2011 foi um ano emblemático nas agitações populares, especialmente dos jovens, revirando e revolucionando antigos regimes e costumes. A Primavera Árabe e movimentos de Ocupação e de Indignados, contudo, não surgiram espontaneamente e de uma hora para a outra no ano passado. São fruto de lutas e estratégicas mais antigas que se consolidaram e se reformularam. São filhos da miséria e da falta de democracia, sim. Mas também, de articulações internacionalistas que têm origem histórica em 1968 e, mais recentemente, no processo do Fórum Social Mundial. Por isso, os fotógrafos, jornalistas e documentaristas Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá inauguram sua nova exposição fotográfica Revolver (v.t. 1. Agitar em vários sentidos; agitar. 2. Examinar cuidadosamente. 3. Revirar.) como evento paralelo ao Fórum Social Temático, que volta a Porto Alegre.
A mostra, que ocupa a sala de exposições temporárias do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa (Rua dos Andradas, 959, Centro), faz uma espécie de pequeno balanço na carreira desses profissionais que rodam o mundo atrás de histórias que a mídia hegemônica não mostra. São onze imagens inéditas em exposições retratando diversos movimentos que passam ao largo das manchetes de jornais, a agitação e diversidade do Fórum Social Mundial, e também as disputas recentes da juventude brasileira.
Em Revolver (v.t. 1. Agitar em vários sentidos; agitar. 2. Examinar cuidadosamente. 3. Revirar.) estão as batalhas pela autodeterminação da região da Caxemira (ocupada por tropas indianas, paquistanesas e chinesas desde 1947) e do povo negro Raizal do arquipélago caribenho de San Andrés, Santa Catalina e Providência (sob controle político e militar da Colômbia há mais de 50 anos); assim como a ação pelo desarmamento da população civil colombiana (mais de 80% dos assassinatos no país são resultado da violência comum e não tem relação com guerrilhas ou tráfico internacional de drogas); e também imagens marcantes de duas edições do Fórum Social Mundial.
No Brasil, Revolver (v.t. 1. Agitar em vários sentidos; agitar. 2. Examinar cuidadosamente. 3. Revirar.) retrata a violência usada contra os estudantes da Universidade de São Paulo (que lutam politicamente contra a ocupação do Campus pela Polícia Militar); um pouco da Marcha da Liberdade (que comemorou a confirmação pelo Supremo Tribunal Federal da legitimidade das manifestações populares, mesmo quando propõem mudanças na lei); e ainda a triste situação da chamada Cracolândia (cuja população de dependentes químicos vem sendo duramente reprimida pela PM sem que o Estado ofereça qualquer alternativa de tratamento).