Um ato na Cidade Baixa de Porto Alegre, fortemente marcado pelo sentimento de indignação com a perda de direitos que vem sendo aprovada no Congresso e a repressão a movimentos de moradia, marcou a abertura oficial do Fórum Social das Resistências, evento que ocorre de terça a sábado na capital do Rio Grande do Sul.
Além de movimentos sindicais, em especial entidades da CUT e da CTB, que tradicionamente mobilizam ṕara a marcha de abertura, a predominância do ato, modesto em relação às grandes marchas das edições mundiais do FSM, foi de coletivos e ocupações populares de Porto Alegre.O ambiente no Largo Glênio Peres, onde ocorreu a concentração para a marcha no final da tarde, foi de preocupação com as notícias que vinham de São Paulo, com a prisão da liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Guilherme Boulos, e a expulsão de 700 famílias da Ocupação Colonial, para reintegração de posse por força policial.
Guilherme Santos/Sul21
“O companheiro Guilherme Boulos, membro da coordenação nacional do MTST, que estava acompanhando a reintegração de posse da ocupação Colonial, visando garantir um desfecho favorável para as mais de 3.000 pessoas da ocupação, acaba de ser preso pela PM de São Paulo sob a acusação de desobediência civil”, foi a mensagem divulgada pelo movimento. Faixas na caminhada dos grupos de manifestantes até a Cidade Baixa e discursos feitos no ato final pediam liberdade para a liderança.
Entre as delegações quie se manifestavam, um grupo de mulheres da Ocupação Mirabal, de Porto Alegre, mostrava apreensão com as ameaças de reintegração de posse do prédio onde funcionou por mais de 20 anos o Lar Dom Bosco, um orfanato coordenado pela Congregação Salesiana, e que foi ocupado por cerca de 100 mulheres em 25 de Novembro de 2916, dia dia internacional de combate à violência contra a mulher, Elas exigiam a transformação do prédio em Centro de Referência para as mulheres que sofrem violência, serviço que não existe na cidade. Do dia em que colocaram flores nas janelas para marcar o início do centro informal, a Ocupação Mirabal já passou por quatro ameaças de reintegração, todas suspensas, mas agora temem os acontecimentos que virão com o fim do recesso judiciário.
Os desafios dos trabalhadores nos debates da manhã
A programação do FSM já começou pela manhã, antes da marcha de abertura, com um painel no auditório da Fetag, sobre “Os desafios da classe trabalhadora diante da ofensiva neoliberal”. Em destaque, foi apontada a necessidade da mobilização para barrar a reforma previdenciária proposta pelo governo Michel Temer . Analisando os argumentos em torno do projeto, ela contestou a ideia de que o país esteja passando por uma crise fiscal. “A disponibilidade do Governo Federal no Banco Central do Brasil, Conta Única, em novembro de 2016, era próxima a 1 trilhão de reais líquidos” disse ele. “Este é um país riquíssimo”, afirmou.
Outro debate foi realizado no Hotel Embaixador, com “América Latina: que caminhos seguir?”, com participantes do Peru, Bolívia, Chile, Argentina, Uruguai, Nicarágua, Venezuela e Brasil, que se propuseram a trabalhar durante o Fórum na contrução um plano de trabalho para as lutas conjuntas nos próximos anos, contra os sistemas de exploração dos recursos e dominação dos povos do continente.
O Fórum Social das Resistências prossegue comdebates da conjuntura internacional nesta quarta-feira e terá uma série de plenárias temáticas na manhã de quinta. À tarde, haverá uma Assembleia dos Povos em Luta, reunindo as propostas e agendas das várias plenárias, para uma agenda de mobilização comum. Atém disso, haverá exibilização de filmes e participação de diretores em um debate sobre Cinema e Cultura de Resistência, onde são esperados Eliane Caffé, Silvio Tendler, Joel Zito Araújo e Tatá Amaral. Os dois dias seguintes serão ocupados por atividades autogestionadas e uma reunião do Conselho Internacional do FSM.