Mais Marcha das Vadias

Além das 14 cidades que aderiram ao dia nacional da Marcha das Vadias no Brasil, novas manifestações feministas vem ocorrendo no país. No último sábado, cerca de 300 participantes fizeram a “SlutWalk” local. Cantando palavras de ordem como ” A nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadoria”, “Preste atenção, o corpo é meu, a minha roupa não é problema seu”!! Ô abre elas que as mulheres vão passar, sou feminista não posso negar” , ” Se cuida seu machista, a América Latina vai ser toda feminista”, “Se o corpo, se o corpo, se o corpo é da mulher, ela dá pra quem quiser”, ” A violência contra mulher não é o mundo que a gente quer”, elas passaram o recado paraibano (fotos). No Paraná, a novidade percorreu as ruas de Maringá, onde cerca de cem mulheres se manifestaram pela primeira vez.

marchavadiasmaringa.jpg Manifestação em Maringá

Abaixo a Carta Manifesto das feminsitas da Paraíba, que sintetiza bem o espírito das Marchas das Vadias:

CARTA MANIFESTO DA MARCHA DAS VADIAS-PB

Em pleno século XXI, a violência contra as mulheres ainda é naturalizada e vista como algo do âmbito privado e da moralidade, reproduzindo discursos como “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher” ou “uma mulher que veste roupas provocativas ou curtas não pode reclamar se for estuprada”.

Vadias_PB.jpg

A violência contra mulher se dá pela condição imposta pela sociedade capitalista e machista que explora e oprime as mulheres à medida que as torna propriedade dos homens nas relações afetivas, mercantiliza o corpo da mulher nas propagandas na mídia, impõe jornadas duplas/triplas de trabalho com salários desiguais e não garante políticas públicas como creches em número suficiente para as mulheres se inserirem no mercado de trabalho.

A nossa sociedade culpabiliza as mulheres pelas violências que sofrem, unicamente por serem mulheres, mesmo que com diferentes identidades, etnias, raças, orientações sexuais, classes sociais e de diferentes gerações. Quando somos lésbicas, negras e pobres, essa violência ainda é mais intensa, sobretudo, quando essas identidades se articulam entre si, promovendo uma discriminação e preconceito sem precedentes.

A Paraíba historicamente é um estado em que o machismo é forte e repercute sobre a história de vida das mulheres. Recentemente foi divulgado o mapa da violência de 2012 no Brasil. A Paraíba é o 4º estado com o maior índice de homicídios de mulheres e a capital aparece na 12ª posição dentre as demais capitais da federação. O índice de violência contra as mulheres no Estado em 2012 é 50% maior em relação ao ano passado. Até abril deste ano, já foram assassinadas 41 mulheres na Paraíba sendo 26 por crimes machistas e sexistas e 15 por suposto envolvimento com drogas (Fonte: Centro da Mulher 8 de Março). Esses números são bem maiores, pois a maioria dos casos não chega a ser noticiado na imprensa.

Um dos casos mais chocantes ocorreu na cidade de Queimadas, Paraíba, em que cinco mulheres foram estupradas, sendo duas brutalmente assassinadas. O estupro coletivo foi um “presente”de aniversário, um crime cruel que precisa ser punido e revela o quanto ainda precisa ser feito no enfrentamento à violência contra a mulher, ao machismo e ao patriarcado. Denunciamos essa violência, na qual o corpo e a vida das mulheres são vistos como um elemento a ser dominado. Somos solidárias a todas as mulheres vítimas de violência. Nesse sentido, “somos todas mulheres de Queimadas”!

COMO SURGIU “A MARCHA DAS VADIAS”?

A marcha surge em 2011, na cidade de Toronto, Canadá, quando o elevado número de estupros de mulheres numa universidade levou um policial, durante uma palestra sobre segurança, a “aconselhar” que as mulheres evitassem se vestir como “vadias” para não serem estupradas. Estudantes da universidade se indignaram diante de tal declaração e a reverteram em um protesto político, organizando a primeira marcha das vadias, que levou às ruas cerca de três mil pessoas, que se manifestaram publicamente contra a alegação de que as mulheres são violentadas por causa da forma como se vestem. Em pouco tempo, a marcha das vadias se espalhou pelo mundo.

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No Brasil, pelo segundo ano consecutivo, diversas marchas têm acontecido em todas as regiões. Na Paraíba, a marcha das vadias acontece num momento em que a violência contra a mulher aumenta bastante, sendo necessário fazer a denúncia dos casos de violência, dialogar com a população e reivindicar a efetivação das medidas de enfrentamento à violência contra a mulher.

E “VADIA”, por que?

Porque esta palavra é usada contra as mulheres diante de alguma atitude ousada e diferente da condição de submissão que lhe foi destinada na história, principalmente no que se refere à sua sexualidade. Na sociedade opressora e machista em que vivemos, o livre exercício da sexualidade da mulher é tabu e gera preconceitos diversos. Esta palavra provoca e faz refletir sobre um padrão de conduta imposto pela sociedade, que se escandaliza com a palavra “vadia”, mas não se escandaliza diante dos casos de violência que acontecem com as mulheres. O uso dessa palavra é uma crítica ao rótulo que nos é imposto quando enfrentamos os padrões estabelecidos para o comportamento feminino.
Então, dizemo-nos “vadias” porque queremos ser mulheres livres de qualquer tipo de exploração e de opressão e não ficamos caladas diante de uma situação de violência, seja ela física, simbólica ou psicológica… Dizemo-nos “vadias” porque nossos corpos nos pertencem!

Nós marchamos porque…

• Temos o direito de exercer e de expressar nossa sexualidade livremente, sem que isso nos oprima ou nos estigmatize;
• Repudiamos essa sociedade que nos impõe um padrão de beleza que mercantiliza os nossos corpos tornando-os objetos da mídia e no mercado;
• Não aceitamos que nos seja imposto um destino que não almejamos. Recusamo-nos a reduzir o nosso papel ao da maternidade. Por isso também reivindicamos o aborto legal e seguro;
• Reivindicamos medidas preventivas e de combate à exploração sexual infantil, um problema que atinge principalmente as meninas;
• Queremos igualdade dentro dos nossos lares, dividindo a responsabilidade com as tarefas domésticas e no cuidado com os filhos,
• Exigimos equidade também nos ambientes de trabalho, com salários iguais para funções idênticas, bem como nos espaços de decisão sobre os rumos da sociedade;
• Somos contra o capitalismo e o patriarcado, pois esses sistemas se mantém fortalecendo a desigualdade entre as classes sociais e a dominação dos homens sobre as mulheres;
• Defendemos que toda mulher tenha o direito de se vestir e de se comportar como bem entender, sem que isso seja uma ameaça à sua segurança física ou uma justificativa à violação de seu corpo;
• Exigimos um Estado efetivamente laico e democrático que respeite todas as diferenças, sejam elas de sexo, raça, etnia ou orientação sexual;
• Reivindicamos a efetivação de políticas públicas por parte do Estado: com a criação/manutenção de delegacias, casas-abrigo e de acolhimento e centros de referência especializados para atendimento às mulheres vítimas de violência; qualificação dos funcionários para o atendimento das vítimas; melhorias no funcionamento da justiça especializada; mais creches públicas para possibilitar a inserção das mulheres no mercado de trabalho.
Assim, denunciamos todas as formas de violência contra as mulheres que acontecem na Paraíba, no Brasil e no mundo. Não nos calaremos e seguiremos fortes e incansáveis nesta luta por uma vida com igualdade, liberdade, felicidade, autonomia, com livre expressão e sem violência de gênero!

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