O Fórum Social Mundial começou neste domingo arrastando cerca de 50 mil pessoas às ruas de Dacar. Com faixas, palavras de ordem e muito a falar, às 14h, dezenas de delegações do mundo inteiro saíram em passeata do Triangule Sud (onde está situada a Grande Mesquita) à Universidade Cheik Anta Diop, cada uma delas divulgando sua luta. No pátio da faculdade, a única da capital do Senegal, um palco montado serviu de palanque para representantes de diversos países (Gilberto Carvalho por Dilma Roussef, além de tunisianos, egípcios etc) darem uma prévia do que será discutido no décimo fórum. O maior destaque da tarde ensolarada deste domingo foi Evo Morales, que fez um discurso de meia hora defendendo, entre outras questões, a nacionalização dos recursos naturais. O presidente da Bolívia afirmou que o capitalismo agoniza e, sobre os protestos populares, em especial os que estão acontecendo no Egito, que há uma “rebelião” nos povos árabes “contra o imperialismo norte-americano.
“O capitalismo agoniza no mundo frente à rebelião dos povos. O capitalismo tem crise financeira, crise energética e nos traz crise alimentar. E por isso os pobres, sejam agricultores, indígenas, trabalhadores, pobres das cidades, têm que pagar pela crise do capitalismo”, declarou Morales.
“As lutas sociais dos povos são indivisíveis. É o mesmo combate pela dignidade, justiça e igualdade. O que aconteceu na Tunísia não é independente das lutas dos outros povos. No último mês, os tunisianos lutaram por sua dignidade, liberdade, por trabalho e contra a corrupção, contra a ditadura selvagem que durou 23 anos. Graças a luta, a coragem e a solidaridade, graças a um povo jovem que não recuou diante dos tiros de bala, da repressão e dos cacetetes, os povos que são aqui representados devem fazer as mesmas coisas caso tenham em seus países regimes autoritários”, declarou o advogado tunisiano Trifil Bassem à equipe do site Carta Maior (conheça) logo após fazer seu discurso no palco.
Pela manhã, a imprensa alternativa se reuniu na biblioteca da universidade para combinar o esquema de divulgação dos eventos programados para acontecer no Fórum Social Mundial. A programação ainda não saiu impressa. Mas já se sabia que Evo Morales faria um discurso – e talvez uma coletiva de imprensa pequena – e que Lula havia confirmado presença na programação do “Dia da África e Diáspora”, na segunda-feira. O ex-presidente, aliás, é exaltado toda vez que um senegalês ouve a palavra “Brasil”. Lula é famoso em todo o mundo e, no Senegal, sua presença é mais que esperada. Durante a abertura do FSM, seu nome foi citado algumas vezes no palanque. Na área reservada para a imprensa logo à frente do palco, jornalistas do mundo todo (Mali, Camarões, Espanha, França, Itália) procuravam brasileiros para confirmar dia, hora e local do encontro com Lula.
Ainda na biblioteca, fomos convidados a reforçar o time que cobrirá todo o FSM para o site Carta Maior. Durante a marcha, entrevistas com ativistas de alguns dos 120 países participantes. Grupos em defesa das mulheres, das crianças, dos trabalhadores rurais, da cultura africana e muito mais. O Fórum Social Mundial é o evento no qual movimentos sociais e organizações civis debaterão alternativas para um mundo melhor, aprofundando suas ideias, formulando propostas e compartilhando experiências. A cada declaração, uma inspiração para se pensar em tudo que parece errado pelo mundo.
Um marroquino reclamava da briga de seu país com a Argélia pelo domínio do deserto do Saara. Comentei que o Brasil também há anos tenta convencer os Estados Unidos de que a Amazônia é nossa. Uma italiana dizia que veio ao FSM para tentar se desintoxicar de Berlusconi. E um integrante do Movimento dos Trabalhores Sem Terra – o movimento de luta pela reforma agrária – explicava que a representação do grupo no evento reforçaria ainda mais a luta por justiça social no Brasil.
Ao final, show do Ilê Ayê e de vários grupos senegaleses.
Assista ao vídeo da marcha por André Oliveira (Carta Maior):