Reflexões sobre segurança alimentar & meio ambiente

Corpos e mentes sucumbem aos milhares todos os dias em nosso planeta, por causa da fome e, por muitas vezes, em decorrência da má qualidade dos alimentos e especialmente da água e da destruição da natureza. São cenas tão dantescas de flagelo, mas que para muitos, não passam de um simples quadro triste. Por isso, não é difícil ouvir frases como estas – “Ah, Deus quis…” ou “Puxa, coitadinhos…” ou, então, pior “É triste, mas não posso fazer nada…”.

Diante desse processo de desligamento a que nos submetemos consciente ou inconscientemente, resolvi utilizar alguns minutos para pesquisar links de programas, planos, iniciativas e notícias sobre situações no contexto da segurança alimentar & meio ambiente no Brasil (agroecologia, economia solidária, Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), Bolsa Verde, Atlas do Saneamento no Brasil recente, propostas do Plano Nacional do Saneamento, estudo de patógenos), com o propósito de incentivar uma provocação saudável sobre o tema, com o seguinte mote: e se todo o conjunto dialogasse numa mesma política não “concorrente”, tendo em vista, que há uma interdependência? E melhor: se fôssemos impulsores desse processo e participativos, ao sermos consumidores conscientes…?

Hoje sabemos que no mundo mais de 1 bilhão de pessoas passam fome – isso significa 1/7 da população do planeta, e essa proporção sobe dia a dia. Como reiterado pelo brasileiro José Graziano, que no ano que vem assumirá a direção geral da Agência da ONU para Agricultura e Segurança alimentar (FAO), não é difícil perceber que os modelos em vigor, há muito, não implicam justiça socioambiental. Segundo ele, as condições de suprimento e qualidade da água se tornaram o maior entrave à expansão da produção (de comida), especialmente em algumas áreas como a região andina, na América do Sul, e nos países da África Subsaariana – em especial, no Chifre da África. Essa afirmação foi feita em entrevista à BBC Brasil, nesta semana.

Os cenários de longo prazo também exigem ações imediatas. Existe a projeção de que em 2050 terão de ser produzidos mais 70% de alimentos, para suprir o aumento da população, que deverá passar dos atuais 7 bi para mais de 9 bi. Mas os problemas não são simplesmente demográficos. O aumento do preço torna a balança cada vez mais desigual entre os ricos, de classe média e os que estão na pobreza e na extrema pobreza. A escalada mais expressiva se deu com o arroz e milho, entre outros. O uso indiscriminado de defensivos agrícolas (agrotóxicos) e os efeitos das mudanças climáticas tornam o quadro mais emergente.

O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo e a cada relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre as quantidades desses produtos acima do permitido ou que já estão banidos oficialmente realmente assustam. A conclusão a que chegamos é que muitos dos alimentos que saem do campo para a nossa mesa nos envenenam aos poucos. As amostras que têm apresentado maior irregularidade são de pimentão e pepino, morango e uva, por exemplo.

Mas algo de tamanha agressividade é o desperdício de alimentos mundialmente: são cerca de 1,3 bi de toneladas, ou seja, um terço de tudo do que se produz.

Nessa série de condicionantes, não podemos deixar de reforçar a questão da saúde ambiental. Afinal, mais de 70% das infecções são originadas da contaminação da água e muitas vezes são letais. Nesta semana, o pesquisador Wondwossen Gebreyes, da Ohio State University, apresentou uma iniciativa que busca integrar segurança alimentar, zoonoses veterinárias de interesse para a saúde pública e biotecnologia ao estudo de doenças de animais transmissíveis para os humanos. O que é algo pertinente diante dessa problemática. A notícia foi divulgada pela Agência Fapesp.

Quando voltamos nosso olhar novamente para o Brasil, cerca de 16 milhões estão na extrema pobreza no país, nesse contexto. A desigualdade é latente e está mais do que provado que o Produto Interno Bruto (PIB) não é a métrica para essa realidade e que investimentos em infraestrutura, capacitação e empregabilidade têm de estar no topo da pauta…E cada um de nós faz parte parte dessa transformação para reverter esse paradoxo, de dois pesos, duas medidas.

Todos os links consultados foram acessados hoje:

– Agroecologia: http://www.agroecologia.org.br/

– Economia solidária – http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/ecosolidaria_oque.asp;

– Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) 2011/2012: http://www.mda.gov.br/portal/arquivos/view/Plano_Safra_da_Agricultura_Familiar_2011-2012.pdf ;

– Programa de Apoio à Conservação Ambiental (Bolsa Verde) – http://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:federal:decreto:2011-09-28;7572;

– Atlas do Saneamento no Brasil 2011/IBGE (diagnóstico): http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1998&id_pagina=1

– Proposta do Plano Nacional do Saneamento (Plansab) – http://www.cidades.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=736%3Abrasil-tera-seu-plano-nacional-de-saneamento-basico-em-2011&catid=84&Itemid=113;

– Estudo de patógenos: matéria Patógenos globalizados, Agência Fapesp, 28/10/2011. Disponível em: http://agencia.fapesp.br/14703#.TqqGyK291pI.twitter. Acesso em: 28/10/2011

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Blog Cidadãos do Mundo- jornalista Sucena Shkrada Resk – www.twitter.com/SucenaSResk

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