Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), a urgência de construirmos e adotarmos novos modelos de desenvolvimento, baseados na sustentabilidade, solidariedade e justiça, fica ainda mais latente. Grande parte da sociedade está convencida de que a mudança que se espera não virá das decisões dos chefes de estados, que comporão as delegações oficiais da Rio+20. Cabe à sociedade como um todo se engajar no processo, pressionar, propor e experimentar novos formatos de relação com o planeta.
O debate, mediado por Oded Grajew, um dos idealizadores do Forum Social Mundial, contou com as presenças do socioambientalista Tasso Azevedo; do escritor Frei Beto; do teólogo Leonardo Boff; do secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano no Ministério de Meio Ambiente, Nabil Bonduki; do presidente do Instituto Ethos, Jorge Abraão; do economista político Ladislaw Dowbor e da ex-senadora Marina Silva.
Criar estratégias sustentáveis para garantir a qualidade de vida para os milhões de habitantes das cidades é um grande desafio e passa por variadas e complexas questões. Planejamento urbano, saneamento básico, mobilidade, acesso aos serviços, política de resíduos, habitação, etc. No centro do debate está a superação da pobreza, que atinge a grande maioria da população urbana, em maior parte afetada pelos problemas do crescimento desordenado das cidades. “Temos uma absoluta concentração de renda e de pessoas por território. Esvaziamento das pequenas cidades e contínuo crescimento das cidades médias, outras metrópoles”, observou Bonduki.
Se por um lado as cidades se configuram num grande dilema para a sustentabilidade, por outro, a forma como estão organizadas podem facilitar a solução dos problemas, uma vez que torna muito mais possível a mobilização de pessoas. “Dentro da cidade, podemos discutir a qualidade de vida do planeta e do país, com a forte possibilidade de que muitas pessoas possam se comprometer em dar sustentabilidade”, destacou Marina Silva.
No geral, as crises que vivenciadas atualmente revelaram que o rumo está errado. O planeta já deu provas de que não suportará o atual modelo de vida, baseado no consumo desenfreado, na acumulação de riquezas e na exploração insustentável dos recursos naturais. Para grande parte da humanidade já não há dúvidas de que o capitalismo falhou e que é preciso reinventar outro jeito de estar no mundo. “Precisamos de uma nova mente e um novo coração. E isso requer um sentimento de responsabilidade global e responsabilidade coletiva. Para juntos chegar a um modo sustentável de viver”, disse Leonardo Boff.
Para João Abraão, as crises são sinônimos de oportunidade, uma chance que a população mundial tem de decidir um novo caminho. “Essas crises que vivemos – social, ambiental, ética – estão na verdade, integradas, e podemos encarar isso como uma grande oportunidade, de participar de um momento em que podemos construir as diretrizes de um movimento de desenvolvimento sustentável”, concluiu.