Depois de andar no trecho de praia da comunidade da Ilha de Superagui, onde fica o Parque Nacional de mesmo nome, pequenas piscinas de água salgada começaram a aparecer, com peixes minúsculos, e eu estava prestes a chegar na “curva” que iria me direcionar a uma extensão de praia praticamente intocada, em que ao se avistar, num primeiro momento, me dava a dimensão de um horizonte e oceano sem fim. O que poderia ser uma paisagem monótona começou a ter proporções inusitadas.
Ora aparecia uma grande estrela marinha, ora centenas de conchas se transformavam em um mosaico na areia… Além das ondas, aparecia o traçado da Ilha do Mel ou uma embarcação de turismo ou de um pescador artesanal. Na parte interna da ilha, o que se escondia sob a paisagem era a riqueza dos manguezais.
A revoada de aves marinhas me remetia a cenas lidas no romance de Fernão Capelo Gaivota. Aquela liberdade incontida e curiosidade de ver além. Em certo momento, essa interatividade chegava a transcender.
Volta e meia, depois de longos minutos e até horas aparecia mais um ‘ser humano’, como eu, de carne e osso, caminhando ou andando de bicicleta. Quando decidi descansar, lá estava um tronco de árvore, onde sentei e observei que tudo aquilo tinha sintonia e vida e o nome deserto ganhou somente um sentido figurado. A cadeia ecossistêmica estabelecida e conservada se mostrava desnudada, como tinha de ser.
Dei continuidade à caminhada, parecia que algo maior me levava para frente. Depois de cerca de dois quilômetros, algo me chamou a atenção. Estava chegando perto de uma grande quantidade de aves adultas e filhotes agrupados, perto de um curso d`água em direção ao mar. Com cuidado me aproximei para poder fazer o registro, que ilustrou a contemplação desse momento. Por mais uma vez, obtive a seguinte constatação: nós, seres humanos, não somos o centro de tudo. E me dei por feliz e aí segui de volta à comunidade de Superagui, certa de que havia participado de uma aula prática de educação ambiental em um dos locais mais bem conservados deste bioma ameaçado.
*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk