A quem possa interessar: sobre a polêmica da vez, o Fora do Eixo

Aliás, acho lamentável que tanto quem ataca quanto quem defende, tem optado por adotar uma linha de exacerbação dos aspectos pontuais que ora geram a ideia de uma rede análoga a um pesadelo com grades de ferro, ora pintam em cor de rosa a experiência da vida em coletivo. Prefiro pensar que em algum ponto entre esses extremos, podemos tratar do fenômeno da organização em si, do que ela significa, e não do conjunto de seus dramas individuais.

Pois bem. Minha história junto ao FdE faz mais sentido se contada do final – porque o início não difere muito de mil outras histórias: apenas um rapaz latino-americano querendo viver o mundo da produção cultural para além do caráter estrito do mercado, lá pelos idos de 2009. Foi em dezembro do ano passado que, depois de um processo de longos meses de reflexão, tomei a decisão de comunicar meu afastamento da rede – e mais precisamente, da casa que eu compartilhava com outras cinco pessoas em Porto Alegre. O procedimento para comunicar meu desligamento de uma rotina de muito trabalho, viagens e reuniões inacabáveis (sim, no FdE, boa parte do seu tempo desperto é, ou ao menos era, ocupado por reuniões on line e off line) foi razoavelmente simples, muito embora doloroso por motivos pessoais. Sentamos na sala da casa de onde não faria sentido eu evaporar sem conversar com as pessoas; expus meus motivos, ouvi questionamentos, respondi os que me eram possíveis, me reservei o direito de silenciar sobre motivações de caráter íntimo. Ouvi votos de felicidade, senti o desapontamento de alguns no olhar, trocamos abraços sinceros e vim-me embora para Santa Maria, cidade de onde havia saído cerca de um ano e meio antes para encarar a empreitada de trabalhar e viver em Poa. Nunca fiz questão de alardear minha saída publicamente, justamente para evitar especulações ou figurar nas intrigas que naturalmente viriam a surgir, dado a curiosidade doentia sobre a vida alheia que vez ou outra pauta as rodas e redes sociais. Contei para os mais chegados, não menti quando alguém me perguntou; mas alarde, não vi motivo pra fazer. E da confusão e fragilidade emocionais comuns aos tempos de transição, fui aos poucos me reorganizando, reencontrando velhos hábitos e amigos, constituindo um novo – ou velho – modo de vida. Mesmo das atividades que precediam minha adesão ao FdE, me vi repentinamente deslocado. Já não fazia sentido, por exemplo, seguir associado ao Macondo Lugar, casa noturna que ajudei a fundar oito anos atrás. Uma vez que a gestão da casa havia passado por um processo de coletivização, e a mim já não interessava estar imerso em um estilo de vida coletiva, o rompimento se fez a atitude mais coerente a ser tomada. E assim procedemos, formalizando meu afastamento definitivo do quadro de sócios do Macondo, mediante aquisição das minhas cotas-proprietárias pelos demais administradores.

Dessa passagem da minha vida, o que poderia interessar ou contribuir para as discussões atuais? Acho que alguns pontos merecem ser sublinhados: desde que saí do FdE, rompi contato com praticamente todo mundo da rede, salvo raras e brevíssimas excessões. Não me tornei, no entanto, nenhum recluso, muito menos nos ambientes virtuais. Falo muito, opino muito, teço críticas e elogios no campo da política, da comunicação e da arte, me envolvo em campanhas orientado única e exclusivamente por minha vontade individual de participar dos debates contemporâneos. Nunca recebi mensagem dos gestores do FdE, entretanto, recomendando cautela ao assumir posições políticas em função da natural confusão que minha saída não divulgada poderia causar – e de fato causou. Critiquei abertamente interlocutores do FdE, fiz críticas que poderiam muito bem ser endereçadas a eles, e assim como não sofri assédio na ocasião de meu afastamento, também não o senti ao optar pelo dissenso. Se aconteceu com outros, como está sugerido em alguns relatos recentes, e isso não se tornou um debate aberto, me pergunto quais teriam sido os motivos do silêncio. Não há registro de “queima de arquivos” por parte do FdE, e a condição franzina da maioria dos meninos da rede não chega a inspirar receios quanto à violência física. Se a mim fosse recomendado o silêncio, eu teria respondido fazendo uso da minha liberdade de expressão – e não teria esperado nenhum segundo sequer para isso. Estranho que a enxurrada de depoimentos das supostas “vítimas” coincida com o momento de visibilidade global da Mídia Ninja (iniciativa que tem origem junto aos midialivristas do FdE); se isso não invalida o debate, como de fato não o faz, ao menos suscita questionamentos sérios sobre integridade e oportunismo por parte de quem efetua os ataques. Não há discurso descomprometido, e me intriga a motivação tardia dos que resolveram só agora falar.

Mas isso é só desconfiança minha, e portanto, vazia de valor porque carente de fundamentação. Melhor seria, talvez, aproveitar o gancho de algumas denúncias para ampliar o debate.

Sobre a Beatriz Seigner e sua malfadada experiência com o FdE: não a conheci pessoalmente, assim como não estive diretamente envolvido em nenhuma conversação com ela. Mas lembro de uma troca de e-mails que acompanhei como observador, que registrava sua indignação com o que ela classificava de “descaso” com a arte por parte dos integrantes do FdE. Segundo Beatriz, o fato de as pessoas ligadas à rede não consumirem bens culturais na mesma medida em que se envolviam com produção ou discussão sobre políticas públicas seria um atestado de miséria estética e intelectual, uma falha imperdoável na formação individual, uma opção intencional pela pobreza de espírito. Isso, essa leitura dela, dá margem para uma discussão pertinente, mas que não traz em si nenhuma novidade. A relação entre militância e fruição remonta, quem sabe, ao início do século passado, ou antes. Mas tem outros elementos a serem levados em conta. Particularmente, pertencendo à geração que pertenço (não sou um nativo da era digital; a maior parte das minhas leituras não se realiza na tela de um monitor), me causa estranhamento a rapidez vertiginosa com que se acessa hoje (via downloads de arquivos compartilhados ou streamings que não geram remuneração para o autor) vastas discotecas que são tão facilmente acumuláveis quando descartáveis. Sou mais habituado ao tempo dos discos de vinil e laser, seus rituais de eleição e sua atmosfera, seu tempo fora do tempo funcional. As trilhas sonoras da minha vida, elas não me arrebataram enquanto eu manipulava uma planilha no Google Docs, nem cabem na urgência do formato mp3. Mas isso não significa que eu ache plausível pautar a discussão sobre Cultura Digital à partir das minhas preferências ou caprichos. Quando o FdE faz a opção aparentemente etapista de primeiro fazer e depois aproveitar, eu não estou de pleno acordo. Mas consigo entender a provocação contida na frase “ler é perda de tempo”. Já ouvi, aliás, consideração semelhante por parte de intelectuais engajados em relação à ficção e poesia. Fiquei surpreso, mas entendi a opção como um gesto radical que descarta a leitura recreativa em nome do domínio das ferramentas conceituais de luta. Além disso, com os jovens do FdE provavelmente ocorra o que ocorre com uma geração inteira: sua forma de assimilar é outra, a simultaneidade se apresenta como o modo óbvio de lidar com os diversos campos de conhecimento, os suportes passivos (como livros e discos) estão desgastados perto do grau intenso de interação virtual, e sua atenção é difusa demais para ser suportada em uma página de cada vez, como exige a leitura tradicional. Se isso é bom ou ruim? Nem acho que possa ser avaliado em tais termos. Mas é diferente, intrigante. Abre novas possibilidades de formação, com os quais a educação formal não sabe ainda como lidar. Daí a dizer que é mais pobre, eu não diria; muito menos desautorizaria essas pessoas a debater cultura dessa nova perspectiva. Assim, no campo simbólico, eu prefiro ler na reclamação da Beatriz mais um desconforto dela frente ao modo irreverente com que as novas gerações se colocam frente à ideia de cultura, do que propriamente uma denúncia de “traição à arte”. Porque se sua equação for simplista a ponto de dividir o mundo entre analfabetos e ilustrados culturais, entre alta e baixa cultura, estaríamos falando de uma artista nos moldes aristocráticos, indissociável dos milhares de pedantes que ainda tratam de arte como tema para espacialistas. E imagino que a Beatriz, sendo a artista-pesquisadora que é, não deve querer ser considerada um deles.

Ainda quanto às expectativas frustradas expressas pela Beatriz em sua carta, percebo ali o descontentamento habitual de quem produz cinema, contando com parcos recursos e boas ideias, e sofre com o constante risco do vácuo, do produto visto por poucos e logo engavetado, ou perdido em meio aos ruidosos canais virtuais, onde a tarefa de se separar o joio do trigo é sensivelmente mais desafiadora. Mas é um discurso de autoralidade, por si só discutível, como tudo o é, nesses tempos de ressignificação. Ela viu no FdE a oportunidade de fazer decolar seu filme. Quem sabe uma fala mais apaixonada tenha despertado nela o vislumbre de uma fórmula alternativa e supostamente infalível de sucesso; mas o projeto, seja pelo motivo que for, não foi levado adiante. Imagino o tamanho da decepção, mas não consigo, sinceramente, ver nesse naufrágio nenhum indício de crime capital. Produtoras convencionais concebem e engavetam projetos com a mesma naturalidade com que trocamos de roupa. Porque seria diferente com coletivos que dependem diretamente da mobilização de pequenas células e da incerteza orçamentária para viabilizar suas ideias? O que não entendo – e isso não passa por deslegitimar a Beatriz como uma interlocutora importante em momento algum – é como e porque, à partir de uma insatisfação pontual de um autor em relação ao projeto que envolvia o seu filme, se constroi misteriosamente uma convergência entre colunistas da imprensa corporativa, articulistas partidários, teóricos radicais do “comum” e militantes ocasionais. Vocês conseguem perceber a contradição gritante implicada em, por exemplo, em defender o copyleft e reconhecer e exaltar o pixo e o remix como linguagens artísticas autênticas, e ao mesmo tempo, aderir e tomar como sua uma campanha essencialmente orientada pela noção de propriedade intelectual? Pois eu tenho lido arroubos de irracionalidade muito intrigantes, nesse sentido. Coisa típica de uma caça às bruxas, na qual o consenso sobre o acusado é mais importante que os diversos discursos que, mesmo contraditoriamente, o sentenciam.

Agora, se o que a Beatriz cobra no seu texto for verdade, sobre compromissos financeiros supostamente assumidos e não cumpridos, imagino eu que a solução é simples: que seja calculado e pago o que o Fora do Eixo deve à ela. Simples. Se em nenhum momento houve acordo quanto a um cachê desmonetarizado, se ela não se sentiu contemplada por trocas de serviço, se houve qualquer espécie de engodo ou calote, a dívida é vigente e tem que ser sanada. Se, no entanto, ela mudou de ideia somente um ano depois sobre o acordo firmado, fica como uma experiência de resultados aquém dos projetados, mas não distorcidos nem criminosos. Aliás, quanto ao filme da Beatriz, que não deveria ser eclipsado no debate aberto por ela: lembro que assisti quando houve a exibição em Porto Alegre e gostei bastante; se não me engano, aqui em Santa Maria, segundo o relato das pessoas que o projetaram, a exibição reuniu cerca de 100 pessoas, o que é um número considerável para qualquer um que conheça a realidade dos cineclubes. Ou seja, não me parece que tenha sido uma parceria totalmente infrutífera.

Já quanto ao texto da Laís, que importa no que diz respeito à organização interna do FdE e no modo de convívio entre os integrantes dos coletivos, vou buscar dar um relato que abrange apenas parcialmente a experiência da rede, mas que considero um ponto de vista importante, dado que fui morador da segunda Casa Fora do Eixo criada no país. Dividi o espaço com cinco outros moradores fixos e vários viventes ou hóspedes que passaram pela casa. Vi gente deslumbrada num primeiro momento que simplesmente percebeu que a vida coletiva não era o que esperava, ao menos ali, depois de poucos dias. Vi gente chegando desiludida com a vida universitária e aos poucos se aprimorando em linguagens como fotografia, edição, design gráfico. Vi gente se divertindo ao compartilhar as tarefas domésticas mais prosaicas, e brigando por motivos ordinário (embora isso não fosse regra). Vi gente satisfeita quando as coisas davam certo e desestimuladas quando davam errado; alguns, como eu, buscavam os velhos amigos ou a família quando achavam que o convívio estava saturado, viciado, ou se encontravam numa fase depressiva. Assim como seres humanos normais, entendem? Cheios de convicções e dúvidas, oscilações, companheirismo, divergências, mas nunca desprovidos do direito primordial de optar pela porta da rua. Sobre quase tudo, se conversava abertamente, numa tentativa de desmistificar tabus e crises pessoais. Se isso é escravidão, não saberia como definir qualquer outro ambiente de trabalho ou estudo. As opções, quando se está num coletivo, para mim seguem parecidas com as de outras situações da vida social, e por maior que seja o grau de autonomia, não há garantias dentro nem fora. Tudo depende da soma da sua disposição, sensibilidade e diversos outros fatores externos que não são determinados por uma simples escolha. Não fosse assim, estaríamos vivendo numa sociedade livre. E não é o caso do sistema capitalista, pelo que me parece.

Há casos de machismo no Fora do Eixo? Eu não diria que há casos, porque isso levaria a supor que existe algum ambiente social imune à essa tradição, onde já tivéssemos superado os séculos de patriarcado em nome de uma igualdade de condições, em que o machismo fosse tão somente um “tropeço”. Havia incidência e discussão. Havia, como deve haver ainda, laboratórios, oposições, falas e silêncios. No tempo em que morei na Casa Fora do Eixo em Poa, executei tarefas como a limpeza dos banheiros, ao mesmo tempo em que achei normal que as mulheres predominassem no revezamento na cozinha. Por preconceito ou costume (o que dá no mesmo, nesse caso), mas com a diferença que ali isso não estava naturalizado, não era uma prática blindada. Fui tão machista vivendo lá como tento não ser em qualquer outro lugar. Se agi, eventualmente, como se nós homens tivéssemos alguma atribuição exclusiva, e as mulheres idem, isso não foi tema proibido em reuniões de avaliação. Minha proposta de desconstruir o machismo em mim não é nenhuma garantia de “cura”; imagino que deve ser assim como todo homem que se propõe a encarar um processo parecido. O desafio de romper com os paradigmas sociais de opressão começa na escala das micro-relações, geralmente as menos perceptíveis. Assim, se até mesmo a Laís foi perceber, segundo ela mesma, que várias vezes protagonizou disputas movidas pelo egocentrismo, ela pode bem imaginar que o restante dos moradores não estaria livre desse tipo de atitude. Talvez eu encarasse o relato de forma distinta se nunca houvesse saído do ambiente familiar para viver em repúblicas estudantis, se não tivesse enfrentado o cotidiano de truncada administração que muitas vezes torna a lavagem da louça uma crise em potencial, ou a negociação dos quartos uma questão essencial para a privacidade. Mas tudo isso eu vivi antes do FdE, e não me causa estranhamento que um coletivo com organização interna eleve essas questões a um nível mais rigoroso, estabelecendo regras de convívio. Regras são discutíveis, claro. Mas não posso concordar, porque não testemunhei nada parecido, que a carga de trabalho das mulheres no FdE as coibisse do convívio social, ou que as relegasse a postos subterrâneos. Na casa onde morei, inclusive, as gestoras eram praticamente todas mulheres, com idêntico ou maior espaço de fala que os homens. Pelo que percebo em publicações nas redes sociais, segue sendo assim. E não foram poucas as vezes em as meninas, tanto quanto os meninos, largavam o que estavam fazendo para desestressar numa mesa de boteco.

Que o choque de uma vivência assim seja negativo para alguns, não tenho porque duvidar. Que tenha perturbado o equilíbrio psicológico da Laís, acredito também. Afinal, do pouco que conheço dela, através dos relatos que ela mesmo fez, percebo que se propôs a uma reviravolta grande na vida. Mas o exercício do livre-arbítrio está aí para garantir a nossa saúde, em caso do meio ser encarado como opressor. Foi o que ela fez, o que me parece uma atitude coerente com suas aflições. Só não entendo exatamente porque a insistência no tom proscritivo, como se nossos fracassos pessoais fossem indexadores das experiências alheias.

Mas enfim, me demorei mais do que gostaria na análise dos relatos que vieram à tona recentemente. Acho que movido pelo tom sensacionalista com que foram divulgados e até festejados, de maneira eufórica pelos mais obcecados, eu posso ter me contaminado pelo clima de “Fla x Flu”. Não acho que seja o caso de cair na cilada da polarização “bem versus mal”. Nem acho que o FdE, por ter sido a organização na qual militei num passado recente, esteja acima dos debates necessários. Mas desconfio muito de todo linchamento público cuja justificativa seja a “moralização”. Nisso, com todos os erros – coletivos ou individuais – que possam estar contidos na atuação do FdE, eu acho que há uma pressa estranha em classificar o coletivo como a “maçã podre” das organizações contemporâneas. Quando oriundas da direita, a vulgaridade das críticas não me surpreende: “máfia”, “cartel vermelho” e “petralhas” são infâmias recorrentes nas bocas de parte da grande imprensa; já algumas críticas que se pretendem à esquerda, surpreendem pela incongruência entre o que exigem e o que de fato praticam enquanto coletivos. Grupos de intelectuais formados por carreiristas acadêmicos e empresários convencionais, repentinamente, convertem-se em juízes de qualquer concessão, como se o lugar de sua fala fosse isento das contradições que condenam com tanta veemência.

A isso, ao espetáculo da carnificina que iguala humores antagônicos, eu prefiro o viés que disputa essas novas organizações pela esquerda, mas sem a paixão pela derrota. Antes de qualquer condenação sumária, eu quero é apostar que o Fora do Eixo vai assumir a responsabilidade histórica de estabelecer uma ética radical de transparência, criando canais de debate ainda mais densos sobre a relação financiamento e autonomia no Brasil. Eu quero mais é que as camadas retóricas que porventura possam obscurecer o funcionamento das moedas solidárias sejam amplamente aprofundadas, gerando materiais didáticos legíveis, de fácil replicação e adequação por parte de empreendimentos periféricos e colaborativos. Se o feminismo no FdE é incipiente, eu desejo mesmo é que a organização seja provocada a debater com as feministas clássicas e com as vadias contemporâneas os projetos de luta e emancipação feminina. Que o papel de uma rede como o FdE enquanto entidade de interesse público seja de fato hackeável, que toda tecnologia gerada pela rede seja posta a serviço dos movimentos sociais sem ônus nem acúmulo material ou simbólico para nenhum dos envolvidos. Que movimentos ainda precarizados tecnologicamente se apropriem e potencializem sua atuação à partir do compartilhamento de saberes. Que a Mídia Ninja seja lida como mais uma das experiências interessantes, e que seja canibalizada por outras mídias, menores, invisíveis, autônomas, para que no caso dos ninjas sucumbirem ao mercantilsmo da informação, outros tantos tentáculos sigam fazendo o contraponto nas ruas. Que uma liderança como Pablo Capilé (porque sim, Pablo é uma liderança e das mais instigantes) seja constantemente intimado a renunciar à tentação do poder cristalizado em nome de estar junto, mas nunca acima dos movimentos sociais.

Pra mim, se não for isso, é recuar pela direita; é como se decidíssimos nos retirar das ruas com medo das marchas serem cooptadas pelo inimigo, ao invés de disputá-las.

Basicamente, é isso que eu tinha pra dizer.

*Ah, sim, só mais um detalhe: você que se declarou chocado com as supostas “terríveis violações de direitos humanos” praticadas por integrantes do Fora do Eixo, mas adora fazer uma piada com a deformidade labial do Capilé, saiba que o inferno é mesmo cheio de contradições. Piadas são um tipo de discurso que naturalizam preconceitos; mulheres, negros e gays que o digam.

Imagem: Maurício Schneyder, em Macondo Coletivo/2010
http://macondocoletivo.wordpress.com/2010/02/05/grito-rock-santa-maria-4-dias-de-rock-artes-integradas/

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