Brasileiros(as) que carregam um pouco da memória dos imigrantes fugitivos de suas vidas miseráveis na Europa no século passado, poderiam dar lições aos movimentos neonazi que tomam conta da Espanha e ensiná-los que imigração não é uma afronta dos povos menos afortunados contra nacionalistas intolerantes. A intolerância, sim, é o real problema – o crime mais globalizado do planeta.
Sabemos pela nossa história que é um direito migrar para salvar a vida, ou para ter esperança. Especialmente deveria ser justo poder emigrar para um dos países que mais interferiu no destino de tantos povos pelo mundo, das Américas em particular, como a Espanha.
No entanto a direita espanhola está agitada no empenho de exigir que seu governo feche as portas aos refugiados. Mais do que isso, quer o fim de qualquer ajuda social às famílias imigrantes que já moram e trabalham no país. A recusa à solidariedade é uma fobia que brota da alma dos extremistas.
No último sábado, em uma mobilização grotesta, meio milhão de simpatizantes do Hogar Social neonazi Ramiro Ledesma(HSM) sairam de cidades como Toledo e Saragoza, para juntar-se a outros militantes de extrema direita madrilenhos e marchar pelas ruas do bairro mais imigrante de Madri.
Com megafones, cartazes, bandeiras e palavras de ordem xenófobas, os neonazis decidiram afrontar os moradores estrangeiros que se fixaram em Tetuán, reclamá-lo como bairro operário “espanhol” e culpar a imigração pelas mazelas do País.
Infelizmente, o Brasil que acolhe imigrantes e refugiados, mas não oferece a eles oportunidades de uma vida digna, não teria tanto a ensinar por estes tempos mesquinhos. As imagens da marcha neonazi da Espanha se assemelham às da direita brasileira com suas levas de simpatizantes derramando ódio pelo caminho. Aqui lamentam-se do bolsa família, dos médicos cubanos, da invasão da classe média pelos mais de baixo. Verdade seja dita: a corrupção, que de um modo ou de outro está na mira da Justiça, é a última preocupação dos que marcham pedindo a volta dos militares.
Na Espanha, a corrente extremista é mais declarada e não chega a carregar incautos pelas ruas, como faz a mídia brasileira sempre que namora com o fascismo. Mas é assustador o crescimento dos movimentos neonazi assumidos naquele país. No sábado, defenderam que as políticas sociais se limitem aos nacionais, e gritaram sem qualquer pudor: espanhóis sim, refugiados não. Além dos símbolos do HSM, também carregaram bandeiras do partido neonazi grego, Amanhecer, que se tornou a terceira maior bancada na Grécia, nas mesmas eleições que reelegeram o partido Sryza. Não se trata portanto de um grupelho isolado na Espanha.
No sábado, vozes amplificadas pelos megafones entraram pelas janelas de Tetuán, para zumbir nos ouvidos de uma maioria de trabalhadores imigrantes e suas famílias. Deve ser assustador ouvir a turba enfurecida querendo roubar seus direitos. O mundo está muito parecido, na Europa ou aqui. E demonstra que a generosidade e a solidariedade não nascem com os seres humanos. É necessário construí-las. E se trata de uma opção ideológica.
Foto: Eliézer Sánchez / Diso Press