A atmosfera de lançamento dos Fóruns Sociais consegue ter um DNA em comum a cada edição e isso se repetiu no dia 24, com o Fórum Social Temático – FST 2012, em Porto Alegre. As mais diversas “tribos” se misturaram e ao mesmo tempo se separaram em blocos e colocaram suas reivindicações na pauta das palavras de ordem, nos jingles improvisados, nas estampas das camisetas, bandeiras e faixas, que destacam as linhas políticas dos militantes.
Ao mesmo tempo, que se assemelha à vibração de um carnaval de rua, se caracteriza por uma energia que denota a necessidade de mudanças. Tudo isso a gente sente ao participar dessa manifestação popular, que nada mais é, do que a demonstração do que está preso, na garganta da população e de representantes de entidades do terceiro setor e sindicais.
Neste ano, a carga da justiça socioambiental ganhou maior relevância. O “verde” se destacou entre o colorido, por meio de participantes do SOS Mata Atlântica, do Greenpeace, da Rede Brasileira de Educação Ambiental (Rebea), do Comitê de Bacias Hidrográficas do Paraná, entre outras. Entre o tom irônico e denunciador – em que caixões simbolizavam, por exemplo, atitudes que podem destruir o meio ambiente -, emergiram temas como o processo de votação do Código Florestal (que retornou à Câmara) e deve ser votado em março; a questão da conservação da biodiversidade e bandeiras contra a adoção da energia nuclear.
No meio dessa gama de reivindicações, um tema que ocupa atualmente as manchetes dos jornais, teve relevância: a reintegração de posse no bairro Pinheirinho, em São José dos Campos. Além de questionamentos sobre o modo de intervenção do governo paulista, uma faixa enorme pendurada sobre o viaduto acima da avenida Borges de Medeiros chamou a atenção de quem passava por lá.
Entre um rosto pintado ou um cidadão simplesmente com a “cara limpa”, o que ficou claro é a importância de se fazer ouvir. Eram estudantes, aposentados, donas de casa, militantes sindicais, educadores, enfim, um microcosmo do que é nossa sociedade.
O direito à igualdade de gênero e raça, a opções sexuais afloravam de forma recorrente entre os manifestantes. Algo que é uma marca tradicional, demonstrando que ainda há muito a se conquistar nesta área.
Nos bastidores dessa manifestação, outros personagens não podem ser esquecidos: os garis, que incansavelmente tentavam deixar as vias limpas e “catadores de sucatas, com seus carrinhos de madeira, tentavam coletar resíduos recicláveis, abandonados pelas esquinas. E vale esse parênteses, pois isso demonstra que o problema ambiental é necessariamente acelerado pela ação do ser humano. As controvérsias que fazem com que o cidadão seja ao mesmo tempo vítima e co-autor dos próprios problemas que o atinge. Isso se estende a suas escolhas políticas, atitudes cotidianas.
E voltando para a grande massa caminhando pelas ruas, ao ver um grande panô, feito a várias mãos, onde cada pedaço traduzia um anseio de uma categoria profissional ou simplesmente do usuário do serviço público, a sensação da importância de se incentivar as economias criativa e solidária tomou corpo. A arte dizia muito mais do que palavras ao microfone. Talvez, tenha sido uma das curiosidades dessa edição que mereça um destaque. Lá todos os recados estavam dados, sem alardes, e de forma objetiva.
Sob um calor acima dos 32 graus e a conquista de algumas bolhas nos pés e de um cansaço prazeroso, se é possível ser identificado desta forma, na fase final da marcha, uma chuva intensa, típica de verão, veio refrescar os manifestantes. Metaforicamente, veio arejar as ideias para as discussões importantes e necessárias que integram a programação do evento, até o próximo dia 29.
Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk – www.twitter.com/SucenaSResk