Mídia livre e revoluções no mundo árabe

Foto: Terezinha Vicente

Na manhã do dia 27 de janeiro, o III Fórum de Mídia Livre abrigou o painel internacional “I FML no Magreb Machrek e mídia alternativa na Palestina”. Mohamed Leghtas, coordenador do Portal da Sociedade Civil Magreb Machrek E-Joussour, inaugurou as falas, destacando as experiências de rádios comunitárias na região, de construção de fóruns sociais e os debates que têm ocorrido sobre mídia livre à luz das revoluções que têm sacudido diversos países do mundo árabe.

Ele enfatizou o papel das redes sociais nesse processo e o crescimento de usuários a partir dos levantes. “No Marrocos, 10% da população está conectada ao facebook, sendo que 79% têm menos de 30 anos e 38% são mulheres. O uso de ferramentas de comunicação é muito simbólico, tem fortalecido as mobilizações. Uma câmera tem servido como arma sem balas”, disse. Como exemplo de sua importância, citou a imolação de Mohamad Bouaazi, na Tunísia, que foi o estopim para a revolução que derrubou Ben Ali, e a tortura até a morte de Khaled Said, no Egito, após esse ter divulgado os desmandos e arbitrariedades do regime. A denúncia desse assassinato na internet fortaleceu as manifestações na Praça Tahrir que levaram à queda de Hosni Mubarak e se mantém por liberdades democráticas e justiça social. “A página dessa revolução no facebook chegou a ter 1,7 milhão de adeptos”, observou Leghtas. Ele citou o efeito dominó que culminou em levantes também no Bahrein, Líbia, Iemen, Síria, Palestina, Marrocos, Argélia e mesmo na Arábia Saudita. E fez questão de salientar o papel das mulheres nessas revoluções.

Falando sobre mídia alternativa e ocupação na Palestina, Ahmad Jaradat, do Alternative Information Center, salientou que esses meios de comunicação sempre existiram ali, como forma de resistir e denunciar a opressão e humilhação a que são submetidos cotidianamente os palestinos. “É parte da luta e ajuda a organizá-la.”
Ele deu um exemplo de comunicação alternativa que foi bastante utilizada sobretudo na primeira intifada (levante palestino de 1987 a 1993), para além da internet, com o objetivo de burlar o bloqueio imposto por Israel: “Quando as pessoas iam visitar os presos políticos e não podiam conversar livremente, escreviam em pequenos papéis e os encapsulavam. Os detentos engoliam aquelas cápsulas como forma de trocar informação.” Segundo frisou Jaradat, a mídia alternativa tem papel fundamental nas mudanças sociais, assim como as redes sociais. Correspondente do jornal Brasil de Fato na Palestina e representando o Palestinian Center for Peace and Democracy e o Comitê de Luta Popular de Bil´in, Baby Siqueira Abrão afirmou que a mídia também é ocupada por Israel. Lutar por meios livres e conectá-lo em todo o globo, bem como pela democratização da comunicação como um todo, são, portanto, maneiras de resistir. Um dos caminhos apontados pela plateia é buscar redes sociais alternativas ao facebook e ao twitter, construídas com softwares livres. Isso começou a ser pensado por ativistas do movimento Ocupe Wall Street e tende a se espalhar.

BDS e Fórum Palestina Livre

Questionado no painel sobre o movimento por BDS e a mídia alternativa, Jaradat explicou que para os movimentos sociais na Palestina a campanha por boicote, desinvestimento e sanções ao apartheid de Israel é fundamental. O chamado palestino ao mundo para que se engaje nessa causa por justiça foi feito em 2005 e tem sido reiterado ano a ano. “É uma das armas principais.” Assim, além de fortalecer o papel da mídia não convencional em informar e difundir essa iniciativa global, sua expectativa é que o Fórum Social Palestina Livre, a se realizar entre 29 de novembro e 1º de dezembro próximos em Porto Alegre, tenha como uma de suas resoluções um movimento internacional efetivo por BDS.
No Brasil, a Frente em Defesa do Povo Palestino, que reúne diversas entidades da sociedade civil, lançou em 20 de setembro último a campanha nacional por boicotes, desinvestimento e sanções ao apartheid de Israel. Um de seus pleitos é que o governo federal rompa acordos militares com a potência ocupante até que sejam respeitados os direitos humanos fundamentais dos palestinos, como à autodeterminação e ao retorno a suas terras e propriedades.

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