Foto: Bia Barbosa
Dacar, Senegal – As reuniões do G-8, em junho deste ano, e do G-20, em novembro, ambas na França, serão dois dos principais alvos das manifestações programadas para este ano pelas ONGs e movimentos sociais que participam do Fórum Social Mundial.
Nas assembléias realizadas pelas organizações nessa quinta-feira (10), em Dacar, os ativistas propuseram todo tipo de estratégias de ação, de protestos nas ruas à cursos de formação e atividades de lobby. A articulação detalhada das ações será feitas ao longo dos próximos meses.
O G-20 deve receber mais atenção. Em primeiro lugar, explica Karen Lang, da rede Nosso Mundo Não Está à Venda, porque o grupo de nações é uma novidade para muitos movimentos. “É diferente do G-8, que é um tema com o qual trabalhamos há muito tempo”, diz ela.
Em segundo lugar, o foco nesta reunião se deve também ao fato de o G-20 ter se tornado a principal instância de debate entre os governos nacionais sobre a governança financeira global, após a crise dos mercados em 2008.
Antes daquele ano, o grupo, criado em 1999 e que reúne ministros da Economia e presidentes de Bancos Centrais de 19 Estados membros e da União Européia, tinha pouca relevância internacional. Mas a crise elevou o status das nações emergentes na economia mundial. O último encontro do G-20 foi realizado em novembro de 2010, na Coréia do Sul, e seu documento final defendeu com mais ênfase a necessidade de regulação dos fluxos financeiros internacionais.
Apesar da proposta em tese progressista, o G-20 não conta com a confiança dos ativistas que participam do Fórum. “Não é a reforma que queremos. Além disso, o grupo não possui mandato nem legitimidade para tomar decisões globais em nome de países que não o compõem”, critica Lang.
A avaliação é semelhante a de Paul Quintos, da Fundação Ibon (www.ibon.org), das Filipinas – país que não participa do G-20. “Como o grupo pode tomar decisões em nome de quem não está lá?”, questiona ele.
O ativistas filipino critica propostas assinadas na Coréia do Sul, como o Plano de Ação Seul e o Plano de Avaliação Mútua (MAP, sigla em inglês). Ambos apontam as medidas que seriam tomadas para reduzir desequilíbrios entre os mercados, mas, para Quintos, servirão mais para incentivar os investimentos das corporações transnacionais.
A preocupação de Nancy Alexander, da Heinrich Boell Foundation, ligada ao Partido Verde, da Alemanha, é semelhante. Segundo ela, o G-20 promoveu o divórcio entra a agenda ambiental e a social e financeira – e isso pode ser “catastrófico”.
Incidência política
As ONGs e movimentos sociais que promoverão ações anti-G-20 e anti-G-8 querem aproveitar seus canais de diálogo com os governos nacionais para levar críticas e propostas.
Para Adolfo Aguirre, secretário de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores Argentinos, o sucesso do lobby sobre governos dependerá de parcerias mais fortes entre sindicatos e os demais movimentos sociais.
Criada em 1991, a CTA fugiu do modelo sindical tradicional de só sindicalizar trabalhadores formalizados e passou a mobilizar, segundo Aguirre, não só “os que trabalham, mas também os que trabalharam e os que buscam trabalho”.
No caso brasileiro, Gabriel Strautman, da Rede Brasil pela Integração dos Povos, acredita que a crítica ao G-20 será dificultada pelo discurso do governo da presidente Dilma Rousseff, que “leva para as pessoas a idéia de que o Brasil virou um país desenvolvido ao fazer parte do grupo”.
Segundo ele, o grupo de nações pouco fez até agora para controlar as finanças globais. “Tudo o que eles fizeram foi resgatar os bancos e aprofundar as contradições do sistema”, afirmou Strautman.
A atual presidência rotativa do G-20 é ocupada pela França. E os temas do encontro ministerial de novembro já estão sobre a mesa:
– Coordenando políticas econômicas e reduzindo desequilíbrios macroeconômicos
– Fortalecendo a regulação financeira
– Reformando o Sistema Financeiro Internacional
– Combatendo a volatilidade do preço das commodities
– Aperfeiçoando a governança global
– Trabalhando em prol do desenvolvimento
Os temas do encontro de junho do G-8, também sob comando da França e também já definidos, são:
– Afeganistão
– Parceria entre G-8, Oriente Médio e Norte da África
– Novos desafios da internet
– Não proliferação de armas de destruição em massa
– Apoio do G-8 à África
– Encontro Ministerial sobre Tráfico Transatlântico de Cocaína
– Contra-terrorismo
– Segurança na União Européia