O desinteresse da mídia pela vida na Palestina ocupada

Prisão palestina, foto de Aline Baker, da Missão Gaza

Há pelo menos dois anos a Cisjordânia não recebe um correspondente permanente da imprensa brasileira para cobrir as pautas da Palestina que não sejam definidas a partir de Telaviv, onde a imprensa internacional também está baseada. A afirmação é de Javier Abu Solana, assessor do negociador chefe da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), recebeu dia 2 de abril, em Ramallah, a Missão Gaza, grupo do Fórum Social Mundial formado por brasileiros que visitaram a Palestina entre os dias 31 e 5 de Abril.

O grupo integrado em grande parte por jornalistas não entrou em Gaza ainda. Impedida de chegar à área isolada por Israel, a delegação visitou Ramallah, Hebron e o Vale do Jordão, programando uma segunda etapa. Desde os ataques israelenses de 2014, que durante quase dois meses mataram milhares de civis e crianças, destruíram casas e sistemas de abastecimento, a comunicação é difícil e pouca informação chega pelas redes sociais sobre os esforços de sobrevivência das famílias desabrigadas e de reconstrução da infraestrutura. Por isso, a decisão do grupo é chegar lá, em sinal de solidariedade e contra o cerco militar, material e midiático a que a população está submetida.

Dificultando o acesso da delegação, a autorização para entrada na Faixa de Gaza só foi dada pelo governo israelense após o retorno dos integrantes ao Brasil. E mesmo assim, parte da delegação não foi incluída na lista que terá acesso permitido. Entre os nomes vetados até agora, estão integrantes de sobrenome árabe e a equipe de reportagem da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), mídia pública brasileira que integrou e cobriu a primeira etapa da missão.

Por proibição, desinteresse ou intimidação, a ação da imprensa na Palestina é limitada, o que resulta em pouca informação para fora de lá. As condições de trabalho dos jornalistas palestinos são dificultadas por um cerco que inclui as prisões administrativas, uma espécie de AI-5 israelense que da à polícia o direito de prender sem acusação ou defesa. Quando a delegação chegou à Cisjordânia, havia 19 jornalistas presos, número que chegou a 20 esta semana, conforme informação da agência “Maan”.

O diretor-geral do site ASDA, de uma organização palestina voltada ao desenvolvimento e a liberdade de imprensa, Amin Abdul Aziz Abu Wardeh, de 48 anos, foi novamente vítima de prisão administrativa israelense. Ele já esteve privado de liberdade durante quase um ano, e voltou a ser encarcerado esta semana, em uma operação do Exército israelense na cidade cisjordaniana de Nablus, tendo seu celular e computador também apreendidos – segundo declaração de sua mulher.

Dados da Maan divulgados pela agência EFE dão conta de seis jornalistas presos só em 2015. A União de Rádios e Televisões palestinas informa que o preso mais antigo é , Mahmoud Moussa Issa, que cumpre pena desde 1994, quando um tribunal israelense lhe impôs três prisões perpétuas por delitos de sangue e contra a segurança do estado.

No Dia do Prisioneiro Palestino (17 de Abril), as condições em que os presos se encontram foram divulgadas pela Autoridade Nacional Palestina, contabilizando 6.000 presos, entre eles 200 menores de idade e 23 mulheres, e 450 sob detenção administrativa.

Do lado palestino, também há denúncias contra os presos da ANP, entre os quais um brasileiro que já cumpriu pena há mais de um ano, mas não consegue sair devido a alegações de que haveria ameaças contra a sua vida fora da prisão. A delegação que integrou a Missão Gaza visitou o preso Islam Hasan Jamil Hamed e retornou ao Brasil pedindo ao Itamaraty que interceda por sua imediata libertação e garanta viagem segura do prisioneiro e seu filho ao Brasil.

O caso de Islam, que foi preso pela primeira vez por Israel, aos 17 anos, por atirar pedras (ficando cinco anos atrás das grades), a segunda aos 23, por Israel, por ameaças à segurança, e a terceira vez pela ANP, acusado de ação contra o governo palestino, não apareceu na mídia durante esses 13 anos em que o rapaz foi repetidamente privado de liberdade. Mais um exemplo do silêncio midiático sobre a vida no país sob ocupação, do outro lado do apartheid.

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