Zahy concedeu entrevista nessa segunda (18) à Rádio Cúpula, que pode ser acompanhada online ou ao vivo no Teritório do Futuro (em frente ao Museu de Arte Moderna), onde ocorrem parte das atividades da Cúpula dos Povos.
“Vamos lutar até o fim, se precisarmos tombar, assim vai ser¨, diz Zahy Guajajara, com serenidade e determinação impressionantes. Ela faz parte da ocupação Aldeia Maracanã, que há seis anos resiste na antiga sede do Serviço de Proteção ao Índio. Hoje a ocupação está ameaçada pelo estado, que pretende construir um empreendimento para a Copa do Mundo no local.
Zahy conclama os povos indígenas e apoiadores de suas causas a se unirem numa manifestação pacífica em denúncia às inúmeras violações que os povos originários do nosso território têm sofrido. A manifestação será nessa quinta (21) às 17h30 no estádio do Maracanã.
Assista o vídeo-denúncia e confira abaixo o Manifesto da Aldeia Maracanã.
Se você recebeu esta carta, certamente é um indígena legítimo ou um verdadeiro apoiador das causas indígenas. É com muita insatisfação com o descaso público que trazemos a você mais uma de muitas lutas dos nossos irmãos indígenas, luta esta em que estou envolvida de corpo e alma.
Há aproximadamente seis anos, o antigo Museu do Índio foi ocupado por uma frente de resistência envolvendo diversas etnias do nosso extenso país. Esse grupo de parentes, do qual faço parte, tem entre seus propósitos resistir contra os intentos do governo de construir, no prédio fundado por Darcy Ribeiro, um shopping ou estacionamento para o estádio do Maracanã, que fica ao lado. O prédio, que já se encontra em condições deploráveis, foi berço do antigo SPI, Serviço de Proteção ao Índio, que deu origem à atual e ineficiente FUNAI, além de ter abrigado as primeiras instalações do Museu do Índio, que agora está localizada na Rua das Palmeiras, 55, no bairro de Botafogo.
Parentes, é com muita dor que pedimos o seu apoio, pois aquele chão que outrora foi motivo de algum orgulho, hoje encontra-se na iminência de ser deserdado de todas as nossas futuras gerações. A terra indígena da mata é invadida e desrespeitada todos os dias e agora esse governo corrupto, sem raízes e vazio quer tomar alguns poucos metros de terra indígena no coração urbano da cidade do Rio de Janeiro. Não vamos permitir que roubem de nós um chão conquistado com tanta luta! Nós, os integrantes deste movimento de ocupação e resistência, pedimos o apoio de todos os parentes para criarmos o Centro Cultural Indígena Aldeia Maracanã, que abrigará todas as etnias, línguas e culturas e será um ponto de encontro entre todas as lideranças indígenas do nosso país. Para que a cada dia as culturas e a população indígena seja valorizada, respeitada e inserida na sociedade civil e política.
Queremos convidar os parentes para uma manifestação pacífica ao redor do estádio do Maracanã, nesta quinta-feira (21.06) às 17h30. Uma luta sem violência, uma guerra sem morte e uma vitória que possa ser assistida pelas lentes da imprensa nacional e internacional. Os olhos do mundo estão voltados para a cidade do Rio de Janeiro. Não vamos esconder nossas culturas e sonhos ficando somente sentados em cadeiras de plástico debaixo de tendas, ouvindo apenas palavras. Vamos transformar as palavras em atitudes e os sonhos em realidade. O estádio mais famoso do Brasil e do mundo tem um nome indígena, Maracanã. Parentes, podem ter certeza que a maior parte dos cariocas nem sabe disso. O nome Maracanã vem do tupi-guarani, da palavra maracá. Queremos formar uma corrente em volta de todo o estádio com todos os parentes tocando maracá e cantando e dançando seus rituais. Vamos fazer o maior círculo indígena do mundo, chamando a atenção da sociedade civil para os descasos das autoridades para com a memória histórica do trajeto indígena na cidade que abriga este mega evento chamado Rio +20.
Zahy Guajajara, integrante da ocupação indígena Aldeia Maracanã