O que acontece com o ‘rio da integração nacional’? Talvez, a pergunta certa seja: o que está ocorrendo ao longo dos anos? Não é um fato que surgiu de uma hora para outra, mas resultado de uma série de problemas ao longo do tempo, que envolve a gestão pública federal, estadual às municipais, quanto à falta de controle no uso de suas águas para irrigação, pela indústria, quanto aos desmatamentos e incêndios no entorno. As matas ciliares estão se extinguindo, deixando o rio São Francisco cada vez mais vulnerável. Há a carência de planejamento de longo prazo para sua conservação, planos de adaptação e redução de danos. É preciso uma intervenção mais efetiva da Agência Nacional das Águas (ANA), que está acompanhando a situação crítica da estiagem.
Será que as chuvas previstas, a partir desta Primavera, darão jeito nesta crise? Essa, pelo menos, é a expectativa do vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Wagner Costa. Uma incógnita. Historicamente, no entanto, o trimestre mais chuvoso é de novembro a janeiro, que corresponde a até 60% da precipitação anual. O certo é que hoje moradores narram que nunca viram tamanha estiagem há décadas. Os bancos de areia se formam onde antes havia abundância de água.
A pressão antrópica já é registrada oficialmente, desde 1985. De acordo com o CBH, estima-se que àquela época já atingia 24,8% da área da bacia, sendo que as pastagens correspondiam a 16,6%; a agricultura, 7%; o reflorestamento, 0,9%; e usos diversos, 0,3%.
Agora, este cenário desértico afeta a economia e subsistência local. Até as balsas deixaram de operar temporariamente por causa deste trecho comprometido e preocupa autoridades quanto ao transporte da população ou em caso de emergência, entre os municípios de São Francisco, Pintópolis e Urucuia. A situação começou a ser identificada já em julho deste ano. A Marinha do Brasil determinou também que o único vapor em atividade no mundo – o Benjamim Guimarães – pare de navegar até que o rio volte à sua normalidade, na região de Pirapora.
A Bacia Hidrográfica do Velho Chico’ é tão importante porque corta sete Estados brasileiros – Bahia (48,2%), Minas Gerais (36,8%), Pernambuco (10,9%), Alagoas (2,2%), Sergipe (1,2%), Goiás (0,5%) e Distrito Federal (0,2%). Um total de 504 municípios depende de sua vitalidade hídrica. É a referência da população principalmente do semiárido, em 2,7 mil quilômetros de extensão. Mas também cobre os biomas da Mata Atlântica e do Cerrado.
O rio passa por uma obra de transposição polêmica, com sucessivos atrasos, e valores orçados recalculados, que chegam à casa de R$ 8,2 bilhões, praticamente o dobro do custo inicial. Começou em 2007 e tem prazo estimado de conclusão, até 2016. A primeira estimativa era 2010. Segundo o Ministério de Integração Nacional, a meta é levar o acesso à água para 12 milhões de nordestinos. No presente, o que o ‘Velho Chico’ precisa é que suas nascentes tenham abundância de água. Quer simplesmente viver.
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*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk
6 de outubro de 2014 - 13:43