Terá início em setembro a etapa estadual do processo rumo à I Conferência Nacional do Trabalho Decente. Tal ocorrerá entre 2 e 5 de maio do ano que vem, em Brasília, após a conclusão dessas atividades, que serão precedidas por iniciativas municipais.
Em São Paulo, a conferência estadual acontecerá nos dias 24 e 25 de novembro próximo. A sistemática segue a dos demais eventos do gênero, com composição tripartite (governo-sociedade civil organizada-setor produtivo), eleição de delegados para representação no âmbito nacional e discussão de propostas para subsidiar a elaboração de uma política pública de Estado sobre a questão.
Segundo Mario Barbosa, assessor especial para assuntos internacionais do Ministério do Trabalho e Emprego e coordenador-geral do processo de conferência do trabalho decente, esta se referencia no memorando de entendimento firmado em 2003 entre o governo brasileiro e a Organização Internacional do Trabalho para implementação de uma agenda sobre o assunto, que deu origem a um plano nacional. Concluído em 2009, tal inclui metas e resultados para 2015. “Assenta-se nos quatro objetivos estratégicos da OIT: direitos fundamentais, proteção social, geração de mais e melhores empregos e diálogo social.”
Esses serão discutidos nos eixos temáticos em torno dos quais está estruturada a conferência. Neles, como enumera Barbosa, poderão ser debatidas questões como negociação coletiva, saúde e segurança do trabalho, igualdade no ambiente laboral, com corte de gênero, raça e etnia, prevenção e erradicação dos trabalhos infantil e escravo, questão migratória, sistemas públicos de emprego, políticas macroeconômicas e fortalecimento dos atores sociais. As resoluções a serem deliberadas e votadas em cada etapa preparatória para virem a constituir um relatório a ser discutido em Brasília partirão, de acordo com o coordenador, de um texto base já aprovado. “Temos um engajamento bastante ativo de trabalhadores e empregadores, e com a formulação da política pública do trabalho decente se buscará também oferecer a possibilidade de um alinhamento das intervenções da União, dos estados e dos municípios nos temas relacionados.” Nesse sentido, na sua concepção, a conferência deverá contribuir ainda à construção de “mecanismos de acompanhamento para que de fato se possa avançar na promoção do emprego e do trabalho decente, cujo conceito é o daquele adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade e segurança e capaz de garantir uma vida digna”.
Desafios
Para tanto, a iniciativa terá à frente a busca de soluções para desafios prementes. Entre os principais, conforme Barbosa, está avançar no sentido da internacionalização, com a ratificação de convenções da OIT, a exemplo da relativa à atividade doméstica, que visa garantir a quem a executa direitos iguais aos demais trabalhadores. Além disso, consolidar uma intervenção no sentido da sensibilização do governo e dos atores sociais em relação ao trabalho decente no cotidiano das relações laborais no processo de formulação da política. “É uma ação compartilhada e, para isso, é importante um ambiente também que favoreça o desenvolvimento de empresas sustentáveis. É ainda preciso pensar em como empregos verdes podem acompanhar esse processo.”
Ademais, como pondera ele, “apesar de sobretudo a partir de 2003 ter havido avanços sociais importantes, temos ainda hoje cerca de 16 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza”. O coordenador continua: “É um contingente da população que não pode viver unicamente das políticas sociais, que têm papel fundamental, mas é importante criar aos que podem trabalhar condições de inserção produtiva.”
Diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Clemente Ganz Lúcio aponta que o desafio será encontrar um campo de convergência entre as posições divergentes que possa orientar uma política pública adequada de trabalho decente no Brasil. Além disso, ele afirma que é preciso avançar para solucionar o problema da informalidade, situação em que se encontra hoje pouco menos da metade da população economicamente ativa. E, assim, solucionar a ausência estrutural de seguridade social. Os salários bastante baixos são outro ponto a se evoluir. “O mínimo necessário para dar conta dos direitos assegurados na Constituição Federal seria hoje em torno de R$ 2.300,00”, enfatiza Ganz Lúcio.
Com a visão de que é mister superar esses e outros desafios, a conferência terá ainda na pauta bandeiras históricas do movimento social, como a redução da jornada semanal de trabalho para 40 horas sem diminuição de salários e a ratificação de outras convenções da OIT, como a 158, que proíbe a demissão imotivada. Mais informações no site do Ministério do Trabalho.
Subsidiar a construção de uma política de trabalho decente
Muito boa a matéria. É preciso incluir as ONGs nestas discussões de remuneração, pois defendem, em sua maioria, os Direitos Humanos, mas na hora de pagar usam a ótica capitalista, isto é, os DH valem para justificar salários menores, pauperizando os trabalhadores das ONGs.
Por outro lado, os financiadores dos projetos para ONGs precisam entender que liberar migalhas para que os projetos sejam tocados é colaborar para que quem hoje ajuda, amanhã seja ajudado, fazendo um “donwsizing” na vida dos trabalhadores. Uma espiral descendente. Uma adesão ao conceito da falta e não da real abundância, que é tranformada em falta para que o capital ganhe mais.