Muita gente já sabe que Juvana Petyrhara, índia Xakriabá, foi presa quando participava do “O Grito dos Excluídos” em Montes Claros, Norte de Minas Gerais, que acontece junto ao desfile de 7 de Setembro. Como registrei boa parte da ação das indígenas desde o inicio da preparação do ato, talvez seja importante reportar o que aconteceu.
Vi quatro moças índias se ornamentando antes da marcha. Sentei ao lado de uma, enquanto as outras se pintavam. Indaguei o que estavam fazendo ali. Silla, índia Xakriabá, disse que vinha de uma reserva indígena em São João das Missões, mas estudava enfermagem em Montes Claros. Queria voltar logo para reserva, pois seu povo precisava de assistência. Eu achei lindo, mas ainda queria saber qual era seu protesto. “A gente tá aqui protestando contra o extermínio dos Guarani-Kaiowás e contra a PEC215 que é acaba com demarcação de terras indígenas”. Afirmou.
A marcha saiu com o canto latente. Chegando a avenida principal onde acontecia o desfile de oficial. A polícia, armada, fez um grande cerco e bloqueou totalmente os participantes do ato. As senhorinhas das pastorais e estudantes pediam aos policiais para seguir na avenida. Sem sucesso algum.
As índias que estavam todas caracterizadas com pinturas e instrumentos tradicionais, por um momento oferendaram tudo num circulo ao chão, ficaram de joelhos num tipo de ritual de súplica. Enquanto as pessoas tiravam fotos e os policiais observaram com o semblante fechado. Elas então levantaram e fizeram uma dança com cantos típicos.
No Grito dos Excluídos é possível ver todas as causas sendo externadas. LGBT, negros, artistas, aposentados, servidores, questão de terra e água, todas as pautas políticas possíveis. E é claro, a situação mais gritante: a violência contra os índios. Que foi um caso marcante.
Quatro índias, estudantes, caracterizadas com as pinturas e apetrechos de seu povo, diante da representação de força do Estado, policiais fortemente armados que estavam ali para protegê-las; para que sua expressão, encenação de rituais espirituais e de luta acontecesse sem transtornos.
Sobre tudo que já foi visto, escrito e discutido, serve o alerta máximo: até quando vamos excluir violentamente os índios do Brasil que era deles antes mesmo de ser Brasil?
Wil Correia é jornalista e está em Montes Claros, MG, 31°.