Com o tema “Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental”, o Fórum Social Temático 2012 serviu de palco, de terça-feira a domingo (24 a 29/01), no Rio Grande do Sul, para encontros, debates, discussões e elaborações de ideias para a Rio+20. Junto a nomes ligados ao governo e de diversas organizações, que atuaram como coadjuvantes, os protagonistas foram os membros da sociedade civil, ligados à Cúpula dos Povos, grupo focado no encaminhamento de ideias ao que chamam de Rio+20 dos Povos. São cidadãos comuns, ligados a movimentos, coletivos e organizações não-governamentais que pretendem levar propostas alternativas à negociação formal que será conduzida pelos governos do mundo todo durante a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), que acontecerá entre 13 e 22 de junho, no Rio de Janeiro.
Durante o debate na mesa “Rumo à Rio+20 dos Povos: Democracia Real já!”, o membro da Comissão Brasileira Justiça e Paz (CNBB) Francisco Whitaker Ferreira pediu atenção para aqueles que não estão na luta por um mundo melhor.
“Os que dominam e escravizam o mundo representam um por cento. Só que, analisando os números, percebemos que nós que protestamos e queremos mudanças também somos um por cento. Os 98% que sobram são aqueles que podem realmente mudar alguma coisa, só que quase metade disso vive lutando para sobreviver. Essas pessoas estão insatisfeitas e não querem ter coisas, mas ser gente e viver em comunhão com eles mesmos e com seus semelhantes. Há uma camada chamada classe média que é formada por pessoas que podem consumir. É com essas pessoas que precisamos falar, passar as informações que temos e explicar o que está acontecendo. Esse é o processo do Fórum Social Mundial”, declarou Chico.
Cofundador do Fórum Social Mundial, cuja primeira edição aconteceu em Porto Alegre, em 2001, Whitaker participou de diversas mesas, debates e plenárias durante o Fórum Social Temático: “O Fórum Social Mundial passou por várias etapas. Ele começou com a proposta de discutir o que ia ser discutido no Fórum Econômico Mundial, em Davos, de que tudo se resolve pela lógica do mercado. Mas essa proposta não é verdadeira. Nossa ideia era criar um mundo diferente na primazia da solidariedade e das necessidades humanas. Não podemos transformar tudo, até mesmo a saúde das pessoas, em mercadoria. Essa proposta foi feita no fórum de 2001, que foi muito bem sucedido. De lá pra cá, fizemos o segundo, o terceiro e, quando chegou no quarto, já tivemos que fazer fora do Brasil (em 2004, o fórum foi realizado na Índia). E, agora, acontece pelo mundo afora, com fóruns regionais, nacionais e locais.”
Considerado uma etapa preparatória para o Rio+20 dos Povos, o Fórum Social Temático foi realizado na capital do Rio Grande do Sul e em cidades da Região Metropolitana (Gravataí, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo), com direito a presença da presidenta Dilma Rousseff e de diversos ministros, inclusive o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República do Brasil, Gilberto Carvalho. Nomes como o do teólogo brasileiro, escritor e professor universitário Leonardo Boff, do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil e da ambientalista Marina Silva também participaram das discussões sobre a Cúpula dos Povos. Iara Pietricovsky, membro do colegiado do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), e Roberto Jakubaszko, membro da comissão organizadora do Fórum Social Temático, também levaram pensamentos ao FST. A principal crítica levantada durante os debates foi em relação ao conceito de economia verde.
“A economia verde vai repetir a lógica do capitalismo, só que privatizando os bens comuns que temos. A água, o ar… Esse é um fórum social local, que também é um fórum temático porque tem um tema para ser aprofundado. E esse tema é a preparação da participação da sociedade civil na conferência Rio +20. Discutimos aqui o que deveria ser levado para o Rio paralelamente à conferência da ONU. Isso acontece 20 anos depois da Eco 92, conferência na qual se começou a discutir ecologia e meio ambiente. Uma das questões é o que chamam de economia verde, que não é nada além de pintar de verde tudo o que já se faz”, critica Chico.