Não está no horizonte politico do PSUV (Partido Socialista Unificado da Venezuela), partido que dá sustentação ao governo bolivariano do Presidente Hugo Chavez, a possibilidade de derrota nas eleições deste domingo. “Temos a Venezuela planejada como sociedade socialista”, disse Rodrigo Cabezas, da direção nacional do PSUV para assuntos internacionais. “Construímos uma verdadeira fortaleza para sustentar este projeto frente às muitas e seguidas ameaças que sofremos nas campanhas anteriores”. Esta, claro, não é a visão da oposição, liderada por Henrique Capriles, e difundida pelos grandes meios de comunicação, aqui e na maior parte do mundo, com destaque para a América Latina, inclusive o Brasil, cujos principais jornais demonstram torcer pelo candidato liberal.
Mas a solidariedade recebida de partidos de esquerda e movimentos sociais de todo o mundo, incluindo os EUA, também é um dado da realidade. Segundo Cabezas, o comando da campanha tem o apoio de mais de 1.000 lideranças políticas, intelectuais e artistas, posicionando-se a favor da continuidade do processo socialista proposto pelo presidente Chavez. “O Comando de Campanha Carabobo e a direção do PSUV estão convictos de nossa vitória”, continuou o secretário de relações internacionais venezuelano. “Não é apenas uma eleição, é a ratificação de um processo de mudança, onde estão envolvidos comunas e conselhos populares. Vimos aperfeiçoando a nossa política de participação popular, o partido não é apenas eleitoral”.
Segurança no sistema e participação popular
As declarações do dirigente foram feitas na manhã de hoje, em reunião do PSUV com os convidados internacionais. Pela manhã, pudemos visitar uma central eleitoral, na Unidade Educativa Nacional Gustavo Herrera, para conferir os equipamentos da eleição, cujo sistema foi considerado o mais seguro do mundo, até pelo Instituto pró democracia dirigido pelo ex-presidente norte americano, Jimmy Carter, conforme recentes declarações. O sistema hoje é totalmente eletrônico, tendo o registro digital biométrico de cada eleitor como base. O documento de identidade necessário para votar, que antes levava dois ou três meses para sair, hoje se tira em quinze minutos e todos o podem ter, segundo explicam os funcionários da zona eleitoral. Após o voto eletrônico, cada eleitor tem o dedo marcado por uma tinta indelével, para impedir possíveis votos duplicados. Todos os centros de votação, até os mais remotos como os indígenas, têm antenas para transmitir eletronicamente os votos; apenas as mesas do exterior (que representam 104 mil votos) não estão computadorizadas. Na noite do domingo, já se poderá saber quem venceu.
Prevenir fraudes é uma necessidade, pois ameaças não faltam. Para isso, além dos equipamentos seguros, vai-se auditar 52% das máquinas de cada centro eleitoral, de maneira pública, inclusive com acompanhantes internacionais. Mas nada é superior à motivação militante de participar de uma eleição onde o voto não é obrigatório, aliada à profunda organização popular que desenvolveu o Comando de Campanha Carabobo, como nos conta Ana Elisa Osório, deputada no Parlamento Latino Americano e da coordenação nacional desse Comando. “É a melhor organização que o partido já teve do ponto de vista eleitoral; temos 24 comandos estaduais da campanha, cada município tem o seu e cada centro de votação tem uma unidade de militantes Carabobo cuidando da eleição”.
A enorme mobilização ocorrida ontem, no encerramento da campanha do presidente Chavez, a maior já vista, também é citada por Ana Elisa como uma demonstração de aprovação do povo ao seu governo e da crescente participação popular. “É uma eleição com um nível extraordinário de emoção”, diz a dirigente, “mas também com alto nível de razão, as pessoas sabem porque votam em Chavez”. Para comprovar a alta consciência da população, o comando organizou uma operação chamada “1 por 10”, onde os militantes percorreram todas as casas, cada um com uma planilha onde deveria cadastrar dez eleitores. Com este trabalho, 7 milhões dos eleitores foram colocados nas planilhas. Para atuar como fiscais, o PSVU recebeu a inscrição de 9 mil eleitores, tem 3 credenciados por mesa eleitoral.
“Hoje temos um país politizado, pela esquerda e pela direita”, afirma Ana Elisa. “Ativamos a militância e o povo a estar alertas para possíveis fraudes”. A deputada lembra que a oposição vem usando mecanismos de campanha que ela chamou de “sujos”, utilizando a internet e a telefonia, cujas grandes empresas apoiam a Capriles, e continuam com a propaganda mesmo agora que está proibida, já que esses serviços são impossíveis de bloquear . Chamadas telefônicas a partir da Espanha e do México também foram identificadas nesta campanha, com conteúdos agressivos contra o atual presidente, dizendo até que não se devia votar num homem que vai morrer logo. De fato, todos os jornalistas brasileiros que compraram um chip de celular aqui, estão recebendo propaganda do candidato da oposição no telefone e na internet, diariamente, o que torna claro o apoio das grandes empresas de telecomunicação do mundo.
Por outro lado, os maiores níveis de participação eleitoral aconteceram nos governos Chavez e esta eleição está sendo a mais disputada. Existe uma possibilidade de que a direita não reconheça os resultados eleitorais, acreditam os dirigentes. “A oposição é constituída de pequenos partidos e grupos econômicos oligárquicos, que tem uma gama de interesses comandada pelo imperialismo americano”, analisa Cabezas. “Temos a maior reserva de petróleo do mundo, podemos viver ainda 200 anos com o consumo atual. Os EUA gostariam que voltasse a relação anterior”, onde o petróleo era vendido com desconto para os americanos, como disse o presidente no comício de ontem.
Dizem que 8 mil jornalistas internacionais pediram credenciamento para cobrir estas eleições, “as mais importantes no momento, depois das norte-americanas”, conforme disse Rodrigo Cabezas. “A maioria vem para noticiar a derrota de Chavez”, diz. “Só a agência internacional Reuters credenciou 15 jornalistas”. É a quinta vez que o presidente se submete a um escrutínio nacional, lembra Ana Elisa. É nisso que aposta a oposição, que o povo já esteja cansado dele e queira mudar. “A maioria antes não tinha voz, ainda que fossem politizados”, segue a deputada. “Hoje é visível sua voz e poder. Queremos consolidar o poder popular dentro dos marcos da democracia, da paz e da convivência”.