Uma semana antes de completar seus 90 anos, em 19 de dezembro de 2013, tive a oportunidade de entrevistá-lo profissionalmente pela primeira vez. Antes de mantermos o nosso diálogo por telefone (ele morava no Rio de Janeiro), lá fui eu pesquisar seu perfil e fiquei me cobrando – “Por que eu não tinha ido procurá-lo antes?”. O que me instigou a contatá-lo foi sua importância no ambientalismo brasileiro e mundial. Considerado um dos pioneiros do conservacionismo, tinha por trás de sua longevidade tanta história vivida nesta seara a contar.
A questão maior na pauta obviamente não era sua alta patente na marinha ou sua posição institucional como conselheiro em diversas organizações socioambientais e no próprio Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). O que me encantou foi ouvir sua linha de pensamento tão segura quanto à importância da biodiversidade, da manutenção da conservação, além de sua análise sobre o contexto atual desafiador nesta área. Segundo ele, hoje muitas unidades de conservação carecem de gestão eficaz e de plano de manejo, ficando só no papel. Para mudar essa situação, o almirante considerava que o único caminho é por meio de um governo atuante com o apoio da própria sociedade.
Eclético que era, também tinha se enveredado pela paleontologia, como um autodidata, que depois resolveu estudar e ir a fundo no tema. Ele soube, por meio do alcance de sua profissão, exercer sua cidadania, trazendo importante bagagem de experiências das viagens que fez pelo mundo.
Em pouco menos de uma hora de entrevista, pude reconhecer que estava conversando com uma pessoa incansável em seus propósitos. Defendeu a conservação das baleias, liderando a campanha contra a caça do mamífero marinho, esteve envolvido na criação de diversas unidades de conservação ambiental no país, como a Reserva Biológica do Atol das Rocas e os Parques Nacionais Marinhos dos Abrolhos e de Fernando de Noronha. Seja na mobilização da conservação da vida marinha ou nos biomas, ele esteve presente nessa trajetória por décadas. Não guardou esse aprendizado a sete-chaves e foi autor de alguns livros na área ambiental, como o Megabiodiversidade Brasil (2001).
O jornalista Marcos Sá Correa escreveu um pouco sobre essa característica envolvente de Câmara, no livro “Água mole em pedra dura: dez histórias da luta pelo meio ambiente” (2006), em que trata também da história de outros ambientalistas.
Hoje fico pensando, que na outra dimensão, quem sabe, o almirante Ibsen pode estar mantendo importantes diálogos com outros ambientalistas e pesquisadores inesquecíveis de sua época, como o zoólogo Paulo Vanzolini (1924-2013), o geógrafo Aziz Ab`Saber (1924-2012), a geógrafa Bertha Becker (1930-2013), como também com os fundadores da Associação Gaúcha de Proteção ao Meio Ambiente Natural – Agapan, Augusto Carneiro (1922 – 2014) e o agrônomo e ecologista José Lutzemberger (1926-2002), entre outros. E nessa utopia, eles estão orientando seus discípulos e simpatizantes da causa pelo planeta Terra. Não custa sonhar.
Veja também outros artigos que escrevi no Blog:
16/03/2012 – Aziz Ab`Saber, uma mente brilhante
01/05/2011 – Suassuna em verso e prosa
*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk