A Polícia Militar confirma a cada dia a impossibilidade de que um batalhão militarizado, hierarquizado nos moldes do Exército, treinado na ditadura para atacar um pretenso inimigo interno, que eram principalmente os jovens daquela época, possa garantir a segurança de uma população que aprendeu a hostilizar . E de novo quando a juventude está nas ruas para apropriar-se da cena pública e defender seu direito de intervir na política, é mais do que claro que o Brasil precisa livrar-se dessa polícia.
Um vídeo feito durante a marcha de protesto realizada na noite de quinta-feira contra o projeto do consórcio Novo Recife, na capital pernambucana, registrou o momento em que um policial simplesmente disparou uma bala de borracha diretamente contra um manifestante do Movimento Ocupe Estelita. Porque não estava preparado para estar ali. E porque não tinha que estar ali. Marchas de protestos devem ser protegidas e não barradas porque um policial se ache no direito de plantar-se no meio do caminho.
A marcha fazia a defesa do Cais José Estelita, área que já foi parte de uma antiga ferroviária e que agora está ameaçada pelo projeto, que prevê a construção de prédios residenciais e comerciais. Decididos a enterrar o projeto, ativistas já estavam reunidos desde as 16h, quando se concentraram na Praça do Derby,saindo por volta de 18h em passeata pelas principais ruas do centro de Recife.
Os manifestantes caminhavam pacificamente pela Av. Cais do Apolo quando se depararam com o policial no meio da rua. Como carregavam uma grande faixa, que demarcava uma espécie de ala de frente da manifestação, os participantes ergueram a lona para passá-la acima da cabeça do policial. Mas este se mostrou irritado, segurando a faixa, e dando início a um rápido empurra-empurra que terminou com o gesto inexplicável: sacou sua arma e atirou contra um dos manifestantes.
A cena gravada em vídeo não deixa margem a dúvidas quanto ao momento e autoria do disparo. Já é sabido que a violência policial não vai acabar se o modelo de polícia no Brasil não mudar. No mês passado, ao visitar o país, a relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Questões das Minorias, Rita Izsáck, associou claramente o fim do Polícia Militar a uma condição necessária para a igualdade social.
Ao afirmar qjue os “altos índices de homicídios, na casa dos 56 mil todos os anos, precisam acabar”, ela aponta também que isso afeta particularmente os afro-brasileiros pelo fato de que eles compõem 75% do total de vítimas. A solução, segundo a relatora, é “terminar com a Polícia Militar, remover os mecanismo dos autos de resistência e tratar todas as mortes como casos de homicídios, processar os autores e prover auxílio psicossocial para as famílias das vítimas, especialmente para mães que perderam os filhos.”
Em Recife, o tiro atingiu o ombro de Leonardo Ferreira, de 21 anos, que ficou ferido.. A violência policial foi recebida aos gritos de “bandido”, “polícia fascista” e o já conhecido refrão: “não acabou, vai acabar, eu quero o fim da política militar”.
O policial filmado em flagrante será afastado, mas isso não resolve a cultura e modus operandi de toda uma corporação. De fato, a herança da ditadura não acabou, Está no pavor que a população sente em relação à PM. E isso precisa acabar.