo marco regulatório da comunicação para dar pluralidade e a diversidade de espaços para as perspectivas de gênero, classe, raça e orientação sexual. No entanto, tudo ficou parado. O MiniCom diz que não haverá tempo hábil para a discussão do projeto ainda neste governo. A sociedade discorda e por isso vamos construir e apresentar um projeto de lei de iniciativa popular para um novo marco regulatório. É possível avançar”.
Moreno destaca que o movimento reivindica o controle social da imagem da mulher na mídia: “A democratização do acesso à informação e da mídia deve estar a serviço das causas maiores, é uma demanda essencial e deve passar pelo controle social. Controle não é censura. É a garantia de que os acordos que forem feitos, de maneira consensual pela sociedade, sejam seguidos, e, caso não, tenham suas consequências”.
Fonte: FNDC
13 de março de 2013 - 10:57