Intervozes
A pergunta “qual o futuro do Fórum Social Mundial” é daquelas que, já há alguns anos, tem ocupado parte importante das reflexões e debates entre as organizações que, há 15 anos, deram os primeiros passos do processo que se propôs a articular forças progressistas em todo o planeta para construir um outro mundo possível. As respostas são muitas, e seguem em debate esta semana em Porto Alegre, nas centenas de atividades e conferências do Fórum Social Temático voltado a celebrar este importante aniversário do FSM.
Enquanto isso, a jornada da organização de novas edições do Fórum continua. E a próxima etapa se dará no Canadá, de 9 a 14 de agosto, no primeiro encontro do FSM num país do hemisfério norte. Nesta quarta-feira (20/01), o coletivo canadense que veio ao Brasil apresentou os principais temas e princípios em que está baseada a organização do próximo Fórum. Uma metodologia de construção horizontal é uma das principais apostas para, além de articular diferentes setores da esquerda no país sede e ao redor do mundo, reinventar o Fórum Social Mundial, repactuando sua importância estratégica com movimentos sociais, organizações da sociedade civil e ativistas dos cinco continentes.
“O que nos une é o sonho por um mundo diferente, em que homens e mulheres vivam com dignidade, no qual todos possam ser empoderados e contribuir da sua própria maneira”, conta Carminda MacLorin, coordenadora do Comitê de Montreal. “Tentamos viver de maneira ativa essa horizontalidade, para criar um movimento em que todos e todas se reconheçam, porque precisamos de todos para construir este Fórum. Outro mundo não só é possível, mas necessário. E o caminho para fazer isso é construindo juntos”, acredita a militante, que integrou as recentes lutas do movimento Occupy no país.
A estratégia é fundamental para atrair um segmento que sempre se mostrou central nas lutas do FSM: as juventudes. No Canadá, elas estão representadas não apenas na maioria do comitê organizador local como também nas ações de mobilização para o Fórum. Cerca de 1500 escolas secundárias do país foram convidadas para participar do encontro em agosto. O objetivo é atingir mais de um milhão de jovens e prepará-los para este mergulho no movimento altermundista.
“Queremos facilitar ao máximo o percurso de um jovem dentro do FSM, para que eles participem de maneira organizada, e não só estejam presentes”, explica Caterina Milani, do Comitê de Juventude. Uma das ferramentas de acolhimento desenvolvidas é um projeto sobre o Fórum que será distribuídos aos professores dessas escolas secundárias, para que eles pautem e debatam a história, os objetivos e conquistas do FSM dentro da sala de aula, já neste semestre. É material que outros países e comitês poderão, inclusive, replicar ao longo dos esforços de mobilização rumo ao Canadá.
Organizações e movimentos tradicionais, entretanto, não ficarão de fora. Uma chamada global de participação já foi lançada e a maior central sindical do país, por exemplo, já confirmou presença.
Eixos principais
Dentre os temas que devem concentrar as atenções na edição de Montreal está a proteção ao meio ambiente e o combate ao aquecimento global e à ação das petrolíferas e mineradoras. O movimento social canadense hoje conta com uma forte articulação contra a destruição de territórios indígenas pela ação de empresas de mineração. Parte da delegação do país que veio a Porto Alegre passará, antes da volta pra casa, por Mariana, para ver de perto os impactos do crime ambiental praticado pela Vale e pela Samarco.
“Acreditamos que o neoliberalismos está totalmente ligado à destruição ambiental. Que há uma relação entre a crise financeira e a crise ambiental. Por isso, vamos testemunhar este desastre, criar laços de solidariedade com quem luta contra as mineradoras e esperamos que, durante o FSM, seja possível reunir pessoas de todo o mundo para pressionar empresas e governos para que respeitem o meio ambiente e os direitos dos povos”, afirmou Dominique Bernier, da ATTAC Quebec.
Considerando também a importância do movimento feminista no Canadá, o FSM 2016 contará com um eixo temático sobre diversidade de gênero, que está sendo organizado por um comitê feminista local. Segundo a delegação canadense em Porto Alegre, será possível integrar esses comitês à distância nos próximos meses de preparação do encontro. Outros temas centrais serão a questão da descolonização e os desafios dos refugiados e imigrantes no mundo.
Fórum de Mídia Livre
Como todas as edições do FSM, essa também será precedida de Fóruns Temáticos, como o Fórum Mundial de Mídia Livre. A quinta edição do FMML está sendo organizada a partir de quatro eixos: o futuro da internet e sua governança; vigilância em massa e segurança dos midialivristas; sustentabilidade das mídias livres; e a defesa das redes de comunicação dos povos originários – tema muito importante no contexto canadense.
Stéphane Couture, pesquisador da Universidade McGill e membro da comissão organizadora do FMML no Canadá, também lembrou que o evento prévio contará com um Laboratório Hacker, como nas edições anteriores, e que seus ativistas também contribuirão com a cobertura compartilhada do FSM ao longo dos dias seguintes do Fórum.
Para além dos debates sobre mídia livre, a comunicação institucional do FSM também será uma ferramenta importante de mobilização de participantes em todo o mundo. O site do Fórum de Montreal, trilingue, já traz um formulário para inscrições online e a possibilidade de se cadastrar para receber uma newsletter com todas as novidades do processo. A página também traz informações sobre como tirar visto para entrar no Canadá e solicitar apoio finaceiro para a viagem.
Esta, aliás, é outra novidade desta edição: uma plataforma de sociofinanciamento, por meio da qual interessados em participar do Fórum poderão apresentar projetos (prioritariamente em inglês ou francês) e o comitê local buscará financiadores para apoiar a viagem de indivíduos ou organizações ao Canadá. A expectativa é reunir entre 50 e 80 mil pessoas, representantes de 5 mil organizações, de 120 países diferentes.
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Por Bia Barbosa,
Intervozes
A pergunta “qual o futuro do Fórum Social Mundial” é daquelas que, já há alguns anos, tem ocupado parte importante das reflexões e debates entre as organizações que, há 15 anos, deram os primeiros passos do processo que se propôs a articular forças progressistas em todo o planeta para construir um outro mundo possível. As respostas são muitas, e seguem em debate esta semana em Porto Alegre, nas centenas de atividades e conferências do Fórum Social Temático voltado a celebrar este importante aniversário do FSM.
Enquanto isso, a jornada da organização de novas edições do Fórum continua. E a próxima etapa se dará no Canadá, de 9 a 14 de agosto, no primeiro encontro do FSM num país do hemisfério norte. Nesta quarta-feira (20/01), o coletivo canadense que veio ao Brasil apresentou os principais temas e princípios em que está baseada a organização do próximo Fórum. Uma metodologia de construção horizontal é uma das principais apostas para, além de articular diferentes setores da esquerda no país sede e ao redor do mundo, reinventar o Fórum Social Mundial, repactuando sua importância estratégica com movimentos sociais, organizações da sociedade civil e ativistas dos cinco continentes.
“O que nos une é o sonho por um mundo diferente, em que homens e mulheres vivam com dignidade, no qual todos possam ser empoderados e contribuir da sua própria maneira”, conta Carminda MacLorin, coordenadora do Comitê de Montreal. “Tentamos viver de maneira ativa essa horizontalidade, para criar um movimento em que todos e todas se reconheçam, porque precisamos de todos para construir este Fórum. Outro mundo não só é possível, mas necessário. E o caminho para fazer isso é construindo juntos”, acredita a militante, que integrou as recentes lutas do movimento Occupy no país.
A estratégia é fundamental para atrair um segmento que sempre se mostrou central nas lutas do FSM: as juventudes. No Canadá, elas estão representadas não apenas na maioria do comitê organizador local como também nas ações de mobilização para o Fórum. Cerca de 1500 escolas secundárias do país foram convidadas para participar do encontro em agosto. O objetivo é atingir mais de um milhão de jovens e prepará-los para este mergulho no movimento altermundista.
“Queremos facilitar ao máximo o percurso de um jovem dentro do FSM, para que eles participem de maneira organizada, e não só estejam presentes”, explica Caterina Milani, do Comitê de Juventude. Uma das ferramentas de acolhimento desenvolvidas é um projeto sobre o Fórum que será distribuídos aos professores dessas escolas secundárias, para que eles pautem e debatam a história, os objetivos e conquistas do FSM dentro da sala de aula, já neste semestre. É material que outros países e comitês poderão, inclusive, replicar ao longo dos esforços de mobilização rumo ao Canadá.
Organizações e movimentos tradicionais, entretanto, não ficarão de fora. Uma chamada global de participação já foi lançada e a maior central sindical do país, por exemplo, já confirmou presença.
Eixos principais
Dentre os temas que devem concentrar as atenções na edição de Montreal está a proteção ao meio ambiente e o combate ao aquecimento global e à ação das petrolíferas e mineradoras. O movimento social canadense hoje conta com uma forte articulação contra a destruição de territórios indígenas pela ação de empresas de mineração. Parte da delegação do país que veio a Porto Alegre passará, antes da volta pra casa, por Mariana, para ver de perto os impactos do crime ambiental praticado pela Vale e pela Samarco.
“Acreditamos que o neoliberalismos está totalmente ligado à destruição ambiental. Que há uma relação entre a crise financeira e a crise ambiental. Por isso, vamos testemunhar este desastre, criar laços de solidariedade com quem luta contra as mineradoras e esperamos que, durante o FSM, seja possível reunir pessoas de todo o mundo para pressionar empresas e governos para que respeitem o meio ambiente e os direitos dos povos”, afirmou Dominique Bernier, da ATTAC Quebec.
Considerando também a importância do movimento feminista no Canadá, o FSM 2016 contará com um eixo temático sobre diversidade de gênero, que está sendo organizado por um comitê feminista local. Segundo a delegação canadense em Porto Alegre, será possível integrar esses comitês à distância nos próximos meses de preparação do encontro. Outros temas centrais serão a questão da descolonização e os desafios dos refugiados e imigrantes no mundo.
Fórum de Mídia Livre
Como todas as edições do FSM, essa também será precedida de Fóruns Temáticos, como o Fórum Mundial de Mídia Livre. A quinta edição do FMML está sendo organizada a partir de quatro eixos: o futuro da internet e sua governança; vigilância em massa e segurança dos midialivristas; sustentabilidade das mídias livres; e a defesa das redes de comunicação dos povos originários – tema muito importante no contexto canadense.
Stéphane Couture, pesquisador da Universidade McGill e membro da comissão organizadora do FMML no Canadá, também lembrou que o evento prévio contará com um Laboratório Hacker, como nas edições anteriores, e que seus ativistas também contribuirão com a cobertura compartilhada do FSM ao longo dos dias seguintes do Fórum.
Para além dos debates sobre mídia livre, a comunicação institucional do FSM também será uma ferramenta importante de mobilização de participantes em todo o mundo. O site do Fórum de Montreal, trilingue, já traz um formulário para inscrições online e a possibilidade de se cadastrar para receber uma newsletter com todas as novidades do processo. A página também traz informações sobre como tirar visto para entrar no Canadá e solicitar apoio finaceiro para a viagem.
Esta, aliás, é outra novidade desta edição: uma plataforma de sociofinanciamento, por meio da qual interessados em participar do Fórum poderão apresentar projetos (prioritariamente em inglês ou francês) e o comitê local buscará financiadores para apoiar a viagem de indivíduos ou organizações ao Canadá. A expectativa é reunir entre 50 e 80 mil pessoas, representantes de 5 mil organizações, de 120 países diferentes.