Economia verde??!! Censo, economia verde já emprega 3 milhões de brasileiros… mas o que é realmente a Economia Verde? Desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza? Mas quem pode pagar pelos produtos “verdes”, ecológicamente corretos? As lideranças responsáveis pela organização da Cúpula dos Povos, assim como os movimentos sociais e as feministas, rechaçam o conceito de economia verde, e preferem chamá-la de capitalismo verde.
A fim de informar, esclarecer e debater conceitos como esses, que estarão em jogo nos discursos da Rio + 20 e da Cúpula dos Povos, a Marcha Mundial de Mulheres realizou seminário em São Paulo, nos dias 25 e 26 de maio. A partir das informações e visões sobre a Rio+20, as mulheres participantes debateram a reunião dos países convocada pela ONU e quais são as propostas alternativas que serão levadas para a Cúpula dos Povos. Para as ativistas, o foco das discussões em torno da Rio+20 não está tocando nas questões estruturais da crise global, que é o capitalismo, com suas formas antigas e novas de exploração e dominação, que concentra a riqueza e produz desigualdades sociais.
Soberania e segurança alimentar, a produção de alimentos saudáveis e a construção de alternativas, como a economia solidária, foi um dos destaques levantados no seminário. “A economia solidária desafia o capitalismo, ”, disse Vera Machado, da Rede de Economia Feminista (REF), “que é excludente, reforça a desigualdade na sociedade e privatiza a natureza, questionamos o que produzimos, por que produzimos”. Vera destacou ainda os princípios dessa economia, que absorve o trabalho de muitas mulheres, baseados na solidariedade, na autogestão e no não lucro, como bases importantes para um outro modelo de sociedade que estará sendo discutido na Cúpula dos Povos.
Empresas “verdes” e o acesso aos bens
Para Nalu Faria, da MMM, a proposta colocada pela Rio+20 representa “mais do mesmo”. É o que os movimentos sociais tem chamado de “falsas soluções”, já que não alcançam nem modificam as causas estruturais da crise econômica. “Há muitos anos existe o discurso de que os bens naturais tem um fim e de que é preciso preservá-los, na mão de empresas e não do Estado”, continua Nalu, “e para isso eles devem ter um preço para que não se desvalorizem”. A feminista lembra que na época da ECO 92, “em pleno neoliberalismo, o questionamento era sobre os limites do mercado, do desenvolvimento”. A resposta dos organismos internacionais foi de que se o desenvolvimento fosse “sustentável”, poderíamos continuar a exploração. “A OMC veio em seguida para empoderar as empresas contra os Estados”.
Outra questão em jogo são os interesses diferentes entre países ricos e pobres, bem como as diferentes responsabilidades na destruição do planeta. Hoje, as grandes florestas estão no sul do planeta, bem como outras riquezas naturais, e o capital tenta se apropriar delas de todas as maneiras, expulsando populações originárias inclusive. “O debate entre os empresários é disputa de mercado, as grandes empresas já são ‘verdes’”, diz Nalu. “Queremos debater as causas estruturais e repensar novas formas de produção e consumo. A energia solar que poderia ser democratizada, por exemplo, está servindo para aumentar o valor dos apartamentos em prédios com esse recurso”. Os capitalistas querem trocar a noção de direito aos bens comuns, pelo conceito de acesso, sem explicar para quem e quanto se pagará por este acesso.
Armadilhas do sistema
Ora, as mulheres sempre aprenderam com a natureza, souberam criar soluções junto a ela, e o capital sempre alimentou a oposição natureza X cultura – a primeira associada às mulheres, a geração de filhos, etc, e a segunda, associada à economia e à política, coisas de homens, fala Nalu. A cultura colocada como superior , claro. “A associação nossa com a natureza está no cuidar dos filhos, da criação, da própria natureza também”, diz a dirigente da MMM. “Agora para salvá-la, querem dar mais responsabilidade e trabalho para as mulheres, o que tem acontecido nas catástrofes ‘naturais’ que nada tem de naturais, são produzidas”. Os países ricos querem colocar todos “no mesmo barco” com suas falsas soluções “de mercado”. Saiu uma análise otimista sobre o avanço das mulheres, e seu papel como salvadoras do meio ambiente. E nós queremos acabar com a divisão sexual do trabalho, mostrar a importância do trabalho invisibilizado das mulheres para a sustentabilidade da vida.
Água, transporte, moradia, saúde, racismo ambiental, apropriação do conhecimento, temas que fizeram parte da discussão das mulheres, já que todos estão ligados à erradicação da pobreza, associada com os temas da Rio+20. No segundo dia do seminário, as participantes dividiram-se em grupos e levantaram análises e proposições, demonstrando clara percepção de como o capitalismo distorce conceitos e passa a “vender” a idéia impossível de sua sustentabilidade, por meio de créditos de carbono, reciclados de luxo, altas tecnologias. “Você pode mudar o mundo e ainda ganhar algum dinheiro com isso”, tenta seduzir o capital. Para nós não basta erradicar a pobreza, nós queremos erradicar a desigualdade, derrubar o capital.
Lutar para mudar esse modo de produção, pensar nas soluções a partir do nosso “bem viver” e não do luxo, resume o primeiro grupo. “É preciso discutir o papel do Estado, e a mídia que faz propaganda dos valores do capitalismo”, destaca outro. A falta de saúde e o desequilíbrio das emoções gerados por esse sistema foram aspectos também levantados. “O excessivo consumo dos bens comuns e a culpabilização dos indivíduos, tirando responsabilidades das empresas e dos Estados, faz com que sobre ainda mais trabalho para as mulheres”. A Rio+20 negocia nossa vida – água, ar, florestas, terras – e impõe aos povos, reclamam as mulheres. “Aracruz, Cutrale, Cargill e outras estarão na Rio+20 explicando e justificando a nova fase do capitalismo, a Bolsa verde que coloca preços nos bens comuns. Querem controlar inclusive nossos corpos, a resistência é o feminismo, a economia feminista!”