Após dois anos tentando convencer o Conselho Internacional de que os jovens do Quebec tem condições de organizar um Fórum Social Mundial, a delegação canadense, presente em peso à última reunião em Túnis, obteve uma vitória que nem mesmo os mais obstinados defensores da proposta esperavam: a aprovação entusiasmada, e por unanimidade, de uma próxima edição centralizada, em 2016, em Montreal.
Responsáveis por tornar a proposta palatável às organizações do CI, os jovens Carminda Mac Lorin e Rafael precisaram enfrentar vários fatores fortes que pesaram contra as chances de sucesso dessa empreitada. O primeiro deles, e o mais importante, era a resistência de algumas organizações do Canadá à decisão de fazer um evento de tamanha envergadura sem a necessária articulação entre sociedade civil, incluido o movimento sindical, o governo, agências financiadoreas e os provedores de infraestrutura, para assegurar a acolhida das milhares de pessoas que acorrem ao FSM.
A principal preocupação, que ainda está posta na mesa, é a garantia de vistos para visitantes provenientes dos países do sul, especialmente da África e América Latina. As organizações jovens asseguraram que essas negociações estão avançando e que o respeito à diversidade da participação e à universalidade do acesso será uma prioridade. Além disso, desde 2013, quando a proposta foi apresentada na reunião do CI em Casablanca, o grupo organizador local tem voltado suas energias ao trabalho de articulação entre instituições e movimentos e conseguiu chegar a Tunis sem qualquer oposição declarada. No máximo, as organizações impuseram condições, aceitas pelos organizadores.
Com isso, o FSM em Montreal torna-se o primeiro evento centralizado a ocorrer em um país do Hemisfério Norte e, além disso, o primeiro a ser organizado sob o protagonismo da juventude. A renovação do processo FSM tem sido uma preocupação constante nas reuniões do CI e a garra com que os representantes canadenses conseguiram inserir sua agenda improvável ao conjunto de representantes históricos foi saudada como uma demonstração do vigor do próprio processo FSM.
Fórum Temático em Porto Alegre
O FSM do Canadá traz outra novidade: uma edição centralizada que ocorrerá no meio do ano, em agosto de 2016, época de clima mais ameno para visitantes e com um pouco mais de tempo para o processo de organização. Isso porque, na reunião de Casablanca, a decisão de fazer um fórum a cada dois anos foi flexibilizada, para acomodar a proposta do Quebec de fazer um fórum mundial ainda em 2016. Mas o início de cada ano, e particularmente a ocasião em que ocorre a reunião do Fórum Econômico Mundial em Davos, continua sendo um período de mobilização do FSM no Brasil.
Em 2016, o FSM completa 15 anos como espaço de encontro de movimentos e articulação das lutas sociais e a proposta de Porto Alegre, que sempre realiza fóruns temáticos nos intervalos das edições mundiais, é fazer uma comemoração de peso. O FSM 2016, em janeiro, terá características de evento global e será também uma etapa preparatória para a edição no Quebec.
Além disso, o Conselho Internacional deu encaminhamento a duas outras propostas. A primeira é a mais importante agenda política do FSM em relação ao seu futuro: a realização de um seminário sobre seu funcionamento, representatividade, dinâmica e eficácia no fortalecimento nas lutas globais anti-capitalistas. A segunda foi a candidatura da Grécia para sediar um evento do FSM, após a vitória da Syriza e das posições contra o ajuste econômico nas últimas eleições nacionais no país. Ficou definido que o próprio seminário sobre o FSM será realizado na Grécia e, com isso, até o processo FSM na Europa,hoje totalmente desarticulado, pode ganhar um novo alento.
Fórum de Mídia Livre terá temático sobre a internet
O Fórum Mundial de Mídia Livre conseguiu concluir em Túnis um processo de dois anos de trabalho para a construção de uma carta contendo os princípios e as lutas fundamentais pelo direito à comunicação acordadas pelas mídias livres nos diversos países já envolvidos no processo. Só em 2014 foram realizados quatro seminários internacionais e lançada uma consulta pública pela internet, em quarto idiomas ,para a elaboração do documento.
Para finalizar a carta, participantes do FMML iniciaram as atividades em Tunis dois dias antes do FSM, com grupos de trabalho e plenária que debateu, revisou e aprovou o texto. A carta da mídia livre foi lançada na Assembleia de Convergência pelo Direito à Comunicação, no último dia do FSM (28).
Outra marca da IV edição do FMML foi o debate sobre o futuro da internet e a participação da sociedade civil na sua governança. Uma mesa temática foi organizada em conjunto pelo FMML e o Coletivo Brasil-Túnis, já vislumbrando que o período da próxima conferência do Fórum de Governança da Internet (IGF), agendado para novembro de 2015, em João Pessoa – Brasil, exigirá grande mobilização em defesa da democracia na rede.
Várias atividades sobre internet, segurança digital e soberania computacional foram realizadas no Hacklab do FMML, resultando em uma proposta de trabalho hacker de organização das próximas edições do FSM, com a criação de redes e infraestrutura independente para uma internet fora da internet (Rede Mesh) . Além disso, organizações que propõem a realização de um Fórum Social Temático sobre internet realizaram uma reunião, buscando convergências para a promoção de um evento que mobilize e a sociedade civil.
O resultado foi a aprovação, na Assembleia de Convergência pelo Direito à Comunicação, das propostas em torno do tema da Internet, e de um seminário em que as convergências sejam aprofundadas. A data será definida conjuntamente.
Entre as várias propostas aprovadas na Assembleia, estão as que foram apresentadas por representantes palestinos, curdos e sarauis, de trabalharem estratégias conjuntas entre o FMML e os povos que lutam por libertação, para fazer frente às distorções propagadas pela mídia de mercado.