O Fórum Social Mundial, primeiro espaço a abrir, em 2001, a participação conjunta de movimentos tradicionais, ongs, redes e movimentos de ação direta em um mesmo território de lutas contra o neoliberalismo, está em discussão.
Desde a primeira edição em Porto Alegre, as lutas sociais ganharam novos contornos, particularmente com os novos movimentos autogestionados que, no entanto, guardam forte ligação com a proposta original do FSM. Os primeiros fóruns de Porto Alegre foi marcado por milhares de jovens reunidos em um infindável acampamento intercontinental, expressões culturais diversas, movimentos sociais e sindicais, movimento negro, comunidades indígenas e personalidades intelectuais como Eduardo Galeano, Noam Chomsky e Saramago, também a presença de lideranças que poucos anos depois seriam levadas pelas urnas ao comando de governos populares e progressistas na América Latina.
A expansão do FSM também foi notável. Colocou-se, antes da Primavera Árabe, como espaço possível de articulação da sociedade civil – em países onde esse conceito sequer era admitido, como a Tunísia – , e movimentos históricos contra a as ditaduras. Comunicou-se ao vivo, em sua edição 2011 no Senegal, com o levante da Praça Tahrir e a derrubada do tirano Hosni Mubarak. Dois meses depois, uma delegação do Conselho Internacional percorria as várias cidades da Tunísia que haviam se rebelado e derrubado o ditador Ben Ali. A proximidade inspiraria a realização de duas edições mundiais do FSM em Tunis, ao lado de organizações que este ano foram contempladas com o Prêmio Nobel da Paz por sua atuação em favor da democracia, como a UGTT – União Geral dos Trabalhadores da Tunísia, organizadora do FSM 2011 e 2013.
Mas o futuro do FSM cobra uma reflexão dos movimentos e organizações sociais, sobre o seu papel, os princípios que guiam o processo e também a dinâmica de seu Conselho Internacional. Para os movimentos tradicionais, o FSM ainda peca por não dar voz coletiva aos chamados que emergem de seu interior, por não deliberar e conduzir processos de luta mais objetivos, que ajudem a impulsionar resistências e orientar alternativas pelo mundo. Para os novos movimentos, que emergiram com a cultura das redes sociais e a velocidade da comunicação pela internet, que promoveram revoluções no mundo árabe, levantes indignados na Espanha, ocupações em Wall Street, mobilizações estudantis no Chile, e os protestos de junho impulsionados pelo movimento Passe Livre no Brasil, o FSM está envelhecendo e requer novas dinâmicas para incorporar uma juventude hiper conectada pela tecnologia e pouco tolerante à institucionalidade da política e a uma certa organicidade das lutas sociais.
Por pressão de jovens movimentos do Canada, o FSM deu uma guinada e fará sua primeira edição no hemisfério Norte, em Agosto, no Quebec, para onde o deslocamento e acesso de organizações dos países do Sul e engajamento dos movimentos tradicionais ainda são desafios.
Não será a única agenda de 2016. Logo em janeiro haverá uma edição temática em Porto Alegre, que abre o 15º ano do FSM, buscando avaliar a década e meia de chamado às lutas e alternativas por “um outro mundo possível” e responder perguntas: para que, como e com quem construir as resistências às dominações?
Reflexões sobre a reinvenção do FSM
O Conselho Internacional do FSM não poderá enfrentar esses dois momentos sem uma reflexão sobre o seu papel e definições sobre o seu funcionamento, o que obrigatoriamente remete à discussão sobre o futuro do FSM. Esse debate já teve início em 2011, e desencadeou um processo de consultas e contribuições e um grupo de trabalho internacional encarregado de sistematizá-las para discussão.
Com papel significativo no processo FSM desde o seu início, as organizações brasileiras tomaram pra si o desafio de viabilizar um encontro internacional onde as contribuições colhidas até agora sejam avaliadas e finalmente concretizadas em propostas organizativas e metodológicas para o Conselho. As organizações Abong, Ciranda, Cut, Fdim, Flacso, Geledes e Instituto Paulo Freire, em conjunto com o grupo de trabalho internacional e o Comitê Baiano do FSM, e apoio local da CUT, CTB, Vida Brasil e governo da Bahia, construiram uma programação de três dias, da qual devem resultar novas orientações ao processo;
Dia 29, haverá encontro entre membros do Conselho e sociedade civil brasileira, para o seminário “Diálogos Impertinentes: o Fórum Social Mundial (FSM) na construção de um outro mundo possível”.
A Abong explica que o objetivo do encontro é promover uma reflexão conjunta sobre a reinvenção do Fórum Social Mundial e de seu Conselho Internacional (CI) diante da atual conjuntura planetária. A atividade também será ocasião para recolher contribuições do movimento social brasileiro para a reunião do CI, que acontecerá nos dias 30 e 31, também em Salvador.
O seminário contará com três mesas de discussão. A primeira se dedicará ao debate das conjunturas regionais e a solidariedade entre os povos, contando com representações curdas e palestinas. Na parte da tarde, a segunda mesa discutirá os atuais desafios do FSM e do processo de reestruturação do Conselho Internacional.
A última mesa de debates contará com membros do comitê organizador do Fórum Social Temático, que será realizado entre 19 e 24 de janeiro, em Porto Alegre; e do Fórum Social Mundial 2016, que acontecerá em agosto do próximo ano, na cidade de Montreal, no Canadá. Os/As organizadores/as apresentarão o processo de construção de ambos os eventos.
Ao menos 50 participantes já estão confirmados, oriundos de outros Estados brasileiros, além de representações da América Latina, Canadá, Europa e África. Espera-se ainda a presença de representantes do movimento social da Tunísia, que, recentemente, ganhou o Nobel da Paz pelo movimento de luta por democracia, que ficou conhecido como “Primavera Árabe”.
Para Damien Hazard, membro da Direção Executiva da Abong e do Conselho Internacional do FSM, o processo do Fórum “está se reinventando na nova conjuntura de transformação acelerada do planeta”. Ele destaca a importância de este seminário e a reunião do CI acontecerem em Salvador, já que, para ele, a Bahia sempre teve papel importante no FSM e experimentou nos últimos anos um coletivo que soube se reinventar na sua composição, na sua forma de vivenciar a diversidade e de fazer política, com uma radicalização das suas práticas democráticas. “O movimento social baiano pode contribuir com essa busca de ressignificação do FSM”, defende.
As inscrições para participar do seminário são gratuitas e podem ser feitas até 28 de outubro pelo email seminariofsmsalvador@gmail.com. Interessados/as devem enviar os seguintes dados: nome, gênero, instituição, cargo/profissão, email e telefone para contato.
SERVIÇO
Seminário Internacional “Diálogos Impertinentes: o Fórum Social Mundial (FSM) na construção de um outro mundo possível”
29 de outubro de 2015 – 9h às 18h
Hotel Vilamar | Av. Amaralina, 111 – Amaralina – Salvador (BA)
Mais informações e inscrições: seminariofsmsalvador@gmail.com / 71 3321-0711
Com Abong