FSM rumo à Tunísia e ao Canadá

Ressignificar o Fórum Social, necessidade de uma autorreflexão do seu Conselho Internacional (CI) e, sobretudo o reconhecimento da fragilização do processo no Brasil, parecem ser alguns dos consensos surgidos na avaliação de mais um Fórum Social Temático (FST), em Porto Alegre. Os FST vêm ocorrendo nos anos pares, intercalados com as edições mundiais do FSM, desde que se decidiu que estas seriam bienais. Mas isso também está mudando. Teremos dois FSM seguidos no próximo período, na Tunísia em 2015 e no Canadá, em 2016. Uma edição global do Fórum será realizada pela primeira vez num país rico, com a intenção de articular o sul aos que lutam por outro mundo possível no norte do planeta.

“O FSM é um sucesso, apesar do CI, em crise há muitos anos”, avaliou Damien Hazard, diretor executivo da ABONG (Associação Brasileira de ONGs), um dos coordenadores da reunião. “O FSM mudou muito nestes 13 anos e teve muitos desdobramentos, mas o processo do Fórum continua em plena efervescência”. Membro do CI, ele conta que na última reunião do Conselho, realizada em dezembro, “sabíamos da organização de 33 eventos do FSM para 2014. Neste FST ficamos sabendo que já são 40 os encontros auto-convocados local ou regionalmente, alguns temáticos. A dinâmica no Brasil baixou drasticamente desde 2009, mas foi correta a escolha da Tunísia para a última edição, isso deu uma dimensão internacional aos processos em curso naquela região”.

Para Norma Fernandez, documentarista argentina, participante da comissão de comunicação que apoia o CI, desde 2001, o balanço foi mais administrativo do que político, é preciso aprofundar muito os temas levantados. Atuante no Fórum Mundial de Midia Livre, ela criticou a superposição de atividades importantes como Conexões Globais e a Assembleia de Movimentos Sociais no mesmo horário da plenária final do FMML. Antropóloga, Norma faz, desde o início do FSM, um trabalho no sentido de preservar a história desse processo. Quanto a isso, as notícias são melhores. Finalmente se conseguiu recursos para digitalizar os materiais em poder do Secretariado. “Sem memória não existimos”.

Rumo à Tunísia e ao Canadá

Ao passar o “bastão” – no caso, o microfone – para os representantes da Tunísia, que organizarão o próximo FSM, Mauri Cruz, coordenador executivo do FST2014 de Porto Alegre, lembrou que “o FSM é um processo e, como tal, não é feito só de sucessos, existem várias dinâmicas de aprendizado”. O coordenador destacou a importância que teve a recolocação do FSM na agenda de Porto Alegre a partir de 2010. “Este evento é preparatório para o FSM na Tunísia, em março de 2015. Vamos entregar simbolicamente o Fórum para a Tunisia, nos propondo a participar em todo o processo, para que tenhamos um fórum não limitado, com gente de todos os países.

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Mauri passa a voz para Hamouda

Pelo Comitê Organizador do FSM Tunísia falou Hamouda Soubhi, do comitê do FSM Magreb Mashreq, que mostrou a disposição de desenvolverem uma organização com cada vez mais movimentos e povos da região e também a ampliação da troca com o Canadá, por meio da preparação do Fórum Social dos Povos. Para debater as graves questões da Palestina e do Saara, estão sendo organizados alguns encontros, na Europa, na África e talvez outro na América Latina, é o que eles gostariam.

Hamouda falou da importância da participação das mulheres nos processos preparatórios de 2014, para isso elas realizarão três encontros: na Jordânia, reunindo representantes da Palestina,Iraque, Síria e Egito; um segundo, reunindo os países magrebinos – Marrocos, Sahara Ocidental, Argélia, Tunísia, Mauritânia e Líbia; e um terceiro que reunirá as duas regiões. “Será muito importante a participação da Marcha Mundial das Mulheres, das brasileiras e das africanas. A questão do estupro no mundo árabe deverá ser muito trabalhada”. Bens comuns e desenvolvimento participativo, aproximar as populações que não participam das democracias, bem como problemas ligados ao extrativismo são outros assuntos priorizados.

Complementando as informações da Tunísia, falou Alaa Talbi, denunciando como ponto em comum com o Brasil, as bombas de gás utilizadas pela repressão na Tunísia que, além de serem fabricadas no Brasil, tem validade vencida desde 1989. Segundo o militante do comitê preparatório do FSM naquele país, esse fato foi descoberto a partir de uma investigação da repressão muito violenta exercida contra um movimento de contestação no noroeste da Tunísia em 2012. Para Talbi, vários movimentos em luta irão marcar a região, há várias datas de eleições, e os 40 eventos que se inscreveram no processo de 2015, “darão mais amplitude e conteúdo político ao acontecimento”.

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Damien Hazard, Carminda MacLorin e Alaa Talbi

A aproximação entre os povos do norte e do sul é um dos objetivos do Fórum Social Mundial no Canadá, em 2016. “Há movimentos que lutam pelos seus próprios direitos”, disse Carminda MacLorin, do comitê do FSM 2016 de Quebec, “mas há também os lutam pelas pessoas de todo o mundo. Definitivamente os impactos do que acontece no norte repercutem no sul – militarização, meio ambiente, extrativismo”, citou. “Colocar alguma sistematização nessa aproximação é muito importante, e não apenas entre os Fóruns Sociais Mundiais, mas também entre os locais e os temáticos”. Carminda ressaltou a importância da participação da juventude no processo rumo a Tunisia e ao Quebec. “Convidamos todos a gerar um grande coletivo internacional onde possamos relembrar e marcar os valores do FSM”.

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