Imagem: Stella Oliveira
Como utilizar o potencial tecnológico para a criação de novas linguagens, disseminação de conteúdo e articulação de ações militantes? Essa foi a questão guia da quarta mesa de debates do III Fórum de Mídia Livre que aconteceu nessa sexta-feira (27), na Casa Mario Quintana, em Porto Alegre. Parte das atividades do Fórum Social Temático, o debate contou com os desconferencistas Vitor Guerra, do Fora do Eixo, Thiago Skarnio, do Pontão de Cultura Digital Ganesha, José Sóter, representante da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias e Javier Torret, articulador do movimento M-15 da Espanha.
A partir da experiência espanhola durante a ocupação das praças, Toret pontuou a necessidade de aproveitar a potência da internet para levar as pessoas as ruas, apropriando-se das tecnologias para construir um plano efetivo de ação. Conforme ele, foram utilizados todos os canais de comunicação disponíveis de modo que o movimento resultasse em uma composição diversa, com gente da universidade, movimentos, sindicatos e aqueles que não estavam engajados em nenhuma organização. “É um movimento apartidário e asindical (sic) – ainda que não se oponha aos partidos e sindicatos. Um espaço de autonomia em que as entidades e organizações ficam por trás das questões comuns”, reiterou.
O exemplo da Marcha da Liberdade no Brasil foi outro que apareceu durante a discussão. O processo iniciou-se por conta da repressão policial à Marcha da Maconha em São Paulo. A partir da indignação com a violência e censura ao movimento, foi convocada pela internet uma marcha a acontecer simultaneamente em diversas cidades e que trouxesse como principal bandeira a defesa da liberdade de expressão, conectando, assim, muitas pautas. Para Guerra, do Coletivo Fora do Eixo, esse seria outro bom exemplo de como utilizar o online para ganhar corpo e tomar as ruas. “O resultado foi bastante diverso. Em Cuiabá, a Marcha deu destaque à luta pela moradia. Em São Paulo, esteve mais relacionada com a questão da maconha. O processo propiciou a conexão do online com o offline. A cobertura foi acessada por 90 mil IPs diferentes”, afirmou.
Durante as discussões, a preocupação com a articulação entre o uso das novas tecnologias e as velhas mídias também apareceu, sendo que a concentração existente hoje na radiodifusão tenderia a se repetir na audiência dos portais no ciberespaço. Da mesma forma, questões relativas ao acesso à banda larga assim como a mecanismos de produção foram citadas. Sóter destacou ainda a importância da formação e capacitação para o uso das tecnologias, de modo que o exercício do direito à comunicação seja garantido a setores amplos da sociedade brasileira.
Além da apropriação tecnológica, a inovação por meio de softwares livres foi debatida como uma questão central. “Embora existam muitas tecnologias livres para a produção, faltam plataformas de integração que permitam, por exemplo, criar um banco da cultura digital” afirmou Lucas Alberto, da Associação de Software Livre. Para ele, definir prioridades conjuntas e realizar a integração seria prioridade.
O Fórum deMídia Livre segue nesse sábado (28), na Casa Mario Quintana, em Porto Alegre. Em debate, as políticas públicas de comunicação e a realização do II Fórum Mundial de Mídia Livre que acontece no Rio de Janeiro em junho, durante a Cúpula dos Povos, atividade transversal à Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20. Além disso, pela tarde, ocorre a plenária final do evento, que deve encaminhar um documento com a sistematização dos debates.