Ignorando sentença do juiz federal Samuel de Castro Barbosa Melo, que suspendia a retomada de posse do terreno da ocupação do Pinheiro, a força policial invadiu o local e feriu, de fato, a integridade dos cidadãos e seus direitos. O uso da força foi justificado como necessário para cumprimento da sentença favorável à reintegração de posse, expedida pelo juiz Rodrigo Capez estadual, irmão do Deputado Estadual pelo PSDB, Fernando Capez. A duplicidade de ordens judiciais não provocou impasse nos executores desta ação que, contrariando a hierarquia entre os poderes, foi pautada na esfera estadual e legitimou uma invasão que provocou a execução sumária de alguns cidadãos, danos físicos a outros e danos a moral de um país que assistiu aos absurdos vividos em São José dos Campos neste início de 2012.
Em tempo real, imagens capturadas por dispositivos móveis ganharam a rede para denunciar a truculência da estratégia bélica utilizada na retirada de famílias que ocuparam o terreno para garantir o direito à moradia. Filmes e fotos com as cenas de violência ampla e irrestrita praticada contra ocupantes de todas as idades causaram revolta, motivando pronunciamentos indignados como o de Boaventura Sousa Santos, divulgado em http://www.youtube.com/watch?v=-juX_v8AQds&feature=youtu.be
Boaventura aponta as contradições da sociedade capitalista, evidentes neste episódio em que a mobilização judicial pela garantia do direito de um indivíduo atropela a garantia de direitos de muitos. Neste depoimento gravado no FST 2012, o sociólogo ressalta que a direita oligárquica brasileira não desistirá do uso de meios violentos para assegurar avanços tornados possíveis com a impunidade. Analisando o conjunto de fatos inadmissíveis, o professor fala da moção de repúdio produzida no FST e lança ao público a pergunta: “como um país tolera uma coisas dessas?”.
Uma sequência de manifestações realizadas em diferentes cidades serve como resposta a esse questionamento, mostrando que o desreipeito aos direitos e a impunidade tornam-se cada vez mais intoleráveis.
Um desses movimentos aconteceu no Largo da Carioca, na última segunda-feira, dia 23 de janeiro, levando para as ruas do Rio de Janeiro demonstrações de solidariedade aos moradores do Pinheirinho e de repúdio a esta perigosa conciliação de brechas legais e força policial, acionada pela direita brasileira para garantir uma ordem marcada pela repressão e supressão de direitos da maioria.
A marcha do Somos Todos Pinheirinho reuniu integrantes de movimentos políticos, etudantes e contou com adesão de alguns transeutes. Com seu dispositivo móvel, Marcia Rocha coletou a imagem que enriquece este conteúdo colaborativo afinado com ações que manifestam o repúdio aos desmandos e desrespeitos fundamentados no rigor da Lei. Da mesma lei, cujas brechas gera uma histórica e vergonhasa impunidade contra a qual, diferentes atores sociais erguem suas vozes, imagens e textos somando forças no grito dos cariocas: Pinheirinho não está sozinho!