Jovens do Anhangabaú

Foto: Caros Amigos

Na capital da metrópole mais conservadora do Brasil, jovens atentos às manifestações por ” democracia real já” no resto do mundo e auto-mobilizados com ajuda das ferramentas da internet se dirigiram neste sábado às ruas do centro da cidade para juntar suas palavras de ordem ao chamado da juventude global por mudanças, especialmente, pela participação direta da juventude na vida política do país. E do mundo.

Unidos pelo compromisso de agir de modo consensual e não violento, e de manter o caráter apartidário do movimento, tiveram de vencer o desânimo trazido pela chuva e pela polícia para cumprir uma agenda que incluiu caminhada do Largo São Bento ao Vale do Anhangabaú, plenária geral, formação de comissões de trabalho e, ao final de tudo, acampamento para reinício da jornada no domingo.

#acampasampa é a hashtag que apromixa os jovens de São Paulo das ocupações de Wall Street, as manifestações espanholas por democracia real e os atos em mais de 80 países batizados de 15.O, em alusão à data, 15 de Outubro. Apesar do dia chuvoso, cerca de 200 pessoas continuavam no Anhangabaú às 10 horas da noite, ainda em atividade organizativa.

Sentados na área coberta pelo concreto do Viaduto do Chá, participantes se revesavam nas propostas, como a de buscar maior aproximação com moradores da periferia e dialogar também com diferentes movimentos sociais para intensificar a mobilização. E de manter-se no local até que sua assembléia decida o contrário. Realizar atividades culturais e artísticas de rua, junto com as pessoas usuárias do centro, foi outra maneira proposta de informar a população sobre as razões do acampamento. Mas a chuva já anunciava que não daria muita trégua.

Para domingo, 16, o coletivo acampado programava novamente a realização de grupos de discussão que não puderam ocorrer no dia 15, diante de uma sucessão de dificuldades. Uma delas foi trazida pela polícia, ordenando o desmonte das barracas de camping, por caracterizarem a ocupação indevida do espaço público. Poderiam, se quisessem, dormir sobre a lona desarmada. Decididos a não abrir espaço para confrontos violentos, os jovens baixaram as lonas, mas uma parte deles não arredou pé do local. Advogados solidários tentavam até à noite uma liminar que os autorizasse reerguer as tendas.

Também houve consenso no grupo de manter o álcool fora da atividade, para evitar qualquer perda de controle associada ao consumo da bebida, mesmo que para aquecer a noite ao relento.

Os grupos de discussão propostos para domingo são voltados, por exemplo, à educação e transporte – dois temas importantes dos movimentos pelo passe livre, além do debate sobre o que entendem por “democracia real”, termo que os aproxima das lutas de outros movimentos por “democracia direta”, mas que abre a possibilidade para outras leituras.

A midia tem noticiado com simpatia marchas que refletem o seu próprio discurso, por exemplo de faxinas anti-corrupção, como ocorreu no dia 12 de outubro, com as vassouras que remetiam aos jargões dos tempos de Jânio Quadros. Mas essa mesma mídia que noticiou as mobilizações do 15.O como eventos apenas estranjeiros, ignorou solenemente os esforços da juventude que se reuniu em São Paulo. Os jovens do Anhangabaú, mesmo apartidários, atrairam a atenção e a solidariedade de militantes ligados às lutas sociais.

Entre as reivindicações que constam no manifesto dos acampados de São Paulo estão o fim da criminalização dos movimentos sociais e da classe trabalhadora; a defesa do SUS; combate ao racismo, da homofobia e da violência machista; defesa de famílias ameaçadas de remoções para construções de obras da Copa e Olimpíadas; internet pública e gratuíta; revogação de concessões fraudulentas de rádio e tv e defesa das rádios comunitárias, entre outras lutas.

“Não estamos inventando nada. Meu pai e meu avô já fizeram o que estamos fazendo hoje, e aos poucos o que eles conquistaram foi sendo tirado”, disse um dos participantes. “Precisamos debater e não devemos ter medo do conflito, de opiniões divergentes”, alertou outro.

Como o resto do mundo, o jovens do Anhangabaú buscam interpretar mobilizações com os da Primavera Árabe, que derrubou ditaduras ao Norte da África, e “Ocupar Wall Street”, de revolta contra a crise nos EUA e a didatura das finanças promovida pelo capitalismo. Mas também estão testando sua capacidade de lidar com os novos fenômenos de internet para mobilizar e expressar sua determinação. Estão cientes de que, com ajuda da comunicação em suas mãos, podem impulsionar mudanças com uma rapidez que as gerações anteriores não conheceram.

LEIA TAMBÉM

CAROS AMIGOS
Em SP cerca de 200 manifestantes do 15.O acampam no Vale do Anhangabaú

CARTA MAIOR

Brasileiros aderem ao chamado global do dia 15

SITE 15.O

Nosso manifesto

DIÁRIO LIBERDADE

[15O: Centenas de milhares nas ruas do mundo inteiro +fotos, +vídeos]

Mais sobre: Ocupa Sampa

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *