Não é de hoje que o vice-almirante Othon Pinheiro da Silva, agora preso por ordem do Juiz Sérgio Moro na Operação Lava Jato, é considerado pelos Estados Unidos como uma figura incômoda. Destacado como o pai do programa nuclear brasileiro, o militar conseguiu criar uma produção barata de urânio enriquecido, a chamada tecnologia das centrífugas, muito cobiçada pelas potências nucleares.
Além disso, graças ao vice-almirante Othon Pinheiro da Silva, o Brasil projeta o submarino nuclear, importante peça para a defesa, algo que Estados Unidos, Inglaterra, França, Rússia e outros países banhados por mares ou oceanos desenvolvem há anos por ser algo de muita necessidade. E como é comum em projetos dessa natureza, é necessário que tudo se desenvolva de forma a evitar que segredos sejam divulgados.
Sucessivos governos estadunidenses queriam de todas as formas ter acesso à produção do urânio enriquecido que o Brasil domina em seu programa nuclear para fins pacíficos. Ocorreram pressões para que isso acontecesse.
Nesse sentido, vale lembrar uma reportagem publicada em 11 de abril de 2004 no jornal O Estado do Paraná em que Othon Luiz Pinheiro da Silva dizia textualmente que “o Brasil precisa tomar muito cuidado com a pressão dos Estados Unidos sobre as suas pesquisas nucleares”.
Na longa matéria o militar alertava que o “Brasil é um país infestado de espiões americanos, atentos a todos os movimentos que o País faz para ser mais independente”. E fez ainda outro alerta chamando a atenção que “os EUA não têm o menor interesse em que o Brasil seja autônomo em termos de defesa”.
Onze anos depois dos alertas, o militar da Reserva que presidia a Eletronuclear é preso, acusado de receber propinas no projeto de Angra III, com base em mais uma delação premiada incentivada pelo juiz Sérgio Moro. Acusação negada veementemente pelo militar. É importante acompanhar os desdobramentos da ação do juiz Moro contra o militar que teve a ordem de prisão prorrogada.
*Mario Augusto Jakobskind é jornalista