1) Nós, Rede Fulanas, saudamos a mulher negra afroamazônica Nilma Bentes por ser a idealizadora da Marcha das Mulheres Negras 2015, Contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver.
2) A Rede Fulanas – Negras da Amazônia Brasileira acredita que o processo de construção da Marcha das Mulheres Negras 2015 Contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, tem sido, talvez, mais importante que a própria Marcha. Indica para nós a culminância e o recrudescimento da luta contra o racismo, machismo/sexismo, pobreza e por um viver baseado em um modelo econômico includente e não predador da natureza humana e não-humana.
3) Estamos em marcha. Não apenas hoje, dia 18 de novembro de 2015, mas estamos em marcha desde quando começamos a sonhá-la. Trazemos como registro desta caminhada a busca e a não desistência de nos fortalecermos coletivamente enquanto mulheres negras da Amazônia.
4) A Marcha das Mulheres Negras 2015 tecida na perspectiva Amazônica contribui para o fortalecimento das mulheres negras da Amazônia, para que também sejam capazes de se apropriar e replicar informações sobre o papel e funcionamento do estado brasileiro: Executivo, Legislativo e Judiciário, nos níveis: Municipal, Estadual e Federal e a importância da participação no mesmo.
5) A mobilização para a Marcha das Mulheres Negras 2015 entre as mulheres negras da Amazônia, nos fortaleceu para uma atuação qualificada nos espaços de participação e representação política, no sentido de efetivar políticas públicas que contemplem as realidades das mulheres negras da região amazônica, livre de racismo e estruturada na ótica do bem viver.
6) A construção da Marcha das Mulheres Negras 2015, pelas mulheres negras da Amazônia, coloca em pauta questões específicas das territorialidades amazônicas, como:
→ O corpo da mulher negra afroamazônica, como identidade e símbolo de uma resistência ancestral africana e indígena.
→ Desfazer o mito do vazio demográfico amazônico, inclusive reconhecendo que a região possui a maior população quilombola do Brasil que é diretamente afetada pelo racismo ambiental e pelas práticas de degradação das florestas, dos rios, da vida silvestre e, consequentemente, sendo impedidas de bem viver em seus territórios.
→ Promover a visibilidade das mulheres negras da Amazônia como aguerridas lideranças comunitárias e de resistência na diáspora afroamazônica. Trazer também ao debate, a invisibilidade dessas mulheres, no contexto da história amazônica, sobretudo na conservação da biodiversidade. Reconhecemos o valor do protagonismo ao escrever nossas histórias, como estratégias para contribuir com o movimento de mulheres negras no Brasil.
→ Apontar as opressões praticadas contra as mulheres negras afroamazônicas em razão das especificidades de nossos territórios, como apresentam as estatísticas frequentemente divulgadas pelo movimento negro dos estados amazônicos e por instituições como IBGE, IPEA, IDESP, entre outros. E que tornam emergenciais a realização de ações mais articuladas e efetivas capazes de superar as desigualdades.
→ Ao longo dos encontros para a construção da Marcha das Mulheres Negras 2015, os depoimentos das mulheres negras afroamazônicas evidenciaram que, independente da realidade e da história de vida, o fator emocional é algo que afeta a todas. Mas, por outro lado, o processo de mobilização também acrescentou temas como a solidariedade racial como elemento de fortalecimento da autoestima e do processo organizativo.
→ O racismo institucional, amplificado pela mídia, ocasiona falta de reconhecimento e enfraquece a nossa autoestima.
→ Manter viva a memória da ancestralidade como garantia dos saberes tradicionais dessas mulheres para o futuro, que hoje está sendo dizimado pelo modelo de desenvolvimento imposto à Amazônia, como os grandes projetos. Há uma desvalorização do saber tradicional, que é visto como atraso a partir do olhar eurocêntrico, ou seja, é o atraso do desenvolvimento do Brasil.
8) No percurso para a construção da Marcha das Mulheres Negras 2015, reconhecemos que o feminismo e o feminismo negro não dão conta das especificidades das mulheres negras afroamazônicas, por isso trazemos para o debate também o feminismo afromazônico. Porque falar do feminismo afromazônico é trazer em nossas trajetórias de luta contra as hidrelétricas, mineradoras, plantação de soja, a não regularização de terras quilombolas, o desrespeito aos territórios sagrados como os quintais e os cemitérios, a contaminação dos rios como fatores que afetam diretamente o bem viver dessas mulheres.
9) O Estado deve servir de principal freio ao avanço aniquilador da classe dominante sobre as populações que têm sido vulnerabilizadas por séculos (caso da maioria dos que formam os segmentos negro, indígena e demais que foram jogados na pobreza econômica), sem que seja ele próprio um sujeito desta lógica mercadológica agressiva e genocida. Por isso, ocuparemos este espaço cada vez mais até como forma de conhecer seu funcionamento e para participar das decisões do nosso futuro e da sociedade.
10) Em uma região como a Amazônia, onde parte de sua população desconhece seus direitos, por força da educação/informação precárias e por um viver na sobrevivência, a formação de lideranças gasta muito mais tempo que nas regiões de dinâmica econômica mais acelerada. Ainda assim, a delegação amazônica trouxe presencialmente mais de 500 mulheres para a Marcha das Mulheres Negras 2015, mas nós todas trouxemos alguém de casa, não ficou ninguém de fora.
11) A Rede Fulanas é composta por mulheres autodeclaradas negras, que manifestam sentimento de pertencimento e semelhança ao biótipo das negras africanas que foram escravizadas nas Américas. As Fulanas, nome aqui vinculado à etnia africana Fula, de significativa representatividade na Amazônia, nasce, por constatar que o racismo, preconceito e discriminação racial continua atingindo, mais força, as mulheres negras e que diante disso, tornam-se necessárias ações mais articuladas, visando contribuir na superação das desigualdades raciais e de gênero na Amazônia e no Brasil como um todo.
12) A Marcha das Mulheres Negras 2015 é Fulana!