O campo de Baqaa, em Amman, capital da Jordania, nao e diferente de outros no mundo arabe. Um dos dez administrados pela UNRWA (agencia das Nacoes Unidas responsavel pela assistencia aos refugiados palestinos) no pais, abriga em suas ruelas estreitas, que lembram algumas favelas brasileiras, mais de 100 mil habitantes. Entre eles, varios viveram a nakba em 1948 – termo arabe que designa a catastrofe que se abateu sobre os palestinos quando da criacao do Estado de Israel em 15 de maio daquele ano – e relataram a Ciranda suas lembrancas da tragedia.
Um deles, com apenas tres anos de idade a epoca, conta que sua aldeia, Ikzazi, em que viviam 450 pessoas, ficava proxima a Jerusalem. “Fomos expulsos, saimos com a roupa do corpo, tudo foi destruido.” Apos se refugiar nas areas ainda nao invadidas da Palestina, teve que partir novamente em 1967, ano da chamada Guerra dos Seis Dias, em que Israel ocupou ilegalmente 78% do territorio. Dessa vez, o destino foi Baqaa, em Amman. Tudo ficou para tras, menos a chave de sua casa na Palestina, que fez questao de carregar consigo, com a esperanca de voltar em breve. Em 1999, pode visitar o local onde nasceu, mas como turista – e ainda foi hostilizado por alguns colonos. O sonho de ver cumprido o direito de retorno continua vivo. A historia se repete mais a frente, nas memorias de um refugiado de 85 anos da mesma aldeia. “Nao deu tempo de levar nada.”
Aos 72 anos, outro palestino que vive em Baqaa nasceu em uma pequena aldeia proxima a Ramla, tambem nos territorios destruidos em 1948. No momento da invasao, tomava um cafe e nao deu tempo sequer de terminar de ingerir a bebida. “Por isso, nao carreguei a chave de minha casa.” Ate 1953, passou por quatro campos de refugiados antes de chegar a Amman, onde tambem teve que mudar de lugar varias vezes ate se fixar no atual lugar de residencia. Entre bisnetos, netos e filhos, afirma que sao 39 familiares a espera do retorno. “A Palestina e nossa terra, nos vamos voltar”, enfatiza.