A trajetória existencial das mulheres negras, tanto na África como na diáspora, surge marcadas por lutas, sofrimentos e resistência. Entretanto, retiramos do próprio cotidiano dolorido a nossa subsistência material, a nossa resistência política e ainda adequados suportes pra nos fortalecer. Como esteio de nossas famílias e muitas vezes das comunidades nas quias nos achamos inseridas, falamos e agimos. Somos palavra-ação. Nossas-vozes-mulheres- negras ecoam do canto da cozinha à tribuna. Dos becos das favelas aos assentos das conferências mundiais. Dos mercados, das feiras, das ruas ás cátedras universitárias. Dos terreiros, das capelas aos movimentos feminista e negro. Desde de ontem…Desde de sempre e para sempre…Nossas vozes propõem, discutem, demandam. Há muito o que fazer-dizer. Há muito que dizer. Em todos os espaços faremos chegar lá nossas palavras. Não tememos. Sabemos falar pelos orifícios das máscaras com tal força que estilhaçamos o ferro. Quem aprendeu a sorrir e a cantar na dor, sabe cozinhar as palavras, pacientemente na boca e soltá-las como lâminas de fogo, na direção e no momento exatos.
(Conceição Evaristo)