Em 2011, Sudão do Sul conseguiu a independência política, se constituindo como uma nação, localizada em 650 mil km2, no continente africano e com população estimada de 8,2 milhões de pessoas àquela época, mas ao mesmo tempo está destruindo a independência de seu povo, ao ter sido estabelecido o conflito armado, acirrado no final do ano passado. Dá sequência a uma das mais longas guerras civis, no então, Sudão, que prevaleceu entre 1983 e 2005, ano em que foi firmado um acordo de paz. Durante todos esses anos, o saldo negativo deste conflito foi de cerca de 1,5 milhão de mortos.
Por que optar por tantas mortes que abreviam a existência de centenas de cidadãos sob a mira de um fogo cruzado, pela fome ou pela situação de refugiados? Questões fundamentalistas fazem parte deste processo, de acordo com relatos históricos. Nesta nova fase, no âmago, está a distorção de valores promovida pela desconstrução política protagonizada por facções: uma representada pelo atual Governo, fortalecida pelas Forças Armadas, que segue o presidente, Salva Kiir, e outra, pelos rebeldes, liderada por Riek Mashar. Inocentes se veem sem saída neste conflito e aproximadamente 10 mil pessoas já perderam suas vidas.
Pelo menos 3,7 milhões de pessoas estão passando por estado emergencial de insegurança alimentar, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e outras 7 milhões sob risco iminente. A maior parte da população é formada pelo grupo étnico dinka, além de outros povos, como os anuake, os azane, os Bari e os shilluk. Religiosamente predomina o cristianismo, seguido de matrizes africanas e de religião muçulmana.
Os agricultores, que formam a maior parte da população, estão perdendo suas colheitas, ao ficar sitiados. Nessa situação de instabilidade, estima-se que cerca de 870 mil pessoas fogem dessa violência armada. Com isso, foi iniciada uma campanha para arrecadar US$ 77 milhões por causa da crise alimentar instalada, que está na iminência de afetar também a produção agrícola de 2015. Até suprimentos de ajuda humanitária foram roubados, no mês passado, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).
Os paradoxos fazem parte também da infraestrutura desta nação. Rica em petróleo, pivô de muitos conflitos, Sudão do Sul é um dos países mais pobres do planeta, com altos índices de mortalidade materna e de analfabetismo entre a população feminina. Ao mesmo tempo, rico em outros recursos naturais. É cortado por um braço do rio Nilo (Nilo Branco) e em parte de seu território, mantém florestas “pluviais” e pradarias, savanas, áreas pantanosas, além de uma fauna diversificada, composta por leões a rinocerontes. O país também abriga parques nacionais, como o de Bandiglio e de Boma, além de reservas naturais.
É neste país com tantos potenciais, que apesar de ter sido retomado o diálogo entre as partes do conflito, desde a segunda quinzena de janeiro, que há uma situação grave de desrespeito aos direitos humanos. Nesse fogo cruzado, há denúncias do uso de bombas de fragmentação, que se tornam uma armadilha, que pode ocasionar acidentes graves por muito tempo. A infraestrutura em seu território está bem comprometida, segundo analistas internacionais, o que poderá levar um bom tempo para ser recuperada. As negociações têm como intermediários, grupo formado por representantes da União Africana, da União Europeia e das Nações Unidas. O desfecho ainda é algo imprevisível, devido ao porte dos comprometimentos já presentes.
Então, falar de “seres humanos que roubam sonhos” se torna mais claro diante desse contexto que atinge o 54º país africano. Quantas crianças, mulheres e homens gostariam de “roubar livros”, não é, e reescrever suas histórias por lá?
*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk