A Terra vista do céu, e da terra

Estava hoje, fim de tarde lindo, na Avenida Paulista, adoro andar por lá, fui caminhando até o Masp. Tão falado na mídia dias atrás, que afirmava ter sido aquele espaço maravilhoso tomado por drogados e traficantes. Quatro dias atrás os grandes jornais noticiaram o fechamento da exposição que acontece por lá – “A Terra vista do Céu”, do fotógrafo francês, Yann Arthus-Bertrand – devido ao cheiro de maconha que pairava entre as obras enquanto visitadas. Não foi fechada, ainda bem, porque pude vê-la hoje.

Quanto às pessoas, vi o de sempre, apenas cenas de amor – namorados, hippies vendendo seu artesanato e rodas de jovens que lá no fundo formavam ondas de paz e amor. Qualquer um que freqüente a Paulista e goste de passear pelo Masp, sabe que a moçada que gosta de um baseado costuma se encontrar por ali. E sabe que estão filmando e chamando de traficante aquele cara que trouxe um presente para o amigo. Fui juntar-me a eles. Acho que devemos transformar em território livre o maior vão aberto da América Latina, um dos lugares mais emblemáticos desta megalópole, expressão da diversidade e da cultura contra hegemônica em São Paulo.

Afinal, por que o povo que gosta de álcool tem direito a tantas esquinas e calçadas?

A Terra pede socorro

Lugar de viagens e tantos outros devaneios, ideal para se mostrar aquelas maravilhosas fotografias aéreas de vários trechos do planeta. Lindas, emocionantes, assustadoras, avisadoras! Trabalho iniciado logo depois da ECO 92, a partir do impacto que causaram no fotógrafo as denúncias e a realidade do perigo que corria nosso planeta Terra.

A exposição pretende chamar a atenção para a situação do planeta, e apresenta também muitos dados em relação ao meio ambiente. A maioria das fotos grita a dor da natureza devastada, da vida violada, ainda que constituída também por uma humanidade criativa.

Ah! Não fossem os homens que fazem as guerras, as destruições, as sujeiras todas, entre seus pares, com os animais, os rios, os mares, as florestas, a terra… Ah! Não fosse essa parcela de seres também ditos humanos, que se acham superiores ou mais dignos que outros e não conseguem ter a sabedoria de perceber que somos todos interdependentes. Envenenando a natureza, movendo-a sem medir as conseqüências, sugando toda a riqueza de suas entranhas, estamos matando a nós mesmos, depois de nos termos transformado em medíocres aparências.

Brasileiros

É no ponto de ônibus que a realidade grita. De cara pela demora do tal serviço público a preços nada módicos. Mas esta demora é que me faz presenciar as cenas que confirmam a destruição da humanidade exposta naquelas fotos.

A mulher, suja e maltrapilha, que eu vi escolhendo entre os sacos de lixo do outro lado da rua, quando eu chegava ao Masp, estava agora ali, na área do ponto de ônibus. Ela utilizava os sacos de lixo e também uma lixeira arrancada da rua para demarcar seu território, garantir seu espaço em plena Avenida Paulista. Era um banco, um daqueles conjuntos de quatro assentos (já para tornar desconfortável quem precise dormir ali) que ficam nos pontos de ônibus daquela região, que ela ocupava com seus “pertences”. Ela batia os sacos no banco e gritava olhando para as pessoas à espera de ônibus. E limpava aquele espaço seu, ia catando bitucas e lixos que outros jogaram na calçada ou na guia daquele pedaço.

Fez ar de desconfiada quando um japonês puxando um carrinho de supermercado foi lá fuçar na lixeira mais próxima. O japonês, queimado de sol e com músculos bem definidos nos braços, malhados pelo trabalho, empurrava o carrinho lotado de latinhas de alumínio e outros recicláveis; colheu ali duas garrafas de plástico que logo amassou e ajeitou no meio das outras. E a nossa mulher, assim que ele saiu, foi lá e recolheu o que sobrara da lixeira. Afinal, ali era seu território.

As pessoas no ponto de ônibus pareciam nem notar tais cenas, entretidas com seus celulares ou outras pessoas. E o meu ônibus chegou.

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