Desinformação e a ausência do Estado aumentam a intolerância e o ódio contra os Xavante de Marãiwatsédé

No último sábado (24) o grupo interditou a BR 158. De lá para cá uma série de textos foram produzidos sobre o assunto. As informações veiculadas por sites e jornais de MT são atropelos e fomentam uma desinformação [proposital], alguns casos são tão escrachados que a terra indígena é chamada de Suiá Missu, nome da agropecuária que existia na região na década de 70, que dominou o território onde o povo Xavante vivia antes da chegada dos não-índios.

O protesto dos invasores aconteceu dias depois do encontro entre o cacique Damião Paridzané, representante legítimo da comunidade Xavante de Marãiwatesédé, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, o Secretário de Articulação Social do governo federal, Paulo Maldos, e a presidente da FUNAI, Marta Azevedo, no dia 22, no Rio de Janeiro durante a Rio +20. Na ocasião o cacique e mais um grupo de 12 indígenas entregaram uma carta (leia a carta) pedindo solidariedade e justiça para a luta de seu povo que dura mais de 20 anos.

As lideranças do governo marcaram uma visita a TI para julho e reforçaram que a desistrusão, que foi anunciada em maio, deveria começar imediatamente. E depois de dois dias os invasores, ligados a Associação dos Produtores da Gleba Suiá Missú (Aprosum) liderados por Renato Teixeira (porta-voz do grupo) e pelo advogado Luís Alfredo, interditaram a BR 158, protestando contra a decisão do TRF, que no último dia 15 de maio derrubou a liminar que garantia a permanência dos invasores na área. Segundo informações da mídia, haviam mais de 300 manifestantes, inclusive alguns indígenas Xavantes.

Em entrevista ao jornalista Rene Dioz, o coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Ribeirão Cascalheira, que atua junto a TI disse que “ um ônibus com 42 índios xavantes foi interceptado na noite do último sábado (23) saindo da região de Maraiwatsede. Os índios haviam sido levados para participar das manifestações encabeçadas por cerca de 300 posseiros. Segundo o representante da Funai, descobriu-se que eram todos Xavantes de aldeias nas imediações de cidades como Campinápolis, Barra do Garças e Água Boa. O ônibus havia sido fretado pela Associação dos Produtores da Gleba Suiá Missú (Aprosum), informou o coordenador”

Quanto vale a desinformação?

Seguido das manifestações, duas pontes foram incendiadas na BR 158 que é a única via de acesso para a maioria das cidades da região norte Araguaia. Não se sabe quem foi. As fotos estão sendo amplamente divulgadas na internet, e isso vem fazendo com que internautas, sobretudo, as pessoas que vivem na região mostrem sua intolerância, ódio aos indígenas e mostrem o grau de desinformação que possuem. Regionalmente falando, grande parte da população do Araguaia é a favor dos invasores e consideram os índios “problema”, “preguiçosos” “ pessoas que impedem o progresso” . São trechos de publicações no facebook, na minha página pessoal em uma notícia sobre Marawatsédé. Em uma dessas manifestações populares, uma usuária foi ainda mais longe. Ao fazer o comentário sobre as pontes ela dispara palavrões contra os índios e também demostra sua ira.

link da imagem: http://www.comguariroba.com.br/2012/06/desinformacao-e-ausencia-do-estado.html

E até agora, o estado de Mato Grosso não se posicionou oficialmente sobre os últimos acontecimentos e continua inerte e inoperante. Para Maria José, representante dos Direitos Humanos, da prelazia de São Félix do Araguaia, que acompanha a questão há mais de 10 anos, diz a ausência do estado agrava a situação. “Em todo esse tempo, foram poucas as conquistas, o primeiro fato importante foi o retorno dos Xavante, obrigando o Estado a tomar providências; outro fato significativo foram as decisões da Justiça Federal (1ª e 2ª instâncias), determinando a retirada de todos os não-indígenas da TI Xavante; apesar das decisões tudo continuou como se nada tivesse acontecido, possibilitando que os invasores se articulassem, mantendo-se na TI ; isto foi um grande retrocesso, pelo qual o próprio Estado é responsável”, afirmou.

Rizza Matos é jornalista, ativista por outra comunicação, trabalha e vive entre o Cerrado e Amazônia mato-grossense.

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