Intelectuais e ativistas na mira de Israel

Em 7 de dezembro último, a cidade palestina de Nablus, situada na Cisjordânia – território ocupado ilegalmente por Israel em 1967 –, foi invadida e várias pessoas foram presas, incluindo intelectuais. Um deles é o advogado Yousef Abdul Haq (Abu Shaddad), professor de economia política da Universidade Nacional de An-Najah, um dos fundadores e coordenador do Centro Cultural Palestino Tanweer. Acadêmico marxista histórico, aos 70 anos, padece no cárcere, com sua saúde definhando.

Sobre a prisão, em matéria publicada no site australiansforpalestine, um colega seu, Abu Hijleh afirma: “Penso que é parte da campanha de detenção de intelectuais progressistas/de esquerda e também islamitas que podem oferecer análises e críticas às ações e políticas de Israel e dos Estados Unidos na Palestina e na região depois das mudanças radicais que estão ocorrendo com o despertar da primavera árabe.”

Resistência não violenta

Ao tentar denunciar o apartheid na região neste mês de janeiro, o ativista Mahmoud Zawhre, de Al Ma´sara, aldeia próxima a Betlehem, na Cisjordânia, que integra o comitê popular local de resistência não violenta, também foi levado para a cadeia, juntamente com outros três palestinos. Eles lideraram grupo que realizou protesto ao transitar com carros nas estradas exclusivas israelenses (o estado sionista tem um sistema de diferenciação na cor das placas e documentos para identificar quem pode ou não andar por certos lugares).

Zawhre esteve em novembro último em São Paulo para participar do I Encontro Nacional de Solidariedade ao Povo Palestino, promovido por uma série de organizações brasileiras. Na ocasião, destacou que a aldeia onde vive soma-se a outras 24 em que têm sido realizadas passeatas pacíficas contra o muro do apartheid. No mesmo encontro, sediado na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema, Jamal Juma, coordenador da campanha Stop the Wall, explicou que a construção do muro teve início em 2002, o que “causou mudança no mapa geopolítico palestino”. Segundo sua fala, o objetivo é anexar mais terras férteis e cercar os palestinos. Condenado pela Corte Internacional de Justiça em 2004, não foi, contudo, derrubado como deveria e terá, quando concluído, 810km de extensão. Em alguns trechos, chega a ter nove metros de altura.

Os presos palestinos

Zahwre (solto alguns dias depois) e Abu Shaddad não são casos isolados. A repressão por parte de Israel faz parte do cotidiano dos palestinos desde a criação unilateral do estado sionista, em 15 de maio de 1948 – o que se deu mediante limpeza étnica, com a expulsão de cerca de 800 mil palestinos e destruição de aproximadamente 500 vilas, como demonstra o historiador israelense Ilan Pappé, em “La limpieza étnica de Palestina”.

Segundo Abla Saadat, do comitê pelos direitos humanos dos presos, até hoje, foram detidos por volta de 800 mil palestinos. Permanecem nos cárceres – mesmo após o acordo entre Hamas e Israel, em 2011, quando foram soltos 1.027 prisioneiros em troca do soldado Gilad Shalit – em torno de 5 mil. Saadat informou que esse número inclui 350 menores de 18 anos – a maioria presa com apenas dez ou 12 anos –, nove mulheres, 22 parlamentares e 220 sob custódia administrativa, à espera de julgamento. Vinte dos prisioneiros estão em solitárias. “O confinamento dura 23 horas por dia”, contou a ativista, que é esposa do líder da FPFL (Frente Popular pela Libertação da Palestina) Ahmad Saadat. Há dez anos mantido no cárcere, é um dos que se encontram nessa situação, proibido de receber visitas familiares, ligações telefônicas e se comunicar com outros presos.

Ela fez um apelo aos movimentos sociais nacionais por ações pela libertação desses cidadãos. Entre as iniciativas, que pressionem o Executivo Federal a se posicionar junto ao Governo de Israel pela soltura pelo menos das crianças, mulheres, idosos, doentes e sob custódia administrativa. E que pleiteiem junto ao Legislativo brasileiro que promova visitas às prisões de Israel para exigir melhores condições aos que lá se encontram e reivindique a libertação dos parlamentares palestinos.

Boicotes

Além disso, o ativista preso neste mês de janeiro, Zahwre, destacou durante o encontro em São Paulo uma das possibilidades de ação global por justiça na Palestina: promover o boicote ao apartheid sionista. No ensejo, Juma salientou: “O Brasil é hoje o segundo mercado de armas para Israel e porta de entrada para a América Latina.” Referindo-se aos acordos militares e tratados comerciais, ele pediu aos representantes de movimentos um trabalho conjunto em âmbito nacional para pressionar o governo a “corrigir esses rumos”.

Nessa linha, outro instrumento importante é o boicote acadêmico e cultural a instituições que sustentam a opressão, humilhação e ocupação militar. Conforme escreve o ativista Omar Barghouti em “BDS – Boycott, divestment, sanctions, the global struggle for palestinian rights”, o chamado palestino reivindica: cessar qualquer forma de cooperação acadêmica e cultural, colaboração ou projetos com instituições israelenses; suspender todas as formas de fundos e subsídios a essas e desinvestir nelas; trabalhar para condenar as políticas de Israel e pressionar pela adoção de resoluções nesse sentido; apoiar instituições acadêmicas e culturais palestinas sem contrapartida em relação ao estado sionista. A prisão de Abu Shaddad pode ser um elemento motivador a universidades e intelectuais brasileiros aderirem a essa campanha.

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