Feira feminista termina com violência policial

Foto divulgada pela organização da Flifepoa

Com uma violência inesperada, a polícia chegou e acabou com a 1a Feira do Livro Feminista de Porto Alegre, que começou dia 30 de outubro para terminar hoje.

Um casal da faixa dos 60 anos de idade desceu do prédio onde mora e começou a discutir com o grupo que estava na Praça João Paulo I, na rua Jerônimo de Ornellas, no bairro Santana, local do evento. O casal acabou apanhando também.

Depois de um dia de debates e oficinas, algumas mulheres continuavam por ali, numa roda de música. Já passava das 11 horas da noite. Segundo várias das presentes, não houve qualquer tentativa de diálogo.

Os relatos dão conta de que chegaram ao mesmo tempo três viaturas da Brigada Militar, das quais os policiais, todos homens, desembarcaram já apontando as armas e empurrando as integrantes do grupo. Questionados, responderam que um morador ligou reclamando de “uivos e tambor”.

Uma moradora do bairro comentou que, quando chamada, a Brigada normalmente demora a aparecer e a alegação dos brigadianos é que existe apenas uma viatura para a ronda preventiva de cinco bairros, do Moinhos de Vento a Santana.
Depois de esvaziar a praça, os policiais ali permaneceram por algum tempo, “festejando” o feito às gargalhadas.

Antecedeu o fato a presença de um homem que passou pela Feira com uma atitude claramente provocativa, usando uma camiseta com os dizeres “Sou machista sim”. A organização do evento diz conhecer a identidade dele, que trabalharia como segurança no shopping Praia de Belas.

A reportagem tentou contato por telefone com o comando de policiamento da capital e com o tenente de plantão do setor responsável pelo despacho de viaturas, mas os quatro números de telefone informados, pela internet e pelo 190, dão sinal de ocupado.

A primeira reação das feministas foi relatar o episódio e lançar um pedido de solidariedade na página do evento na internet. Leia a íntegra:


URGENTE! Pedido de solidariedade – Agressão policial durante a FLIFEA

Desde o início da FLIFEA sofremos perseguições e agressões machistas e fascistas, com ameaças, provocações e presenças hostis, que foram constatadas e enfrentadas em cada momento. Mas o que aconteceu nesta noite de domingo (01/11/15) merece uma denúncia específica para apontar a violência estatal que expressa a misoginia institucional que violenta mulheres sistematicamente.

Na noite de domingo estava acontecendo um ensaio artístico, com a presença de em torno de 20 mulheres, e uma viatura chegou com dois policiais que vieram supostamente devido ao barulho. Eles filmaram e intimidaram as mulheres presentes que estavam falando com eles, o que gerou reações de proteção entre as mulheres, como se organizar para ir embora e filmar a situação. Em seguida chegaram outras viaturas com mais policiais que foram extremamente agressivos e marcadamente racista desde o início e tentaram deter uma de nós de maneira violenta, o que desencadeou uma série de agressões físicas por parte da polícia das quais nove mulheres ficaram feridas, sendo que quatro gravemente e precisaram de atendimento médico.

Muitas agressões aconteceram de maneira simultânea, havendo inclusive policiais que sacaram armas de fogo – um deles sacou uma arma e ameaçou várias de nós dizendo “eu vou queimar você”. Entre as ameaçadas nessa situação, uma das mulheres inclusive avisou que estava grávida, o que não foi relevante para os policiais. Dois moradores que estavam na praça no momento do ocorrido também foram agredido com cacetetes pela polícia. As mulheres que estavam com celulares foram alvo específico de agressões, e dois celulares foram roubados pelos policiais. Algumas das mulheres que tentavam fugir eram perseguidas e derrubadas e não conseguiam sair das agressões dos policiais, caídas no chão apanhavam com cacetetes e chutes, enquanto outras voltavam pra colocar seus corpos como escudos para tentar protegê-las e tirá-las dali. Essa cena se repetiu sucessivamente, e em meio a espancamentos com cacetetes as mulheres conseguiram chegar até as proximidades do Hospital de Clínicas, quando os policiais finalmente dispersaram.
Em nenhum momento companheiras ficaram para trás, conseguimos nos reunir em segurança para escrever este relato e para chamar a solidariedade de todas as pessoas que possam nos apoiar neste momento. A feira está programada para continuar suas atividades na segunda feira (02/11/15), no mesmo local onde ocorreram essas agressões. Considerando que mulheres chegarão desavisadas do ocorrido, temos que nos fazer presentes e precisaremos de todo o apoio possível. Começaremos o dia com uma roda de conversa sobre essa situação. Precisamos da presença da maior quantidade de pessoas possível para garantir a continuidade da feira nesse último dia. É assim que a gente revida, não nos calando e resistindo juntas não apenas na disputa pela rua e o espaço público mas também contra um sistema que não admite a auto-organização de mulheres e que se sente ameaçado pela nossa existência insubmissa. Foi escancarado o acréscimo de ódio que a misoginia teve nesse episódio e sentimos que isso precisa ser enfrentado pela nossa sobrevivência, por todas nós que vivemos na guerra desse mundo contra as mulheres.

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