Em Asturias, a mobilização dos mineiros

Por Sâmia Gabriela Teixeira

O Sindicato dos Metroviários de São Paulo abriu seu espaço, no dia 20 de agosto, para receber o dirigente do Sindicato Independente CSI (Corriente Sindical de Izquierdas), Jose Gonzalez Marin, e seu relato sobre as grandes mobilizações de mineiros na Espanha. O evento, promovido pela CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular), além de abordar a luta da classe operária na Espanha, também proporcionou a reflexão e o debate sobre a crise global econômica e as novas estratégias de enfrentamento contra o sistema capitalista que, segundo observou Marin, “oprime e explora os trabalhadores”.

Em seu discurso, o dirigente mineiro salientou a importância da luta de caráter internacionalista, reafirmando tal estratégia ao revelar surpresa por encontrar no Brasil semelhanças negativas com a Espanha e outros países da Europa. “Saí da Espanha sabendo de novas greves de outros setores, como o da saúde. Quando cheguei aqui, soube da greve de servidores federais e professores. Assim, creio que vivemos numa mesma situação, somos uma só vítima, sofrendo com o ataque do capital”, disse. A luta unificada internacionalista, segundo ele, deve partir não somente de sindicatos e trabalhadores, mas de movimentos sociais também, sobretudo no que diz respeito aos direitos humanos. “É importante expressarmos aqui nossa solidariedade e homenagem aos mineiros da África do Sul, e nos aproximarmos desse grave acontecimento. Desde que cheguei, tive a informação de que a polícia daqui é tão violenta, racista e discriminatória quanto a que executou os sul-africanos. Matam gente simplesmente por ser negra”, comentou, acrescentando que apesar de as violações dos direitos humanos serem evidentes, “os movimentos são constantemente criminalizados por tais estados fascistas capitalistas”.

Astúrias, a Marcha Negra e a mobilização global

O dirigente relembrou, para que fosse melhor compreendida a luta dos mineiros, a ditadura de Franco na Espanha, revelando o viés de enfrentamento que tem em sua formação política e atuação dentro da CSI. “Sabemos que o ditador Franco morreu de doença, e não foi justiçado pela classe trabalhadora como deveria ter sido, mas é importante resgatar a história desde a alavancagem da iniciativa privada na Espanha, que deixou na precariedade e miséria os trabalhadores do campo. Nas Astúrias, temos, historicamente, uma trajetória de luta, que mesmo sob um regime de ditadura, revela mobilizações de seu povo que lutaram por e mantiveram espaços de participação coletiva e ações de movimentos de mulheres e associações de bairro, por exemplo. Conto isso para entender que o que vemos hoje na internet, a Marcha Negra, os protestos, as greves e ocupações, não surgiu do dia para a noite. Nós, da Corriente Sindical de Izquierdas, somos um grupo de resistência, que age por enfrentamento utilizando todos os meios necessários, sem medo de mostrar a cara ou enfrentar a política”.

A Marcha Negra teve um trajeto de aproximadamente 400 quilômetros de caminhada, durou três semanas e reuniu um mar de gente em apoio à luta dos mineiros, tendo como ponto final a cidade de Madrid. Jose Gonzalez Marin, ao relembrar desse acontecimento, diz ficar arrepiado. Quase cem mil trabalhadores se uniram aos mineiros da marcha, e em coro gritavam: “Madrid, obrero, apoya a los mineros”. Segundo o dirigente, “a pressão sobre o governo é para evitar que o país não seja refém da crise e se transforme em uma nova Grécia, e para que o dinheiro destinado aos investimentos para formar trabalhadores não seja dividido no caminho entre governo e sindicatos”.

Representantes da categoria de metroviários questionaram o que pensa Marin sobre as privatizações, tão recorrentes aqui no Brasil, sobretudo, e atualmente, na área de transportes. Ele explicou que “a vitória contra essa política capitalista estará mais próxima na medida em que os setores deixarem de expor suas reivindicações somente para a sua classe, e assim buscar também a construção da unidade internacional contra a política de direitas fascistas”. Além disso, relatou que um dos problemas, também existente aqui, que “prejudica a articulação dos trabalhadores são os sindicatos ‘amarelos’, que aqui definimos como ‘pelegos’, que defendem, antes dos interesses da classe operária, a conciliação patronal, beneficiando apenas o que é rentável para o capital”.

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