Estadão, Black Bloc e a Lei Geral da Copa: a quem serve o sensacionalismo?

O Estadão não está só: desinformação, criminalização dos movimentos sociais e Black Bloc já compuseram a capa da Veja em 2013

Em geral, recomendo cautela ao compartilhar material da “grande mídia” – essa que exerce o oligopólio da comunicação de massa no país, sendo em grande parte responsável por pautar os temas e o viés das discussões da sociedade brasileira. É a tal da “opinião publica(da)”.

Mas quando o título é estapafúrdio e sensacionalista, por favor, redobre a cautela. Não contribua para espalhar a desinformação.

O Estadão publicou reportagem com o seguinte título: “Black blocs prometem caos na Copa com ajuda do PCC”. O detalhe é que o texto não traz qualquer fato que corrobore a informação do título, tampouco o vídeo que o acompanha – como esclarece esse artigo.

Pra piorar, o jornalista que assina a reportagem é Lourival Sant’Anna, declarado culpado pela justiça por fabricar reportagens. Convenhamos que Black Bloc seria um prato cheio para tal postura. Mas, como divulgou a página no Facebook Black Bloc SP Fase III e repercutiu o Jornal Brasil de Fato, “não tem como o black bloc dar entrevista porque o black bloc é tática de manifestação, e não um grupo organizado. Não se deixe levar por declarações falaciosas do Estado de São Paulo e derivados”.

A pergunta que fica é: por que o jornal, e o jornalista, se prestam a esse papel? A quem interessa? Acho que todo mundo concorda que há um abuso de brutalidade das forças repressivas do Estado no nosso país – o que ganhou destaque a partir de junho do ano passado (lembrando que a tal da “grande mídia” precisou ter 8 repórteres feridos em um protesto para denunciar a violência policial, abrindo mão de seu discurso de criminalização dos movimentos sociais – postura surpreendente, e da qual já parece ter se recuperado). Semana passada, pra variar, a PM desceu o sarrafo nos indígenas e demais movimentos sociais que reivindicavam seus direitos e denunciavam os abusos relacionados à Copa. A versão oficial legitimou a ação policial: “É a imagem do Brasil que estará em jogo”, ressaltou Dilma, avisando ainda que “vai chamar o Exército”, imediatamente, quando os governadores pedirem ao longo do mundial de futebol. “Não vai ter baderna.”

Em resposta à ~reportagem~ do Estadão, o ministro da justiça declarou que o peso da lei recairá sobre “quem cometer abusos” durante a Copa, e que “o governo está monitorando todos os setores considerados estratégicos” (não tão coincidentemente a entrevista foi dada à Agência Estado). E olha que a lei não anda lá muito leve, é praticamente um peso-pesado: me refiro à Lei Geral da Copa, que abre brecha pra ampla criminalização dos movimentos sociais – e o uso das forças armadas contra a própria população.

Mas, para além da força da lei, a força do autoritarismo sem lei em nome de uma suposta ordem já está recaindo sobre diversos manifestantes, arbitrariamente intimados a depor “para averiguação”.

Deu pra sacar a trama? Trata-se de justificar, antecipadamente, o que está por vir. Lá na minha terra isso se chama “preparar o terreno”. Não sejamos coniventes.

Fique atento. E forte.

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