O Fórum Social Mundial ocorreu no mesmo período em que a mídia divulgou as primeiras notícias sobre as revoltas que explodiram no mundo Árabe nas últimas semanas. Durante a marcha de abertura do evento, realizada em seis de fevereiro, palavras de ordem e faixas expressavam o apoio aos movimentos contra a vigência de longas ditaduras instauradas no Egito, Sudão, Tunísia, Jordânia, Omã e Argélia.
Diferentes movimentos sociais reunidos no Fórum manifestaram o repúdio a lideranças não legítim as como as de Ali Abdulhah Salen, Kadafi e Mubarak, cujos governos prolongados se sustentaram com apoio de armas e opressão aos cidadãos. Além dos efeitos nocivos sobre o desenvolvimento humano das populações subjugadas a essas lideranças, o desenvolvimento econômico desses países foi fortemente abalado, ampliando as desigualdades entre as elites muito ricas e a maioria da população, que vive abaixo da linha de pobreza. O governo de Mubarak produziu a insustentável situação de milhares de Egípcios que lutam para sobreviver com menos de US$ 1 por dia.
Em Dacar, cidadãos vindos desses países deram vazão à liberdade de expressão, inexistente em suas nações, elaborando protestos contra as ditaduras e em favor da queda dessas lideranças não legítimas. Nos últimos dias do Fórum, os acontecimentos que iniciaram a derrubada de Mubarak aumentaram a certeza de mudanças num mundo Árabe que vê na queda do líder egípcio a ascenção da liberdade em sociedades historicamente oprimidas. Encorajados pela luta travada no Egito e encorajando o fortalecimento da luta na Tunísia, manifestantes vindos desses países uniram-se a estudantes senegaleses e fizeram uma pequena marcha em frente a Maison du Brésil. O pequeno grupo deu voz ao grito por liberdade, sufocado na garganta de milhares de palestinos e de muitos povos aprisionados em seus próprios territórios. O barulho atraiu a atenção dos que passavam. Quem estava na tenda brasileira saiu ao ouvir o ruído daquele canto semelhante ao “liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”, celebrizado por um samba do carnaval carioca, num fevereiro do século passado.
O ato político arrastou simpatizantes e motivou o registro dessa ação solidária para com as conquistas políticas que reforçam a crença na mobilização como forma de luta eficaz para aproximar o mundo dos ideais defendidos pelos movimentos sociais.
Simone Ricco é Militante da Ciranda Afro e do Palabra ( Palavras Africanas no Brasil)