Wangari Maathai: um exemplo a seguir

Foto: Falar e Pensar Angola

“Você não pode proteger o meio ambiente, a menos que capacite as pessoas, as informe e ajude a entender que esses recursos são próprios e devem protegê-los”. Essa frase de Wangari Maathai, criadora do Green Belt Movement (Movimento Cinturão Verde), traduzida em ações, nos incentiva a melhorar, pelas mais diferentes razões. Pode-se dizer, sem dúvidas, que ela é um ícone da comunidade africana, ou melhor, mundial, ao se dedicar à implementação dos princípios da sustentabilidade.

Essa mulher queniana formou-se em Biologia e fez Mestrado, por meio de bolsa de Estudos, nos EUA e foi a primeira mulher a conquista o PhD em Anatomia, na África central e oriental, na Escola de Medicina Veterinária da Universidade de Nairobi. Nessa trajetória de emancipação, se tornou pioneira também ao presidir um departamento da Universidade e a ser nomeada professora. Uma conquista muito importante, na questão de gênero e de direitos humanos, mas transpôs a sala de aula e se dedicou à realidade do campo, da população vulnerável.

Na sua extensa biografia como ativista, comandou a Cruz Vermelha queniana nos anos 70 e foi ministra-assistente do Meio Ambiente entre 2003 e 2005. A sua agenda tinha como diretrizes o reflorestamento, proteção das florestas, e a restauração de áreas degradadas; como também projetos educacionais, com bolsas de estudo para órfãos devido ao HIV / AIDS; e acesso à nutrição aos portadores.

Uma de suas iniciativas de maior relevância foi o trabalho desenvolvido, por meio de sua organização, a partir de 1977, que resultou no plantio e replantio de cerca de 47 milhões de árvores no país, com a participação das comunidades, constituindo o sentido do empoderamento. A iniciativa nasceu, ao se defrontar com a realidade principalmente de mulheres do campo, que enfrentavam todos os tipos de dificuldades. Wangari propôs que as soluções viessem por meio de planos de manejos. Ao mesmo tempo, os camponeses deveriam proteger as bacias hidrográficas e estabilizar o solo, melhorando a agricultura.

A ideia que semeou nos anos 70 superou as fronteiras, e em 1987, já tinha seguido pela Pan African Green Belt Network , para a Tanzânia, Uganda, Etiópia, Zimbabwe e Lesoto.
As bandeiras foram ampliadas e ela se uniu a outros movimentos contra regimes ditatoriais, que acentuavam a pobreza em seu país. Uma das campanhas que iniciou, foi contra a construção de um arranha-céu em Uhuru (“Freedom”) Park no centro de Nairobi, e o desmatamento de terras públicas. Durante essa militância, foi presa e espancada com outros ativistas.

Mais um trabalho relevante que não pode ser menosprezado, é que Wangari e seu movimento tiveram um papel importante na nova constituição do Quênia, ratificada pelo voto popular em 2010. O documento incluía o direito de todos os cidadãos a um ambiente limpo e saudável.

Ela colocava em prática o conceito de sustentabilidade em um contexto geopolítico e socioambiental de adversidades gritantes. Dedicou-se à proteção da selva da bacia do Congo na África central, segundo maior maciço florestal tropical do mundo…Contribuiu, em 2006, para o lançamento do Programa Um Bilhão de Árvores ao Redor do Mundo, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnuma), que já ultrapassou a casa de bilhões.

Contribuiu também ao deixar uma bibliografia importante, calcada em suas experiência:
-The Green Belt Movement: Sharing the Approach and the Experience (2003);
– Unbowed (2006), uma auto-biografia;
– The Challenge for Africa (2008);
– Replenishing the Earth: Spiritual Values for Healing Ourselves and the World (2010).

Em 2009, ela foi designada como mensageira da paz, pela Organização das Nações Unidas (ONU).

A ativista, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz 2004, morreu neste domingo, dia 25, aos 71 anos, devido a um câncer, em Nairóbi.

A sua partida nos entristece, mas a sua obra é tão sublime, que serve como um ‘tapa com luva de pelica’ à nossa inércia diante de tantas práticas erradas na condução socioambiental e, na verdade, das relações humanas…

Ao fazer a leitura de matérias a respeito, multiplicadas por agências de notícias internacionais, e ao conhecer um pouco mais de sua biografia, percebo o quanto ainda nos intitulamos mais do que realmente somos na prática.

Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Reskk – www.twitter.com/SucenaSResk

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