Em Dacar, no coração de um continente duramente atingidas pelos efeitos devastadores da globalização neoliberal e onde uns poucos bater de asas de uma vasta onda de revoluções que já abalaram os impérios, dezenas de milhares de activistas anti-globalização, se reuniram para empurrar ainda mais o movimento agora irreversível rumo a mudanças. A história ainda não acabou … ela é escrita aqui!
Desde a marcha de abertura, com mais de 75 mil participantes, o Senegal e toda a Africa mostraram com brilho que os movimentos sociais locais são parte ativa das grandes lutas atuais pela melhoria de todos. Eles eram originários de mais de 130 países, de todas as partes do mundo que vieram para apoiar os/as africanos/as e imaginar junto as próximas extratégias do movimento altermundialista.
Com umas quarenta assembléias de convergência ao final de um milhar de oficinas, o fórum social de Dakar foi de longe aquele que mais se orientou para congregar estratégias comuns de luta sobre as questões atuais.
Justiça climática
Único presidente internacional a tomar a palavra na cerimônia de abertura (que além de tudo exortou outros chefes de Estado a virem aprender com o FSM!), Evo Morales da Bolívia se apresentou humildemente como “aluno” para em seguida falar da necessidade de manter a pressão cidadã sobre o processo das Nações Unidas sobre o câmbio climático. “As cúpulas de Copenhagem e Cancun não deram em nada” ele disse “e o FSM é um dos aores da construção do movimento pelos direitos da Terra”. Os dias seguintes mostraram que ele estava certo, com dezenas de encontros que trataram do mesmo assunto e as idéias dos atores, tanto do movimento ecológico quanto o conjunto dos movimentos sociais que se reuniram para pensar na continuidade.
Os promotores da iniciativa Rio + 20, por exemplo, debateram com aqueles que querem dar rapidamente uma sequência à primeira ediçao boliviana da Conferência Mundial dos Povos sobre o Câmbio Climático e os Direitos da Mãe Terra. Poque não realiza as duas atividades em conjunto em multiplicar nossas forças? Em Montreal, Alternatives, Dimensão Canadense e outros parceiros também organizarão em abril de 2011 uma grande conferência internacional sobre o mesmo tema, visando reunir os movimentos sociais e ecológicos na mesma trilha.
Palestina livre!
As campanhas palestinas, especialmente do “Boicote, Desinvestimento e Sanções” e das “Flotilhas para a paz” recentemente tem tomado dimensões sem precedentes. Hoje, são centenas pelo mundo, de grupos sociais, sindicatos, partidos políticos, associações de mulheres, associações culturais, etc … que aderem aos princípios das campanhas BDS.
Com a organização em outubro na Palestina, do mais recente Fórum Mundial pela Educação, os palestinos por sua vez tomaram pra si a Carta de Princípios do FSM e passaram a asuperar certas contradições políticas que os dividiam.
Em Dacar, os delegados internacionais e palestinos presentes retomaram uma das propostas do Fórum da Palestina e também apelaram por um Fórum Mundial Temático em que a finalidade única será de reagrupar toda a comunidade altermundista no exercício de solidariedade à Palestina.
Este encontro histórico que marcará um gigantesco passo à frente, bem poderia ser realizado rapidamente em 2012, e já circula a idéia de que seja realizado no Brasil, onde o governo acaba justamente de reconhecer o Estado Palestino.
Comer hoje, para amanhã
O Brasil de Lula não superou a questão essencial da soberania alimentar, essa noção que da às populações o direito de definir sua política agrícola e alimentar a partir das suas necessidades e de seu desenvolvimento e não a partir das regras do comércio internacional. Habitué dos Fóruns, Lula fez um forte apelo em favor de uma África independente dos aumentos arbitrários dos preços dos alimentos pelos mercados internacionais, enquanto que os movimentos senegaleses e internacionais defendiam a mesma idéia de que os poderes públicos e não ogronegócio regulem as etapas e atores da cadeia alimentar.
Após um processo de reflexão sobre esta mesma questão, os movimentos camponeses do Haiti, que foi injustamente atingido em 2007 e 2008 por uma crise alimentar causada por custos crescentes de importação de alimentos norte-americanos – para não mencionar o terremoto de 12 de janeiro, 2010 – propuseram fazer justamente no Haiti um primeiro Fórum Social Mundial sobre Soberania Alimentar.
Desde o início do FSM, as vozes haitianas em Dacar insistiram “apesar do terremoto de Janeiro de 2010, e sobretudo no momento em que se fala na reconstrução do pais, os movimentos camponeses exigem mais do que nunca de seu governo e de toda a comunidade internacional uma política que permita ao Haiti produzir e distribuir alimentos para nutrir toda a população respeitando o meio ambiente. O exemplo haitiano inspira aqui um continente que padece dos mesmos males.
Revoluções árabes
Meios de comunicação ocidentais têm divulgado amplamente a contribuição das tecnologias da informação e comunicação para as revoltas populares na Tunísia e Egito. Sem negar o impacto do Facebook ou Twitter, participantes da Tunísia e do Egito presentesem Dakar também lembraram que o Fórum Social Magreb vem trabalhando desde 2004 com todos os movimentos sociais em seus países para facilitar a criação de dinâmicas alternativas de mudança, progresso e resolução de conflitos. Eles também pretendem que um próximo Fórum Social Africano e do Magrebe sejam realizadas em Túnis, no próximo mês!
O FSM em Montreal em 2013?
Em Dacar, um consenso em torno da idéia de que a próxima edição do Fórum Social Mundial em um país do hemisfério norte está sendo construída. Nossos países, obviamente, desempenham um papel central na manutenção de condições que permitem o empobrecimento das populações, as guerras, ou a destruição dos ecossistemas e da biodiversidade em todo o globo. Os movimentos sociais do norte estão na linha da frente e é importante apoiar a nossa luta em todos esses níveis.
Os movimentos sociais do Quebec e no Canada tem uma longa experiência em mobilização social.
Os movimentos sociais em Quebec e no Canadá têm uma longa história de mobilização social. Recorde-se, sobre isso, as manifestações históricas contra a invasão do Iraque, o que obrigou o governo canadense se retirar da coalizão de George W. Bush, assim como as de Quebec em abril de 2001 que marcaram o fim do projeto americano de construir uma Área de Livre Comércio das Américas.
Atualmente, vastas e novas alianças sociais são construídas em Quebec e no Canadá. Por um lado, para rejeitar a proposta de orçamento do governo liberal ou a loucura de gás de xisto. De outro para denunciar o atual governo do Canadá que desde 2006 passou a minar sistematicamente as instituições e práticas democráticas, liberdade de expressão e outros direitos humanos fundamentais.
Antes, um líder internacional em direitos humanos ou em defesa da paz, antes defensor do Protocolo de Kyoto, o Canadá está se tornandoum dos mais conservadores, como uma peça central na agenda internacional neoliberal. Nossos desafios são imensos.
Em outubro de 2009, a convite de Alternatives International, o Conselho Internacional do FSM se reuniu em Montréal.
O prefeito Tremblay também exortou publicamente os membros do Conselho a considerarem Montreal para uma próxima edição do FSM. É um grande momento para nós, dentro da construção de nossa alianças e nossas estratégias nacionais e internacionais, de refletir seriamente sobre termos o grande encontro altermondialista em Montreal.
A história não terminou … e o próximo capítulo bem que poderia ser escrito por nós!